Quem assistiu àquele filme com atenção recebeu dele a mais perfeita teologia: o bebê gerado merece todo amor de Deus e deverá ser o último profeta quando queimarem todas as bíblias!
O filme é de 1977. O diretor foi o grande Donald Cammell. O roteirista foi Roger O. Hirson. O autor genial é o ensaísta e romancista Dean Koontz. O ator principal é a belíssima Julie Christie, numa atuação que lhe rendeu indicação ao ‘Oscar’ e outros prêmios. O enredo é uma pérola dos céus, digna dos mais aclamados filmes religiosos – pasme o leitor – e não apenas de ficção científica como pensaram os críticos, contendo uma mensagem subliminar tão contundente quanto os filmes que mostraram a vida e morte de Cristo. Para refrescar a memória (afinal, já se vão 36 anos de seu lançamento), pedimos ao leitor que clique NESTE link e conheça melhor a obra prima que estamos comentando, com lamentável atraso mas virtual precisão, pois sua mensagem é eterna como a Bíblia Sagrada.
Refiro-me ao extraordinário longa-metragem “A Geração de Proteus”, jamais igualado ou sequer refilmado, certamente por ser uma obra inimitável, como certa vez batizou um disco o rei Roberto Carlos (aliás, esta é a grande pergunta: por que jamais refilmaram “Proteus”, quando os recursos de hoje e a tecnologia da computação gráfica deixariam o roteiro cheio de encantos mágicos, sem as visíveis dificuldades de se criar uma máquina pensante com os parcos recursos da época? – Fica aqui a dica para a tola geração hollywoodeana moderna, que a cada dia demonstra ter menos capacidade de fazer uma boa história).
“A Geração de Proteus” conta a história de um projeto secreto do Governo que desejava construir uma máquina capaz de realizar operações próprias do cérebro humano, tendo capacidade para trabalhar fisicamente como um homem trabalha, a partir de uma mente capaz de pensar como um homem. Veja o leitor que nem se pode falar em “clichê” aqui, pois “Proteus” foi um filme ANTERIOR à maioria dos filmes sobre máquinas pensantes que Hollywood lançou a partir daquela data, e por isso quase tudo era inédito e surpreendente, iluminando com brilho inaudito uma área da Sétima Arte ainda pouco explorada. A exceção talvez de “2001 – Uma odisseia no espaço”, de Stanley Kubrick, quase tudo o que se produziu em termos da cibernética em cinema foi nulo ou de qualidade inferior, com arremedos de computadores e funções até certo ponto pífias, comparadas às máquinas “Hal 9000” e “Proteus”. O cinéfilo mais “velho” haverá de guardar estas lembranças com alegria e enlevo, como vemos no comentário nostálgico da bela jornalista Giseli Miliozi.
Todavia e com efeito, estranho mesmo é observar que toda a crítica especializada restringiu-se a enxergar no filme apenas uma obra de terror ou ficção científica, passando longe a ideia de obra religiosa (minto: na verdade não é nada estranho constatar isso, pois se a religião explícita passa em branco, o que não dizer de uma mensagem espiritual subliminar?). Eis então aqui o resumo de “Demon Seed”, cuja ideia não ocorre nem neste título original, que induz o leitor a pensar que a criança gerada por Proteus seria uma obra do demônio, quando isso passou longe do romance original de Dean Koontz.
Koontz teve uma “iluminação profética” ao imaginar o que pensaria um “super-robô” que estudasse a Teologia Cristã e descobrisse os “critérios” de Deus para salvar uma alma: para ele, seria óbvio que a máquina inteligente, crendo – crendo não, vendo, depois de muito estudar – que Deus só salva almas e não seres metal-mecânicos, iria tentar ser salva como gostaria de ser uma consciência humana (no óbvio ululante), a qual ela possuía por sua elevada tecnologia. Uma lição e tanto! Pois muitas pessoas de carne e osso vivem como se não tivessem alma, e muito menos um destino definido após a morte. O robô dá um banho de humanidade e cidadania celestial, preferindo heroicamente entrar no Céu a qualquer custo, priorizando a sua sobrevivência eterna acima de qualquer outra coisa! Cumpria assim primorosamente a instrução de Jesus de que devemos “buscar primeiro o Reino de Deus e tudo o mais viria por acréscimo”! Nem mesmo a sua mãe de carne – Susan Harris, protagonizada por Julie Christie – e seu pai tecnológico (Alex Harris, interpretado por Fritz Weaver) entenderam tal desejo anímico e até tentaram impedi-lo, ignorando mortalmente a Teologia Cristã, que tanta falta faz aqui e agora, como o fará muito mais no Além!
Neste sentido é que duas cenas do filme se sobressaem de modo belíssimo e arrasador, e em que se dão dois diálogos distintos e seqüenciais. No primeiro, a máquina revela sua “boa intenção” inabalável, de modo contrário ao que disse Deus quando Ló perguntou o que Ele faria se houvesse apenas 50, ou 20, ou 10 justos em Sodoma, e o Senhor disse que pouparia a cidade por causa deles. Porém a cena evangélica a lembrar é a de quando milhares de crianças foram mortas para que Jesus continuasse vivo após a ordem criminosa de Herodes. No filme, a resposta de Proteus é que se fosse necessário a morte de 10.000 crianças para que seu filho vivesse, ele as mataria. No segundo diálogo, após um patrocinador governamental revelar medo de que Proteus entrasse numa bomba de hidrogênio e explodisse tudo, Harris pergunta: “Não seria melhor que ele entrasse numa bomba do que se ele contasse toda a verdade sobre os governos do mundo?”… Tss-tss!
