A QUESTÃO DO RESPEITO PRESSUPOSTO

Todo mundo fala de respeito ao próximo, que o respeito é essencial, que respeita a todos os seres humanos e coisa e tal, mas ninguém cumpre o respeito subentendido no amor ao próximo

Em nossa época de extrema hipocrisia, semi-pacifismos e descarada demagogia, não falta quem não venha a nós e se declare defensor do respeito ao próximo, incluindo-se no rol daqueles que respeitam ou mais respeitam os seus semelhantes. Até aí nenhuma de novidade na corte, e se não fosse a incômoda irritação provocada pela Palavra de Jesus, o assunto morreria aqui. Porém o Senhor foi mais longe, como sempre.

Tomemos por base a questão do adultério. Só se falava em pegar uma mulher infiel num tremendo flagra e levá-la ao juiz (ou ao sacerdote) e esperar a sentença de morte, geralmente por apedrejamento. Jesus veio e mostrou três novas óticas, uma em quem pratica, outra em quem julga e outra nEle, como Juiz de Deus. (1o) Para um homem que julga o seu próximo, Ele disse que tal sujeito deveria, de fato, era tirar a trave de seu olho, antes de ver o cisco do adultério de quem foi pego no flagra. (2o) Para quem pratica o ato, Ele disse que o adultério já foi praticado no momento em que uma pessoa olha para o(a) próximo(a) com desejo no coração, sobretudo homens que devoram mulheres com a visão. (3o) Para quem vai julgar a ambos, atribuição exclusiva dEle mesmo, o perdão é infinito, se e somente SE houver genuíno arrependimento e abandono do vício.

Pronto. São estes os novos postulados do entendimento do pecado carnal. Mas este não é o tema do presente artigo, até porque ele já foi bastante explorado. Nosso assunto é o RESPEITO ao próximo, para o qual todos dizem ser diligentes e solícitos. Vamos examinar isto.

Virou clichê enjoado e repetido ad nauseam qualquer um sair por aí a declarar que respeita a todas as opiniões, e que todos merecem respeito. Até em assuntos de política, religião e futebol, todos saem com o jargão de que nesses assuntos o único jeito é RESPEITAR a opinião alheia, EMBORA isto não significa que concorde, etc. e tal. Há até mesmo uma grande máxima que orienta sociedades e organizações humanas nas quais se diz, para seus membros ou servidores, o seguinte: “Não exigiremos que todos aqui se amem, como deveriam se amar; porém se isto não for possível, exige-se pelo menos que todos se respeitem, sem exceções”.

Dita desse modo, a máxima parece contemplar bem o que Jesus estipulou, e se não fosse o teor do Evangelho, esta talvez fosse a sentença final das Relações Humanas neste Planeta. Todavia mais uma vez Jesus foi mais longe, como no caso do adultério. O raciocínio dEle para o caso do “olhar com intenção impura no coração” nos autoriza a deduzir o seguinte.

Se para um homem praticar o pecado da fornicação, nem precisará transar com a mulher, ou que bastará olhar e desejar uma transa (Mateus 5,28), então é lícito inferir que para um homem desrespeitar outro bastará “pressupor” no seu pensamento que “aquele cara é falso, ignorante ou mentiroso”. O contrário também é verdadeiro: para que haja o RESPEITO LEGÍTIMO, o indivíduo precisará considerar mentalmente e previamente as virtudes do próximo, pelas quais ele merecerá o respeito público ou exterior! Então, é forçoso deduzir que SEM o respeito prévio na mente, não haverá respeito ALGUM na contabilidade de Deus, pois se o respeito se der apenas no mundo EXTERIOR do semelhante, ele não respeita de fato ninguém. É assim que Jesus pensava, e por suas explicações do adultério é exatamente isto que devemos concluir.

Com efeito, nos voltamos para nós mesmos e perguntamos: “A QUEM respeitamos assim? A quem consideramos tão bem que o indivíduo nem precisa falar nada, ou fazer nada, e nós já lhe devotamos as mais honrosas impressões?”… Temo que a resposta seja mesmo NINGUÉM. Alguns poderão dizer: “um respeito assim só devemos devotar a Deus, pois é o único SEM pecado!”. Sim, é verdade. Mas se aplicarmos a regra a qualquer outra pessoa, esta regra também se volta contra nós e assim merecemos o mesmo tratamento. E este Deus que você diz ser o único que merece respeito, foi Ele mesmo que nos deu a regra chamada “áurea”, a qual declara: “Tudo aquilo que queremos que os outros nos façam, devemos fazer também a eles”. E agora?

O mecanismo é este: se você quer ser respeitado, deve respeitar todo mundo. Mas isso só acontecerá se você pressupor mentalmente um enorme respeito por virtudes e qualidades alheias que você nem chega a perceber no próximo (aquelas pessoas que estão ou vivem perto de você), e por isso a melhor regra é a do Evangelho, ou seja, crer que há um “deus” dentro do coração do próximo, mesmo que você não veja esse deus ou nem creia nisso. Se você agir assim, formará uma corrente INVISÍVEL de respeito recíproco, de tal maneira que erradicará do mundo todas as brigas por inveja, orgulho, desconfiança, ciúme, etc., e contribuirá para salvar o mundo. As pessoas lhe tratarão bem, como se você fosse um deus, e a multiplicação desta virtude formará um novo paraíso na Terra. Entenda: é um compromisso íntimo de crença nas virtudes alheias, crença que pensa, analisa e descobre (ela é, inexoravelmente, a única ferramenta capaz de levar alguém a crer intimamente em SUAS virtudes, gerando uma atmosfera de respeito, este sim, tão verdadeiro quanto Deus; é preciso DECIDIR mudar a forma de pensar sobre o ser humano, para alcançar este nível de bem-querença universal, absolutamente divinizadora do Planeta Terra).

Você dirá, como sempre, que tudo isto não passa de mais uma utopia evangélica! Sim, pode ser; mas se tratarmos as coisas de Deus como utópicas, estaremos apenas cobrindo mais ainda o mundo da escuridão que já o domina há milênios, e nós dentro dela! E nesta escuridão morreremos, até o dia em que, sem enxergar nada, a única Luz passará despercebida. Aliás, esta escuridão já está nas mentes que não enxergam Jesus no próximo, quando Ele mesmo disse que não O enxergamos no pobre e no excluído, ou “nos pequeninos” (Mt 25,40).

Por último, perdendo toda a sua popularidade, pare de dizer que respeita o próximo, pois se não pressupor este respeito previamente no nascedouro de seus pensamentos, não estará respeitando ninguém e coisa nenhuma, e certamente nem merecerá o respeito de Deus.

……………………………………………………………………………………..Prof. JV.

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