Observando com atenção a história da compreensão humana acerca da vontade de Deus, não podemos perder de vista o fato da tremenda presunção do ser humano em relação à obra da Criação, ao ponto de tentar manipular a Palavra de Deus para impor uma doutrina antropocentrista.
A sociedade atual não faz a menor ideia do quanto ela própria é produto de uma tremenda presunção do coração humano, que jamais parece lembrar a sua pequenez e insignificância na “economia da salvação”, sendo, na verdade, a grande piada do universo, para qualquer civilização de fora que viesse analisar a História da Humanidade terrestre. Mesmo os ditos “cristãos”, estão sempre a esquecer a terrível pergunta bíblica, repetida no livro de Hebreus: “O QUE É o Homem para que dele te lembres?” (Hb 2,6). Esta pergunta, ao contrário do que pensam todos os presunçosos, não aponta para a ‘gigantice’ do Universo, mas sim, para a “minusculice” do Homem.
Pior, como o pecado da soberba entrou no coração de todo mundo e de cada um de nós, nem mesmo os melhores cristãos estão imunes a qualquer juízo divino, seja ele pronunciado no tempo ou fora do tempo! Aliás, a bem da verdade, a soberba encontrada no coração de uma pessoa “mais consciente”, como diz o livro de Hebreus (no coração de alguém que “uma vez foi iluminado, uma vez provou o dom celestial, que se tornou participante do Espírito Santo, que provou a boa Palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro” – Hb 6,4-5), será sempre PIOR do que a encontrada numa alma “tosca”, ainda rude ou rudimentar em sua consciência cósmica (o chamado “homem natural” – I Co 2,14), e sempre dará muito mais trabalho para recuperar-se, se é que o conseguirá. Foi isto que o autor de Hebreus quis explicar quando disse que tal pessoa estará sempre levando o Cristo de novo à cruz e à ignomínia, e por isso jamais se arrependerá!
Ora; foi esta presunção apreciada pelos corações “cristãos” que invadiu o seio da igreja, muito antes de nascer o Protestantismo; ou seja, quando a única igreja cristã se sentia tão “importante” no meio da Criação que chegou a acreditar que Deus tivesse construído o universo inteiro – e até o Multiverso, pela visão de hoje – para a exclusiva eleição do ser humano como a mais nobre obra da divindade, debaixo de quem tudo o mais se dobraria, até anjos (se bobear…).
Por causa desse tremendo blefe e dessa tamanha arrogância, a igreja chegou a “inventar” uma cosmologia antropocêntrica, que começava com o Homem no centro (porque Jesus tornou-se homem), depois com a Terra no centro (porque o Sol e todas as estrelas giravam em torno dela), depois com o Sol no centro (quando Galileu foi provado pela Ciência) e, por fim, com a História da “Eleição Especial da Humanidade”, porque foi nela que Deus encarnou! Tudo isso era a “invencionice” ou a visão ‘romantizada’ (romanizada) de uma instituição que queria não apenas impor-se ao mundo, mas também ganhar a confiança do mundo, estabelecendo a noção ridícula de que o Homem, a Terra e o Sol estavam no centro!
Todavia e contudo, se a igreja e toda a cristandade esperava que a realidade estaria esgotada com as últimas pesquisas da Astronomia renascentista, teve então mais um abalo bombástico quando a Ciência começou a usar radiotelescópios e satélites de observação estelar, os quais não apenas deram ao Homem um lugar ainda mais insignificante na criação, mas o relegaram a “um quintal de quinta grandeza” de um único universo, universo este impiedoso e perigosíssimo, o qual poderia ser exemplificado como se nós fôssemos um bando de formiguinhas sem asa, dentro de um barquinho de papel no meio do oceano!