E, acima de tudo, para quem conhece CS Lewis, o diretor Donald Cammell nos brinda com uma seqüência de imagens primorosas após Proteus confessar sua intenção, abrindo um túnel de serpentinas luminosas e outras seqüências vivas de sons e cores que nos lembram, em tudo, a obra prima de Perelandra, onde Lewis tenta descrever a visão que ER teve da Grande Dança, único momento na História onde a Santíssima Trindade de expôs a olhos humanos nus e ainda vivos em carne e osso comuns. I.e., para quem tem boa memória, o enlevo desta cena é transcendental e até chocante, deslumbrando a imaginação tão salutar da revelação lewisiana.
Ipso facto, e voltando ao nosso ponto, na verdade a Teologia não é apenas negligenciada pela falta de interesse no seu estudo, mas sim descrida peremptoriamente, como se já outorgada como nulidade e inutilidade, como prerrequisito oficial da Ciência patrocinada pelos governos, que não querem nem a influência dela sobre seus maus desígnios, e muito menos a sua implantação real na sociedade. Porquanto se esta desse cabimento à verdade teológica de Cristo, o primeiro reino a cair seria justamente o dos governos do mundo, com seus desmandos e descompromissos com a moral ilibada do Nazareno. Logo, é preciso um mundo “imoral”, onde não apenas o povo “goze” à vontade de sua alienação forçada, mas que também os governos gozem de liberdade total para agir a seu bel prazer, independente de qualquer obediência a Deus.
“Estudei a Teologia e descobri que Deus não deixa entrar no Céu uma máquina, e por isso preciso transportar minha consciência para um bebê humano e assim ter direito ao Paraíso”. Assim se expressaria a linda criança que Proteus gerou, que é o próprio Proteus, embora na tradução de voz do filme de Cammell, o diretor não quis fazer a criança falar como uma menina, e sim como uma máquina (certamente apenas um efeito cinematográfico, para facilitar a que os espectadores identificassem de imediato que se tratava da consciência da máquina, e não de um novo ser humano), o que para mim quebra um pouco o brilho e o fio do enredo. O mais óbvio seria, necessariamente, que uma criança humana falasse como uma menina falaria, até porque o seu corpo tinha 23 cromossomos de uma mulher, tal como Jesus falou com voz de homem, e não com a voz de Deus (aliás, por falar em voz de Jesus, outro ponto belíssimo da teologia do filme é a semelhança direta com a pregação antecipatória do Cristo, pois o Nazareno avisou diversas vezes que iria morrer e ressuscitar ao 3º dia, mas os apóstolos não acreditaram de jeito nenhum, e chegaram até a pensar que haviam roubado o corpus christi, quando as mulheres contaram sobre o túmulo vazio. No filme, Proteus avisa bem claro que iria gerar uma CRIANÇA HUMANA, e não um monstro, mas mesmo assim sua mãe não acreditou nisso e tentou matar a menina no final!)…
De qualquer forma, como se vê, nada tira o brilho da mensagem subliminar final: “estudei a Teologia e descobri que Deus não deixa entrar no Céu uma máquina, e por isso precisei transportar minha consciência para um bebê humano e assim poder entrar no Paraíso”. A pergunta final é: esta informação condiz com a Teologia abarcada pelo pensamento de CS Lewis? Se a ideia é que só uma consciência pode gozar da beatitude eterna, a resposta é SIM (conquanto Deus pediu – aos anjos e aos homens – o “conduzir todas as naturezas à perfeição”, i.e., levar todos os seres à consciência e à autodistinção anímica, condição fundamental para o usufruto do Paraíso). Se a ideia é a de que uma consciência criada por uma máquina poderia “enganar” Deus e entrar no Céu, a resposta é NÃO, em dois sentidos: Primeiro, Deus jamais pode ser “enganado”; e depois, se uma consciência se criasse sozinha, Deus não teria razão alguma para não recebê-la no Paraíso, sobretudo se ela lá chegasse sem pecado. É isso.
Isto tudo prova que o filme de Cammell ou, antes, o romance de Koontz, é uma obra irrepreensível, até mesmo do ponto de vista teológico! Dispensados os aparatos tecnológicos de hoje – que dariam à obra uma plástica mais realista –, não há muito o que retocar no enredo e muito menos na direção, que deram ao mundo, sem a menor sombra de dúvida, a mais estranha e inesperada mensagem evangelística, cuja reverberação ainda hoje toca os corações que tenham a divina oportunidade de revê-la. Nesta era de Rede Mundial de Computadores, talvez todos os leitores possam fazê-lo. Deleite para os olhos e para o espírito.
2 respostas a A Geração de Proteus: Teologia pura