A inevitável necessidade da teoria

A grande massa humana prefere sempre, sem esforço algum, coisas que não exijam dela nada além de um divertimento ou um descansar após poucos segundos de atenção. Como então conduzi-la a descobrir o valor do conhecimento?

A infraestrutura que sustenta a realidade é muito exigente para permitir que subsistissem seres racionais tão frágeis como nós e ainda habitando o mundo tão-somente para curtir instintos e prazeres deles derivados. O modelo inventado pela “inteligência” humana que, neste quesito, nem chega a parecer inteligência, ultrapassou seu prazo de validade há séculos e já pode ser banido sem dó nem piedade, esperando uma nova Humanidade iluminada, onde mentes valham mais que corpos e organização valha mais que diversão.

No estado atual, onde a anarquia e a depravação imperam soltas, não restou nenhuma brecha para uma revisão criteriosa do comportamento e muito menos do saber por pensar e do pensar por saber, condenando todo o conhecimento acumulado ao lixão da mediocridade, e assim as questões do espírito, que sempre repousam sobre toneladas de reflexões, não têm a mínima chance de chegar aos ouvidos e consciências humanas.

É pois, desta feita, espantoso o lugar empoeirado e esquecido onde foram colocadas as reflexões mais caras à Humanidade, e sempre espantará a qualquer um que as veja ali e venha a saber que as pessoas se tornaram infelizes por mera negligência, forjada a partir da mentira de que a única vida que vale a pena ser vivida é a da carne.

Em nome disso ou em nome desta, nenhum conhecimento útil que não seja comunicado em 5 minutos, ou que não possa ser registrado numa única lauda, será sumariamente deletado e tratado como indigente, com sua voz retumbante a silenciar-se na lama das omissões. Mesmo um Guia de Sobrevivência em caso de uma catástrofe “natural”, ainda que avisada com bastante antecedência, correrá sério risco de jamais ser lido ou sê-lo apenas em suas partes destacadas; porquanto qualquer comunicação que se afigure demandar mais tempo será engavetada no cofre sem chave ou soterrada na amnésia absoluta.

A leitura de qualquer coisa não é um hábito do nosso tempo, e em países como o Brasil, este absurdo nem chega a ser combatido, uma vez que os próprios professores também lêem pouco, ou lêem apenas aquilo que se liga estritamente à matéria de seu magistério. Não é à-toa que ouvir professores de português dando entrevistas na TV é uma vergonha até para quem não se formou em letras, e os mesmos nem se envergonham de deixar a má impressão de ter conseguido o emprego via pistolão. Os antigos diziam: “Não há nada errado na Lei se quem falar errado for o rei”: a semelhança com pessoas vivas não é mera coincidência.

Até bulas de remédios também não são lidas, mesmo quando eles são do tipo capaz de gerar alergias sub-reptícias ou mesmo quando foram receitados para doenças graves (e note, estou falando para uma época onde as bulas são obrigadas a ser escritas em linguagem popular e letras grandes, e onde o Ministério da Saúde pede a sua leitura, e mesmo assim passam como fantasmas dentro das caixas dos medicamentos). Quando muito, nos casos de moléstias mais sérias, o paciente ouve o médico e se dá por feliz quando o médico fala pouco ou diz que tudo está bem.

São exemplos práticos de uma realidade nua e crua: ninguém quer se envolver com qualquer coisa que exija compromisso demorado, e isto abrange um leque de coisas que vão da mera leitura de um livro até um romance que se encaminhe para um matrimônio. Com efeito, estamos na era do descartável e do imediatismo, como se ninguém fosse viver mais do que uma semana.

O problema ganha contornos megalomaníacos quando está em jogo a integridade física, psíquica e espiritual das pessoas, e quando as fórmulas salvadoras necessitam de conhecimento pessoal das teorias que permitiram suas descobertas. E se tal fórmula vale para ameaças à vida biológica, que subsiste sobre a matéria tridimensional e perfeitamente tangível, o que não dizer de um conhecimento necessário à proteção de uma ameaça espiritual? Ora; a materialidade é a menina dos olhos do ateísmo e de outras formas simplistas de enxergar o Universo, e os céticos de um modo geral – com honrosas exceções – são chegados a uma crença iletrada ou pouco trabalhosa, por se deixarem seduzir pelo aparente isolamento cósmico do homem e pelo sofrimento irremissível das pessoas (segundo julgam) inocentes. Os incrédulos geralmente só se interessam por leituras que reforcem suas descrenças, desde que não lhes tome tempo demais.

