Com a onda de violência que assola o mundo, marcadamente o Brasil, temos que pensar na profecia da extinção da piedade e na declaração bombástica de Jesus para explicar o assustador quadro atual.
Casos escabrosos como estes últimos, da última década, estes que incluem desde a morte da menina Isabella Nardoni (solta do alto de um prédio pelo próprio pai), ao homicídio venal do casal Richthofen enquanto dormia, até este último da morte do menino Bernardo Boldrini, cujo assassínio foi premeditado pelo próprio pai, revelam uma das mais duras verdades apontadas pela Bíblia Sagrada, a saber, “os inimigos do homem serão os de sua própria casa, pois dias virão em que pais matarão filhos, filhos matarão pais, etc.”, sinais evidentes de aproximação do fim do mundo.
Além desses casos hediondos, há que se fazer empatia com o próprio Jesus, uma vez que ele foi um dos seres humanos mais agredidos em sua integridade física e o número um em sua integridade psicológica e espiritual. Ninguém mais foi ofendido e mais blasfemado do que ele, até porque ninguém enxerga uma ofensa na profundidade que Ele enxerga! Eu posso ser xingado até às últimas palavras, sejam de calúnia ou difamação, sejam falsas ou verdadeiras, mas eu jamais conseguirei ver até onde tais palavras mergulham em mim e me destroem. Eis porque Jesus foi o mais ofendido moralmente (do ponto de vista físico, esta Escola já explicou que houve certas torturas físicas que Jesus não sofreu, como as dores da velhice e as inimagináveis taras de sádicos homossexuais – mas o fato de não ter passado por estas coisas em nada diminui o valor salvífico da via crucis: é muito oportuno o leitor rever o filme “Paixão de Cristo” de Mel Gibson, para visualizar melhor o sofrimento de Jesus e entender bem este artigo, que se baseia nele).
Revendo aquele filme e fazendo uma boa empatia com Jesus, somos chamados a encarar de frente a profundidade da seguinte sentença do próprio Nazareno, pronunciada bem no meio de seu sacrifício por nós, na hora da sua crucificação: “Se fizeram isso em lenho verde, o que não farão no lenho seco?”… Eis aí uma declaração duríssima – contra nós – e ao mesmo tempo pungente, pois aponta para um pobre coitado, absolutamente sozinho e sem defesa, entregue nas mãos e na sanha assassina de brutamontes (padre Abib falou de “homens brutos”: veja NESTE link). Pior: na última ceia, antes do início de suas dores extremas, Ele confessou sem nenhum constrangimento: “este é o meu corpo, que será entregue por vós”: o leitor já parou para pensar no duplo sentido da expressão “será entregue por vós”? Vê que significa tanto que Deus se entregará à dor por nós, quanto que nós mesmos O entregaremos ao julgamento iníquo, e nossa entrega foi simbolizada e posta em prática pela traição de Judas? E ainda muito além disso, o leitor vê que Ele também se referia à dor que Ele sentiria ao ver pessoalmente as almas perdidas no Hades, quando descesse à mansão dos mortos na morte de cruz? A dor de não conseguir resgatar a maioria de seus irmãos perdidos, mas ainda livres para negá-LO e blasfemá-LO na escuridão?
A pergunta “Se fizeram isso em lenho verde, o que não farão no lenho seco?” significa diretamente o seguinte: “se um corpo cheio de vida eterna como o meu (Lewis chamava de “Zoe”), santo e sem maldade nenhuma, foi alvo de tamanho ódio e descarrego da barbárie, o que a Humanidade não fará quando puder botar as mãos sobre corpos impuros, reunindo todo o ódio contra seus semelhantes? E se farão loucuras de maldade contra seus próprios pais e filhos, sejam eles velhos ou criancinhas, o que não farão a desconhecidos? (A Trilogia Espacial diz que este é o motivo pelo qual a Terra tornou-se silenciosa para o cosmos, e o cosmos para Tellus, para que nenhuma vida inocente de outro planeta viesse a sofrer a explosão de ódio que Satanás faria jorrar na Terra!).
São precisamente estas as cenas que temos visto nestes últimos dias. Brigas mortais entre torcidas de futebol, linchamentos visceralmente impiedosos [a Bíblia diz que a piedade sumirá do mundo (Mt 24,9-12), e acho que já sumiu!], onde nem sequer se atenta para a inocência do linchado; assassinatos a sangue frio e sem nenhuma reação das vítimas; tiros disparados sem nenhum “razão” relacionada ao ato – nada que gerasse a necessidade de matar –, enfim, um caos infernal, digno do aplauso dos mais estúpidos demônios! Pensando alto, caberia até a pergunta: se em Sodoma e Gomorra não havia a TV para incentivar a imoralidade e a violência, como pode Deus suportar assistir tudo isso e não intervir de imediato? Só São Pedro respondeu: “Ele não tarda a sua volta; Ele quer apenas tentar salvar o maior número possível de almas” (uma era de extrema maldade certamente comporta a razão salvífica do medo, que conduz milhares de almas à oração e ao arrependimento). Quiçá todos ouvissem isso!
“Se fizeram isso em lenho verde, o que não farão no lenho seco?” [quer dizer, se um 100% inocente, Deus encarnado em justiça e amor ao próximo, luz e bondade infinitas, foi julgado merecedor disso, o que não farão a um impuro e ressecado?], também traz uma assustadora ameaça a cada um de nós. Como todos nós somos lenho seco (não temos ainda a vida Zoe como Jesus tinha), e como a extrema dor pode gerar medo, arrependimento e salvação, então a palavra de Jesus pode ser o nosso próximo presente, nos dois sentidos: próximo presente dado pelo destino para a nossa reflexão e arrependimento; e um próximo presente em nossa vida para nos agredir, esperando de nós a aceitação silenciosa da morte injusta ou a recompensa de um perdão que para ele é uma loucura inextrincável. Uma bomba atômica enfiada goela a dentro!
Olhar cada vítima da violência pós-moderna é pavoroso, não apenas pela ameaça que se aproxima de nós, mas também quando percebemos o silêncio daqueles que deveriam lutar contra o caos e nada fazem, ao sabor de leis frouxas e impunidade regada a dinheiro. O silêncio dos “bons” (se é que podemos negar Romanos 3,10 e a resposta do próprio Jesus ao jovem rico – Lc 18,19) de que falava Ruy Barbosa é uma bofetada muito maior, mas que não justifica fazer justiça com as próprias mãos! “Decisões” coletivas, sobretudo tomadas por ímpeto, jamais produzem resultados justos, e muito menos agradáveis a Deus, o que pede uma retomada urgente da lei e da ordem, para que tais absurdos possam ser erradicados de nossa sociedade.
Finalmente, é óbvio que uma legislação violenta, como a dos países islâmicos, também não seria a solução; mas o outro extremo (o da impunidade total) pode ter alcançado o dia em que suplica a própria mudança, seja ela qual for. Assim, é lícito pensar que chegou a hora em que Deus “obriga” a Humanidade a refletir seriamente sobre si mesma, impondo-lhe a seguinte visão: “vocês já curtiram a liberdade ao extremo, e já viram que sem homens bons a liberdade de uns sempre colidirá com as liberdades dos outros! Resta a vocês voltar à razão e entregar-se à Razão Maior, enquanto durar a vossa razão e a minha de manter a liberdade em conjunto, ou, do contrário, outorgá-la a almas solitárias”. E aí Deus faz nascer uma equação para filósofos: “existe liberdade na solidão?”…