Quando a melodia é acompanhada e destacada por um sinal sonoro cadenciado e igualmente melódico, forma-se uma das mais belas aglutinações da estrutura da música, e por isso o fenômeno é tão raro e pouco destacado pela crítica especializada…
Existem músicas extraordinárias de vários modos e por diversas razões. Estas razões estão direta e invariavelmente associadas à beleza da melodia, parte mais importante de uma canção (poema musicado). Este artigo analisará um tipo raro de canção, aqui chamado de “música com marca-passo”, devido a inserção de um sinal sonoro igualmente melódico e belo, cuja incidência nos três fatores componentes de uma canção sempre dá a ela um caráter de extrema raridade estética no cancioneiro mundial.
Tecnicamente, é uma linda canção em cujo enredo se ouve um sinal melódico no seu decorrer, repetitivo mas nem por isso enfadonho, pelo contrário, é no sinal que reside toda ou grande parte da beleza da melodia, a qual, sem o sinal, perderia praticamente todo o seu brilho. E não é necessário ser um maestro, músico ou expert para identificar o sinal, pois ele se ajusta tão perfeitamente à linha melódica, ao ritmo e aos arranjos que nenhum ouvinte, de sã consciência, teria dificuldade em apontar o “marca-passo”.
E há diferença entre os marca-passos. Há alguns que são ligeiros, e só podem ser ouvidos com muita atenção e acuidade auditiva, porque fazem parte da backing-track da melodia (este é o nosso caso 1*). Há marca-passos bem evidentes e sonoros, que compõem tão majestosamente a melodia, que a música se tornaria vã e pobre sem ele (este é o nosso caso 2*). E há um marca-passo especial, que nem faz parte da música, mas que dá a ela um brilho tão diferenciado que a melodia ganha uma estética arrebatadora e um tempero prodigioso, que faz qualquer um ter prazer com sua musicalidade (este é o nosso caso 3*) – Veja os 3 casos abaixo.
Com efeito, nós mesmos, e todo o pessoal do StudioJVS (studiojvs@gmail.com), envidamos ingentes esforços na busca dessas sublimes canções, e agora mesmo só encontramos poucas delas para servir de exemplo do que estamos expondo aqui, e será indispensável ao leitor ouvir as referidas músicas ANTES de continuar esta leitura. Para isso, clique no seguinte link e ouça a primeira, de acordo com o que foi descrito dos “casos” 1*, 2* e 3* lidos acima.
Ouça agora neste link: http://www.youtube.com/watch?v=ePQe5E69INg
Do caso 1*, referente ao hit “The one that got away” (“Aquele único que se foi”) da belíssima cantora-revelação Kate Perry, dizemos que a canção tem o marca-passo rápido, perfeitamente aglutinado à melodia, e neste caso 1*, sem ele ela não perderia suas notas, mas perderia grande parte da beleza sinalizada pelo seu marca-passo. Ela aparece aqui como um sininho ornamental da backing-track, provavelmente pinçado via piano eletrônico, e em alguns momentos quase fica eclipsada pelos demais instrumentos do ritmo, inclusive cordas e teclados. A canção é bem dançante mas profundamente triste, como sugere o vídeo-clipe oficial divulgado no Youtube. Creio que dificilmente alguém não gostará desta música, mesmo alguém de idade avançada ou pouco avançada em termos histórico-críticos. De fato e de direito, Kate Perry merece todos os encômios e prêmios a ela outorgados, numa gratíssima revelação da música pós-moderna.
