Quando Jesus entrou no cenáculo e comeu peixe e pão, ali deixava a única prova de que Ele é Deus e que não há reencarnação, pois após a morte Jesus não se transformou em um fantasma…
Este artigo dá continuidade ao nosso artigo “Erro catastrófico no entendimento da idolatria”, publicado nesta Escola por este link: (https://www.e-a-t.info/erro-catastrofico-no-entendimento-da-idolatria/). Se o leitor não leu este último, favor ler o primeiro antes.
Nesta continuação, praticamente, apresentaremos o último grande argumento a favor da matéria tridimensional, último no sentido de vir espremido no mais sutil e inesperado esconderijo da Escritura Sagrada, no âmago das estrelinhas do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Acompanhe o presente raciocínio.
O artigo anterior mostrou que Deus não tratou a matéria como nós seres humanos a trataram, e, ao contrário do que se vê largamente pelo mundo (sempre os extremos, ou o desprezo ou a idolatria), Deus foi perfeito na criação e no uso da matéria, gerando-a em sua mais elevada imaginação e culminando-a em sua mais inefável glória.
Este ato estupendo de sua divina criatividade, ocorreu no corolário inevitável de sua santa saga transcendental, quando o Criador chegou a tal ponto de aceitar que a “reles” matéria, a aparentemente “imunda” matéria, iria se converter em sua verdadeira “mãe-salvadora” (aqui nada tem a ver com Maria, que não desmerece nenhum louvor), de um modo miraculoso e absolutamente surpreendente. Quem ou qual criatura algum dia chegaria a ao menos imaginar tal coisa? Ou em que pensamento tal coisa se passaria? Veja…A espiritualidade natural do ser humano sempre o levou à dicotomia do pensamento e ao reducionismo dualista das realidades captadas pela mente danificada no Éden. Daí se deduzem as dualidades de preto e branco, frio e quente, alto e baixo, magro e gordo, anjo e demônio, sagrado e profano, brilhoso e opaco, denso e rarefeito, matéria e espírito, vivos e mortos, etc. E então, a prosseguir neste raciocínio simplório das duplicidades, praticamente nenhuma outra realidade teria vez, e o próprio Deus (que não é uma dualidade, mas uma trindade), ficaria em sérias dificuldades para se fazer entender, mesmo que chegasse a se materializar no nosso meio.
O problema é que dada a tendência reducionista assimilada pela concupiscência adâmica, a mente humana conspurcada iria inevitavelmente “deduzir” (erroneamente) que “QUEM ESTÁ VIVO É MATÉRIA DENSA, E QUEM ESTÁ MORTO É ETÉREO OU FLUÍDICO”. Isso também acabaria levando a Humanidade perdida a achar que quem estivesse na matéria densa seria de algum modo “inferior” a quem estivesse na matéria fluídica, ou, noutras palavras, que um espírito seria sempre superior a um ser humano em carne e osso. E assim, sem atinar – ou sem vir à lembrança – que a realidade poderia não ser dualista, e que o Universo poderia ser muito mais complexo do que aparenta (ou que haveria muito mais coisas entre o céu e a terra do que…), todas as outras realidades correriam o risco de cair no esquecimento ou na pura cegueira, e assim a revelação de uma realidade superior estaria irremediavelmente prejudicada.
Tendo Deus então feito uma criação muito mais profunda e complicada do que jamais homem algum pensou, Ele defrontou-se com este terrível drama após a Queda, a saber, “como explicar ao Homem decaído e dualista que Eu criei muito mais coisas além da pura e simples dualidade? (porque Eu mesmo não sou apenas dois)… Bem, tenho certeza que um belo dia a multidimensionalidade irá aparecer na cara deles, e Eu mesmo me tornarei escândalo para eles”.Passados os bilhões de anos do início da Criação terrestre e os milhões desde a Queda, Javeh também apresentou a dualidade aos homens primitivos, incluindo aí até o povo de Israel, escolhido para servir de “exemplo de martelamento” à toda a Humanidade, como explicou Lewis. Assim, no Velho Testamento, se encontra a Lei de Talião e as várias instruções dualistas do Deus-trino, que ainda não tinha apresentado sua trindade na Terra. A dualidade da Lei servia ao homem pouco evoluído mostrado no Velho Testamento, cuja cabeça só entenderia mesmo “olho por olho, dente por dente”.
Quando o próprio Deus-trino veio a Terra no corpo de um carpinteiro pobre de Nazaré, ali se aproximava da Humanidade o confronto e o choque antidualidade promovido pela trindade de Cristo, e este choque só poderia se dar mesmo no anúncio da Ressurreição, que ninguém entendeu antes de ocorrer, nem mesmo os apóstolos que tinham ouvido esta promessa da boca do próprio Jesus. Antes do grande e glorioso dia da Ressurreição, os discípulos ainda pensavam que os vivos eram densos e os mortos diáfanos, ou fluídicos, como diziam todas as histórias de fantasmas narradas por todos os povos do mundo.
