Não é um versículo da Bíblia que poderá valer além da Verdade quando o assunto é o conjunto da Revelação divina. A Igreja só pode chegar até onde alcança o versículo. A Verdade abarca tudo.
A interminável discussão entre a autoridade divina da Igreja Católica Apostólica Romana (doravante ICAR) e a “autoridade espontânea” das igrejas protestantes nos obriga a retroceder a histórias jamais relatadas ao cérebro humano, e a tatear no terreno sombrio da Filosofia pura, que não recebeu a mesma “autorização” da Teologia Cristã, deixando a Humanidade inteiramente às cegas nessa longa jornada da alma humana em busca do Caminho verdadeiro.
A discussão sempre começa com as duas faces da moeda teológica em conflito, a saber, quando a Igreja de Roma alega, com justa razão (leia Mateus 16,17-19), que “sua autoridade deriva diretamente de Jesus Cristo, O qual a entregou exclusivamente a Pedro, descartando assim que todas as demais religiões e denominações pudessem ter a mínima chance de interpretar as Escrituras com exatidão”. A mesma discussão também começa quando a igreja protestante, “separada da Graça de Deus desde a loucura de Lutero”, alega, com justa razão (leia II Pedro 1,20-21) que “nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação particular”, e por isso a rigor qualquer pessoa inspirada pelo Espírito de Deus poderia “traduzir” a vontade de Deus para o povo perdido.
Porém e com efeito, a realidade é que existe algo muito maior e mais antigo do que todas as Escrituras Sagradas do mundo, mais antigo do que todas as tradições humanas, e até mais antigo do que a própria existência da Humanidade na superfície da Terra! Ou seja: “tão antigo quanto o próprio Deus”. Chama-se “A Verdade”, e dela já podemos adiantar o seguinte: “Quando Jesus foi tentado, ele não usou nenhuma doutrina de igreja ou encíclica papal. Ele não usou nenhuma orientação de magistério eclesial, nenhuma teologia, nenhuma filosofia patrística. Ele usou simplesmente a escritura, curta e grossa, da Verdade, verdade que transcende e antecede em milênios tudo o que a igreja veio a conhecer depois do Pentecostes”.
E mais: a Verdade (sempre grafada com inicial maiúscula), nos obriga a enveredarmos pelo seguinte atalho providencial, cuja omissão causará inexoravelmente a cegueira ou o não entendimento deste ponto de vista.
A Verdade, “curta e grossa e profunda”, exigirá que admitamos o nascimento e a existência de verdadeiros “gênios” entre nós, dos quais parodiaremos a lembrança do “gênio azul” do conto “Aladim e a lâmpada maravilhosa”, revisitado por um “remake” dos estúdios Disney em 1992. Com efeito, o poder de discernimento e raciocínio dos gênios é tão distinto e superior ao entendimento dos “mortais comuns do cotidiano” que nem adiantaria fazer comparações frívolas, ou mesmo mais sérias, porque o mortal comum não pode captar o “mortal superior”, do mesmo modo que um peixe não pode entender o que é “viver num ambiente seco”, ou um bêbado não pode entender o estado sóbrio, exceto quanto ele mesmo está sóbrio.
Mas o simples admitir a existência de gênios é problemático, pois a rigor QUEM poderia saber quem é o gênio, exceto outro que fosse gênio? (Quem poderia entender o mundo molhado dos peixes, a menos que fosse peixe ou sereia?); ou COMO um gênio da Verdade, consciente do maior de todos os pecados – a soberba –, iria revelar-se gênio, quando só outro gênio poderia detectá-lo? E para que revelar-se gênio, quando ele sabe que está num planeta que despreza, persegue e até manda matar “gênios”? Eis porque precisamos insistir que o drama crucial da Verdade, ou o drama terrestre da Verdade de Deus, está ele mesmo obstaculizado já no seu nascedouro, porquanto enfrenta o nó górdio da sua própria incomunicabilidade! Isto é, seu maior inimigo é sua própria impossibilidade de revelar-se, enquanto habitar um planeta com o nível de desconfiança alheia, nascida desde o primeiro pecado humano.
É provável que a própria igreja cristã, lá pelo terceiro ou quarto séculos, tenha percebido que a Verdade está bloqueada pelo anteparo intransponível da descrença e pela ignorância até certo ponto involuntária da mente comum, e assim decidiu oficializar uma doutrina que já vinha se imiscuindo desde a Festa do Pentecostes, a saber, uma doutrina que legitimasse e autorizasse os sucessores dos apóstolos como autoridade única a ser ouvida, dada a impossibilidade de contar com os gênios cristãos, todos em silêncio obrigatório advindo da humildade verdadeira que conhecem melhor que todo mundo.