Ouça agora neste link: http://www.youtube.com/watch?v=kutTB0oaB-k
Do caso 2*, referente ao antigo sucesso do grupo Majority One, “Rainbow Rocking Chair” (“Cadeira de Balanço do Arco-íris”, música que serviu de vinheta de abertura para um famoso telejornal), dizemos que a canção tem o marca-passo metódico, bem rítmico, com três ou quatro pontuações introdutórias e um sinal mais forte no final, no qual cada estrofe se intercala mais belamente à estrofe seguinte. De fato, o marca-passo aqui não permitiria uma supressão do final, pois seu último sinal é que dá forma ao trecho melódico, podendo este dispensar, com certo prejuízo, os sinais anteriores ao último. Feito de modo analógico e mais acentuado em volume que os demais, o último sinal bate forte na tecla de nossos tímpanos, enchendo-os de encanto com uma visão mística do Arco-íris sagrado das lendas, o qual seria contemplado a partir de uma bela cadeira de balanço da Era Vitoriana, postada ao centro de um jardim secreto qualquer. Como alguns fãs da era Majority dizem, “não é qualquer um que vislumbra o Arco-íris desta música, mas ninguém deixará de sentir profunda ‘comoção’ ao ouvir uma melodia que certamente será tocada até que Deus faça reluzir o último sinal da Nova Aliança”.
Ouça agora neste link: https://www.youtube.com/watch?v=ZsJIBUdqFq0
Do caso 3*, referente a uma das melhores músicas da baixinha, mas belíssima cantora mexicana Fey (a qual poderia ter feito muito mais sucesso no Brasil, como fizeram a Shakira, a Gloria Estefan, a Thalía e a Jennifer Lopez), chamada “Dos Corazones” (Dois corações); dizemos que a canção tem o marca-passo mais perfeito de todas as músicas que conhecemos, e, por isso mesmo, é o exemplo-modelo de marca-passos. Na música em questão, os sinais do marca-passo são tão estonteantemente belos e adequados à melodia que esta simplesmente perderia todo o arcabouço estético se a eles dispensasse, como já ocorreu em versões cover ao vivo, onde os saudosistas desta canção a ouviram frustrados, e desejando retornar para casa com urgência e re-escutá-la em seu CD-Player. O sinal idealizado e inserido na melodia tem vida própria, trazendo sensações paradisíacas inauditas, que ora lembram o sonar de um submarino em missão secreta, ora lembram a dança de pequenas fadas da floresta, que vêm tocar seus sininhos para embelezar o luar (luar, aliás, que está bem presente na poesia deste hit). Além da linda melodia, a letra desta canção também é linda, e conta a história de um casal que nasceu um para o outro, vivenciando uma história de amor que tem a lua, o mar e a natureza por testemunhas. São dois corações tatuados, feitos para ser “par”, e com o final feliz dos contos de fada, apesar de constituir uma melodia até certo ponto tristonha.
Há ainda outras várias músicas com marca-passo, mas que não me vêm à memória agora, e que o leitor poderá procurar no Youtube ou em sua própria memória. Por exemplo, eu me lembro de uma canção do SNAP, da década de 90, chamada “Oops Up”, a qual não é muito bela, mas possui um marca-passo muito interessante, por imitar quase a chiado de um rato ou de um hamster (confira neste link: https://www.youtube.com/watch?v=O_C8-5L989k). Uma outra canção, mais recente, muito bem cantada e executada pelo grupo “Lighthouse Family” e intitulada “Loving Every Minute”, traz um marca-passo contundente, ou pontiagudo, como se estivesse fazendo cortes de faca na canção, mas na verdade dá-lhe estonteante ornamento, colorindo seu ritmo da mais enlevada sonoridade, e fazendo um perfeito convite para dançar e sonhar com um grande amor a cada minuto (ouça esta canção no link: https://www.youtube.com/watch?v=igMR3VFnjVQ).
Finalmente, nada perderá, e pelo contrário, tudo terá a ganhar, quem se dedicar a se deliciar com as canções aqui sugeridas, e o StudioJVS gostaria muito de encontrar leitores que soubessem procurar outras músicas com marca-passos, e temos certeza de que já ouvimos outras, mas a memória (e nossos arquivos) não nos ajudaram, até agora, a chegar a elas. Se o leitor encontrar mais alguma música dessas, por favor escreva para nós (studiojvs@gmail.com). Reiteramos que o marca-passo geralmente faz as melodias ficarem muito mais belas, e entre este tipo de música estão, certamente, as mais encantadoras páginas sonoras da História. Encantando os ouvidos humanos e talvez até dos animais, elas enriquecem, para sempre, a biodiversidade auditiva da Terra.