Ora; se até para conhecer fórmulas de escape de uma ameaça física o desinteresse em leituras mais longas é encontrado, o que não ocorrerá quando a ameaça for espiritual e necessite de muito mais “teoria” para visualização da salvação? Ou, doutra feita, se o labirinto onde a Humanidade se meteu for maior e mais perigoso que o do Minotauro, como ajudar a encontrar a saída para as pessoas que não acreditam que caíram nele ou que se alienaram a tal ponto que nem enxergam os rastros do touro-bípede e nem querem perder tempo lendo o Guia das suas vielas?

Mas cheguemos ao nosso labirinto. Estamos num planeta em franca decadência. Nada nos diz que a Humanidade encontrará uma saída para o problema da destruição da biosfera e muito menos para a explosão demográfica, ao menos do ponto de vista coletivo. Porém é provável que, do ponto de vista individual, se uma alma presumivelmente ainda pura se interessar por saber qual o estado em que se encontra o mundo e ela mesma, a única opção que resta é mergulhar fundo na “teoria”, i.e., procurar tornar-se letrada ou douta nas fontes silenciadas da verdade, por meio das quais algo mais verdadeiro se mostre e ela enfim perceba o quão longe se distanciou do estado original. Este é o único caminho.

Assim sendo, a melhor sugestão é lhe informar que o lugar onde a “teoria” mais verdadeira se encontra se chama “CS Lewis”, e seu primeiro ponto de parada para reflexão se chama “Mere Christianity” (ou, em nossa língua, “A Razão do Cristianismo”aba “Livros”com uma tradução em segunda pessoal do plural para janeiro de 2013). Aqui uma alma sedenta encontra uma fonte precisa e incontaminada, muito mais indicada do que a própria Bíblia, pois ela elimina os desvios e erros de interpretação bíblica que qualquer religioso comete. Seu autor não se formou em teologia e muito menos se ordenou a qualquer ministério pastoral, e por isso sua palavra tem a pureza da reflexão de uma alma escolhida pela Transcendência para “traduzir” e ampliar o conhecimento de Deus, iluminando o caminho para quem não pode ouvir os religiosos e muito menos os ateus. Diante de Deus, sozinha com seu autor (CS Lewis), em um lugar sossegado, mas somente se estiver disposta a dedicar todo o seu tempo à sua salvação pessoal (ou pelo menos o tempo necessário à leitura meditada naquele livro), aquela alma “sortuda” poderá conhecer a “Joy” – Alegria – que salvou Lewis, após a ampliação de sua consciência pela instrução recebida.

Após este “milagre” (muito maior nela do que em Deus), aquela alma deverá comparar tudo o que aprendeu ali com as linhas e entrelinhas da Palavra de Deus, além de buscar os demais livros de Lewis, sobretudo “Milagres”, ‘O Problema do Sofrimento’ e “O Grande Abismo”. Se ela chegar a tanto, não apenas o caminho estará mais iluminado e seguro, quanto a cada passo os riscos de uma desistência dela ficarão menores.

Nesta altura ela pode perguntar, com justiça: “Mas por que nos desviamos a tal ponto de perder até mesmo o interesse de nos salvar? (tudo isso depois de entender que toda a volumosa teologia ensejada por Lewis não era nada mais que o único Conhecimento necessário, o qual jamais deveria ter sido silenciado ou engavetado em nosso inconsciente, e ao qual todas as almas deveriam ter se aliado dentro do mundo corrompido!). Neste sentido, ficará bem clara a obviedade da teologia apresentada, como se ela fosse aquilo que jamais poderia ter saído de nós, do mesmo modo como o saber andar de bicicleta jamais se perde de quem o aprendeu uma vez.

No final, ficará patente e explícita uma verdade que espantará para sempre a qualquer alma que já o tenha aprendido, por sua aparente injustiça: por que as pessoas foram fugir de algo que ao final iriam julgar trabalhoso demais para recuperar, quando já viviam dentro dele e sem necessidade de ir buscá-lo? Por que trocaram o fácil pelo difícil, quando queriam só vida mansa?

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