Mas então os discípulos, junto com Maria, tiveram que se esconder naquela época, devido às perseguições dos judeus ditos piedosos, “cegos” pela dualidade espírito/matéria. E então foi o tempo dos esconderijos e das igrejas subterrâneas, antes de passarem a ser igrejas domésticas como o Livro de Atos mostrou. O Novo Testamento então registra uma ocasião especial nessas “missões secretas”, a qual ficou conhecida como a “missão no cenáculo”. Os discípulos estavam reunidos em segredo, e muitos ainda desanimados pela cegueira das dualidades.Então, no esconderijo de portas fechadas, um fantasma atravessa a parede e se coloca no meio deles, e ainda ousa dizer “A Paz esteja convosco!”. Para a maioria, nem a voz reconheceram! (Aliás, com a “reconstrução perfeita” do processo ressurrecional, a própria voz de Jesus ficou mais pura e equalizada, e poderia de fato causar alguma estranheza para seus ouvintes). E Ele foi obrigado a ouvir os céticos dizerem: “Se eu não vir as feridas, não acreditarei que este fantasma é meu Jesus”! Outro ainda acrescentou: “Mas se eu não colocar meu dedo nas cicatrizes, direi que estamos sendo visitados por um espírito de defunto!”. E Jesus foi obrigado a acudi-los às pressas e dizer: “Sou eu, venham ver! Toquem nas minhas cicatrizes à vontade!”…
Para o cético-mor, Tomé, Jesus fez uma pergunta e deu um esparro: “Por que me viste, creste? Felizes os que não viram e creram” (aqui falava basicamente de sua mãe). “Não sejas incrédulo, mas crente”. Porém, após este esparro, Jesus sabia que muitos ainda não acreditavam. O demônio podia se transformar em anjo de luz e enganar todo mundo, até com falsas cicatrizes! E então chegou o grande dia de acabar a dualidade, dia este previsto por Deus desde a Queda de Adão.
Jesus explicou, “socorrendo os desconfiados”: “Vocês não têm nada pra comer aí?”… Porque Ele sabia que todos eles sabiam que um fantasma não pode comer nada! Eles disseram: temos aqui pães e peixes, como no dia do milagre da multiplicação. Então Jesus sentou-se à mesa com eles e se serviu dos pães e dos peixes, e ainda prometeu voltar à mesa com eles no Paraíso, quando todos eles já tivessem deixado a carne pobre da dualidade.
O choque estava dado. Não era o choque de um fantasma comer peixe sólido. Era o choque de verem, pessoalmente, quebrada, uma crença milenar de seu próprio povo, e de resto, de toda a Humanidade. Então, a rigor, a pergunta era: quem é Jesus? Ou, O QUE era aquele ser que atravessou paredes e entrou no cenáculo? Podia ser um homem, mas homens não atravessam paredes! Podia ser um fantasma, mas fantasmas não comem peixes!A matéria “salvou” a divindade de Cristo! E por quê? Ora; se um homem não pode atravessar paredes, e um fantasma não pode comer peixes, então foi a “materialização do fantasma” que permitiu a Jesus comer peixes! Foi a “densificação” do fluido etéreo de Jesus que mostrou quem Ele realmente é, e que a Santíssima Trindade não é nem homem nem fantasma! Foi ali no cenáculo que Jesus realmente APRESENTOU A SUA NATUREZA DIVINA, ou uma parte – ainda que minúscula – da inteireza da Trindade, e nos ensinou que nem o fluido nem a matéria devem ser desprezadas, porque ambos constituem elementos ontológicos do próprio Deus!
Neste caso, fica muito mais patenteado e endossado o uso da matéria para representar seres humanos, estejam eles no plano natural ou sobrenatural! Estejam vivos ou mortos, lembrando que NINGUÉM ESTÁ MORTO PARA DEUS, como diz Lucas 20,38. Se o Senhor usou a própria matéria para se apresentar como o Deus verdadeiro que Ele é, então como nós não devemos usar a matéria para representar santos e santas, anjos e arcanjos, ou até cenas bíblicas como as 7 Estações da Via Sacra, por medo de estarmos usando algo indevido que é devido, ou algo pecaminoso que é requerido, ou algo que nos dará a visibilidade que o etéreo não nos dá?
Creio que isto coloca Deus no cenáculo do Céu, que é o próprio ateliê do Artesão, ou a própria oficina do Escultor, para nos ensinar como construir uma imagem que chegue a representar um Deus que um dia vai comer peixe e pães conosco, e onde todos os fantasmas que um dia fomos estarão também presentes ao banquete celestial. Se até ali não tivermos aprendido o quanto Ele se devotou a criar a matéria, a usá-la em Seu próprio benefício e até a entronizá-la no Seu Reino, então é porque a mentira do grande farsante fez morada em nós, e aquele ali ainda não é o nosso lugar ou nosso tempo. Precisaremos voltar depois para comer peixes.