(Para se ter uma ideia: estamos todos andando trêmulos sobre uma corda bamba pendurada entre dois penhascos cheios de lobos famintos, e ainda ouvindo tiros de rifle vindos em nossa direção! Vejam como se traduz esta parábola: a corda bamba é o planeta Terra, uma massa informe arredondada pela força de gravidade que também movimenta as placas tectônicas constantemente, fazendo surgir terremotos sem aviso; os dois penhascos são os polos norte e sul que trocam de posição a cada novo ciclo magnético; os lobos famintos são todas as ondas de epidemias mundiais que nos atacam, sobretudo moléstias de vetores ou trazidas pelas aves; e os tiros vindos em nossa direção são os inúmeros asteroides e cometas soltos no espaço próximo da Terra, os quais vivem caindo perto de nós e sem poupar casas ou cidades, e se caírem no mar ainda nos afogam com tsunamis! Tss-tss! O leitor entendeu agora a figura das formiguinhas no barquinho de papel?).
Pior, com esta nossa vizinhança cósmica, ou seja, com o nosso próprio Sistema Solar, até então “pacatu pacativorum”, sendo esse lugar terrível e “estranhamente” violento (com toda a enxurrada de asteróides errantes que nele perambulam), a nova Astronomia descobriu que a grande maioria dos outros sistemas solares não possui um cinturão de asteroides nem uma “Nuvem de Oort”, e por isso alguma coisa “errada” aconteceu por aqui, com a qual nosso Sistema Solar se tornou um perigoso campo de tiro e onde seus planetas estão sendo constantemente bombardeados por pedras assassinas! Isto combina com o que nos revelou CS Lewis, pois as fontes dele o informaram de que, quando satanás foi expulso do Céu, veio para este Sistema Solar e aqui, antes de ser aprisionado na Terra, chegou atirando a 3 por 4 e os tiros dele destruíram dois grandes planetas antigos, um que existia além de Plutão, e outro que existia entre Marte e Júpiter! Isto explica o monturo de asteroides, o Cinturão de Kuiper e a Nuvem de Oort!
Tudo isso sem falar que morar NA SUPERFÍCIE de um planeta, seja ele qual for, é sempre um risco enorme (porque ora estamos sendo “assados feito churrasco” pela estrela-mãe, ora estamos sendo petrificados pelo gelo resultante do afastamento dela), e que a miniaturização óbvia da Humanidade perante a vastidão “infinita” do cosmos – a qual nos obriga a ver O Homem como mero “sulfato de flato” – não favorece a nenhuma ilusão confortadora, mesmo quando ouvimos Jesus dizer que “nem um fio de cabelo de vossa cabeça se perderá” (Lucas 21,18), ou mesmo quando Ele disse que “da mão do Pai ninguém será arrebatado” (João 10,28-29).
Assim somos forçados, a rigor, a adotar o “slogan pungente” de uma antiga campanha de evangelização, chamada “Cristo, a única esperança da Terra”, na qual a ideia básica era pontuar, com a honestidade de um pedido de socorro, a dramática situação humana neste planeta perdido, no qual a História de Jesus (conquanto seja duvidosa para a Ciência cética) constitui a única “saída” para o labirinto minotáurico onde o Homem se viu inserido, e no qual não há nenhuma outra solução para o grave “abandono” do ser humano à própria sorte ou à má sorte. A rigor, nada, n-a-d-a e NADA de fato pode salvar o Homem de seu destino cósmico, mesmo quando este é analisado a nível pessoal e o fim do mundo ainda esteja muito distante dele. Isto é, que O FIM é a regra mais visível e frequente na vastidão do Universo, estando o próprio Universo a caminho de um fim; e se o Homem conseguir viver uma boa vida em seus 70 ou 80 anos, que se dê por feliz e engula a sua miséria com gosto de chocolate perto do fogo. Noutras palavras, os únicos consolos que a vida oferece não passam de meras “traíras”, e por isso o sexo ganhou o status de “tábua de salvação para o tédio da existência”, segundo os libertinos.
Este é o diálogo interior do Homem pós-moderno, bombardeado pelo ateísmo oficial e pelo ceticismo científico, que sepultaram a historicidade dos Evangelhos para o limbo dos contos de fada e extinguiram de vez toda a Esperança, enquanto virtude teologal. Pior, se o cara for inteligente, nem mesmo os cursos, as dinâmicas e os livros de autoajuda lhe salvarão do fantasma da solidão cósmica, e isto vem bater até na igreja cristã, que também estremeceu após as revelações da radioastronomia.