Todavia e contudo, qualquer mente comum pode perceber agora que, o sacerdócio autorizado pelo Cânon e o silêncio dos gênios, não impedem a realidade do nascimento e da existência de gênios (tal como o ateísmo não impede a existência de Deus), o que dá à questão – e ao próprio Deus – um drama cósmico sem fim! Porquanto o Criador, maior portador da Verdade, vê-se impedido de passar a Verdade ao nosso planeta (porque ninguém a entenderia e muito menos aceitaria) e vê-se obrigado a acatar a ideia de criar um sacerdócio único, autorizado a pregar e interpretar a Bíblia, sob pena de ver a Humanidade inteira morrer sob toneladas de mentiras sedutoras e açucaradas. Mas isso só aumenta o drama. Senão vejamos.
Certo dia um aluno perguntou: “Professor, onde estaria o erro da Igreja Católica Apostólica Romana em determinar que SOMENTE OS PADRES ORDENADOS podem interpretar corretamente as Escrituras Sagradas? (Como se Deus tivesse tapado sua santa boca com um zíper e somente os padres pudessem ‘subir’ até Ele e abrir o zíper). O senhor pode explicar isso?”… (Esta pergunta e sua resposta serão tema de um vídeo que nosso Canal publicará em breve, chamado: “Cuidado: Erro perigoso da Igreja Católica!”).
Ora; após entender e ver este drama cósmico, a ICAR se viu obrigada a criar o discurso perigoso da autoridade exclusiva do sacerdócio católico na interpretação da Bíblia, como se Deus deixasse, no meio de um mundo cego, um único olho de um único sujeito que falasse às multidões, ou que falasse para quem tem um olho só. Então, neste caso, caberá a pergunta óbvia: “e se houver uma guerra ou uma praga onde todos os padres morram? Ou então, se os padres forem arrebatados antes do fim do mundo? Ou pior: e se todos os padres se entregarem ao demônio, como agora na ‘Era do antipapa Bergoglio’?… Assim, neste caso, QUEM irá conduzir o rebanho restante?”. Logo, a conclusão lógica é que QUALQUER UM pode ler as Escrituras e entender numa boa (mas somente se Deus realmente quiser que tal leitor O entenda), pois a divina luz da Bíblia depende exclusivamente de Deus, e não de intérpretes humanos, quase sempre “meio cegos” e tendenciosos. Enfim, entender a Bíblia depende de Deus acender a Sua lâmpada (Salmo 119,105), e não de meia dúzia de intérpretes da Lei, geralmente proselitistas, como no tempo dos fariseus do Judaísmo!. Este parágrafo resume a realidade pontual deste planeta, neste tempo chamado de “Era da Incerteza”.
Algum tempo atrás a sociedade assistia um comercial muito bem feito, onde a mensagem era: “Nada substitui o talento!”. Como todas as boas mensagens permitidas por Deus, esta também é eterna como a Bíblia, porque também faz parte da Verdade divina. E ela não esconde outra verdade dela derivada: “Nada substitui o gênio”. Com efeito, a autoridade canônica não substitui a genialidade humana. O ministro religioso, por mais canônico e ordenado que seja, não recebeu a mesma iluminação do gênio (sequer teve sua ‘genética’ favorecida por estranhas ‘coincidências’). Pelo contrário, o sacerdote canônico deve sempre pedir o parecer do gênio – em qualquer assunto –, cuja iluminação ninguém mais recebeu”.
Neste caso e nesta hora oportuna, será salutar oferecer uma “lista de gênios” para ilustrar melhor o presente argumento; mas então, como não sou gênio e não consigo enxergar como os gênios, não sei se esta Lista é perfeita ou faz justiça aos nomes nela elencados ou nela ausentes. Vejamos:
Exemplos de gênios: Na Física, Albert Einstein; na Ciência do Eletromagnetismo, Nicola Tesla; na Filosofia brasileira, Olavo de Carvalho; na Teologia Cristã, C.S. Lewis; na Psicossociologia moderna, G.K. Chesterton; na Sociobiologia, Rupert Sheldrake; na Cosmologia, Brian Greene; na Sétima Arte, James Cameron; na música instrumental moderna, Egberto Gismonti; no futebol, Edson Arantes do Nascimento; dentre outros, para não tomar tempo do leitor com uma lista enorme.
Isto posto, ou seja, oportunizando uma visão mais próxima de que espécie de “talento” estamos evocando aqui, explicamos que “o gênio”, conforme o significado aqui utilizado, possui não apenas uma mente brilhante em todos os sentidos (sobretudo a vivacidade do raciocínio e a dinamicidade da memória), mas também um componente genético trazido do berço e da própria “manufatura anímica” do Criador, o qual, por pura liberdade pessoal, compôs aquele conjunto “espírito, mente e corpo” com elementos de maior qualidade de seu arsenal criativo, deixando no ar uma sensação de injustiça na cabeça dos não-gênios (sobre esta “injustiça”, você deve interromper a leitura deste artigo aqui e ler, com urgência, o trecho bíblico de Romanos 9,11-24: ele lhe mostrará a infinita liberdade de Deus em criar gênios e não-gênios).