Porquanto a história “real” ou realista que a Ciência veio contar é que aquele nobre Homem sábio (o homo sapiens sapiens que pisou na Lua), aquele que um dia inflou-se de orgulho por se situar bem no centro de uma obra de Criação, aquele que tinha a Lua, o Sol e todas as estrelas girando em torno dele, e tinha também sido eleito “um filho especial do amor de Deus”, guiado por uma igreja que era a própria NOIVA de cristo, aquele Homem hoje está mal vestido, trôpego, imundo, doente e agora depressivo, a um passo do suicídio, tendo como única solução uma crença complicada que enfrenta homens de ciência (homens que estudam muito mais do que ele) e que aponta para o retorno de um Deus que jamais revelou quando voltaria e que já está atrasado quase 2000 anos! Sacou o drama?
Com efeito, como foi que a igreja, ela mesma, sobreviveu ao impacto da nova Astronomia, quando seus próprios “doutores” um dia inventaram a ilusão confortadora – leia-se meia-verdade – de que o Homem estava não apenas no centro da galáxia, mas no centro das atenções de Deus, e que a vida afinal não era tão ruim, já que caminhava célere para um encontro com seu Criador? E mais: como foi que a verdade da insignificância do Homem (a Humanidade inteira não passa de um átomo regurgitado da garganta infinita do cosmos) chegou aos ouvidos dos papas, dos teólogos vaticanos, dos pastores e dos líderes de todas as denominações cristãs, quando a Ciência cética entra goela a dentro como um gole de suco doce ou uma colherada de sorvete? Como evitar a debandada de fiéis levados pelo contágio mundano do ceticismo que tem feito a cabeça de muitos (ex)pastores e (ex)religiosos?
Pior: esta “Nova Astronomia” ainda culmina com uma visão aterradora e devastadora da realidade FINAL da existência, a saber: que nenhuma criatura sobrevive ao frio intenso do regelo cósmico (como também não resiste ao fogo), e o regelo é inexoravelmente o último estágio do universo, quando TODAS as estrelas se apagarem! Ou seja: quando as estrelas se forem, só restará o espaço vazio e congelado a bilhões de graus negativos, como se o próprio espaço virasse um bloco gigantesco de gelo impenetrável, pois a única fonte de calor que existe no universo são as estrelas! Isto é: Como se explica que Deus tenha criado tanto espaço para depois condená-lo a um inverno sem fim, tal como a Feiticeira Branca condenou Nárnia? Eis aí o retrato da decepção e da depressão profundas provocadas pela Nova Astronomia, e contra as quais até a fé cristã parece ilógica e absurda!
Pior: como a própria doutrina “cristã”, deixada a mercê da interpretação temerosa de almas em pecado, pôde equacionar e solucionar o drama colossal do aparente “abandono” da Humanidade (que hoje em dia dá provas de si não apenas com a explicitação crescente das misérias humanas – fome, pestes, guerras, pobreza, doenças, fratricídios, genocídios –, mas agora também com a realidade concreta de um universo “infinito”, chamado Multiverso), diante de quem dizem que a própria existência humana pode ser questionada? Enfim, isto basta!
Finalmente, e a bem da verdade, a Humanidade nunca esteve diante de uma realidade tão portentosa quanto esta que o Século XXI descortina, e ela chegou para ficar, doa em quem doer. É um tempo onde a própria noção de “salvação” parece descartar qualquer auxílio do pensamento alheio, e onde o alheio não merece mais respeito, nem quando põe na cabeça uma mitra. Vivemos uma espécie de abandono – para não dizer extinção – do próprio Cristianismo a si mesmo, pois somente ele poderá revelar as chaves para solucionar o drama humano. Não é à-toa que elegemos CS Lewis para nos iluminar o caminho que nem mais as igrejas iluminam, porque ele foi o único a apresentar uma solução que nem mesmo o ceticismo mais fundamentado pode refutar. Lewis apresentou toda a lógica de uma vida após a morte, cuja prova se prova pela impossibilidade de se ir até lá e voltar com ela, como ele voltou. Afinal, se a matéria não dará sinal algum de um mundo sobrenatural, o sobrenatural não dará sinal algum de nos esperar no Além!
2 respostas a Como a igreja sobrevive ao impacto da nova Astronomia