É óbvio que as qualidades do gênio não se resumem somente a estas questões de raciocínio e memória especiais. Há sim gênios que possuem, inclusive, poderes vistosos de paranormalidade, tais como telecinese, psisoquinestesia, levitação e até telepatia. Porém tais poderes não interessam ao presente argumento, não apenas pela quantidade de charlatães que nos enganam neste sentido, mas pela utilidade do talento para a teologia cristã e para a interpretação bíblica que evocamos neste artigo. O que nos importa aqui são os gênios que enxergam a Verdade de Deus com precisão absoluta e abrangência micro e macro cósmicas, para explicar que o plano de salvação das almas deveria ficar a cargo, não de homens autorizados pelo Cânon de uma determinada igreja (mesmo uma igreja fundada por Jesus), mas pela iluminação e inspiração divina que o gênio recebe diretamente do Criador.
Neste caso, o que a Igreja de Jesus (a ICAR) deveria fazer era convocar, oficialmente, durante toda a história dos papas, os gênios cristãos espalhados nos quatro cantos do mundo, para fazê-los assessores dos papas, únicos, afinal, capazes de ir além da visão proporcionada pelos longos e demorados estudos teológicos do magistério católico. E aqui fica claro que, para que os gênios fossem realmente “úteis à Verdade” e não ao proselitismo católico, eles deveriam ser convocados não apenas das mais surpreendentes denominações cristãs, mas até de áreas não religiosas da vida, a exceção de áreas ateístas e descrentes.
Por exemplo: (1) nas questões da cosmologia bíblica, um papa jamais deveria opinar, sem pedir a um assessor “gênio” que falasse em seu lugar, explicando o que é “o sidéreo profundo como casa dos anjos”. (2) Nas questões da psicologia bíblica, um papa jamais deveria opinar sem pedir a um assessor gênio que falasse em seu lugar, explicando que a salvação de uma alma depende da sanidade moral do comportamento humano, o que implica em não adesão a ideias comunistas e marxistas; que nenhuma alma será salva se não se arrepender profundamente de seus pecados, mesmo quando a sociedade inteira encara aquele pecado como “normal”. (3) Nas questões da escatologia bíblica, um papa jamais deveria opinar sem pedir a um assessor gênio que falasse em seu lugar, explicando que a liberdade das almas se mantém intacta após a morte física, e que o mesmo arrependimento de pecados solicitado em vida, será necessário dentro do Purgatório. (4) Ainda na escatologia, um papa jamais deveria opinar sem pedir a um assessor gênio que falasse em seu lugar, explicando que a Parusia é e será sempre uma incógnita absoluta, e que a própria ansiedade resultante dos sinais do fim não pode entrar no coração dos cristãos, e estes devem se manter tão “alheios” à passagem do tempo que sejam mesmo pegos “de surpresa”, ou na inocência, pelo som das trombetas (Lucas 12,29-40). Enfim, os exemplos são muitos, e estes foram dados apenas para uma breve visualização do argumento; o qual, não vindo de nenhum gênio, pode conter falhas inexoráveis.
Voltemos à questão da soberania da Verdade. Como dissemos, quando Jesus foi tentado, ele não usou nenhuma doutrina de igreja ou encíclica papal; não usou nenhuma orientação de magistério eclesial, nenhuma “teologia sistemática”, nenhuma filosofia patrística, nada disso. Ele usou tão somente a Verdade (que seu inimigo conhecia menos que Ele), aquela Verdade que transcende e antecede em milênios e milênios, tudo aquilo que a igreja veio a saber depois do Pentecostes.
Os gênios que nasceram com uma mente privilegiada pela Providência e pela Liberdade criacional de Deus, os gênios nascidos após a era cristã, os gênios que estudaram secretamente tudo o que foi dito e escrito na história do Cristianismo (por “secretamente” pode-se entender, por exemplo, até a “instrução onírica” de que falava James T. Mangan), são estes que estão fazendo falta na atual conjuntura do Cristianismo, o qual perece e parece, a cada dia, naufragar no vácuo das falsas doutrinas e no abismo da imoralidade. Enfim, se os gênios forem desprezados ou abandonados, ou se os gênios simplesmente se calarem, até as pedras clamarão contra esta geração perversa e corrupta. Afinal, as pedras são os únicos gênios falantes que restaram, na surdez voluntária de todos os pastores.