Em CS Lewis encontramos impressionantes habilidades, muitas das quais “genialidades” raras na cristandade. Neste artigo examinamos, resumidamente, aquilo que entendemos como a missão mais elevada de Jack, a qual chamamos de “A Experiência Enoqueana de Lewis”.
Aqui nesta Escola nós acreditamos no ministério dos anjos (sem tirar um til ou uma vírgula do que diz a Bíblia). Mas acima de tudo, acreditamos no mistério dos anjos. E CS Lewis, nosso mestre maior, não deixou por menos, e não nos deixou órfãos nesta crença. Todos sabem que ele é autor de muitos livros clássicos da literatura cristã, e estes livros se encontram divididos entre ficcionais e não-ficcionais, como gostam de denominar as editoras – que não são lewisianas no sentido purista da palavra. Não sendo puristas, elas sempre acabam explicitando a crença da denominação à qual pertence o seu proprietário, e assim a verdade se perde.
Para nós que fazemos a Escola de Aprofundamento Teológico de Fortaleza, os livros chamados “ficcionais” de Lewis não correspondem a obras tão somente inventadas pelo seu gênio criativo, mas que no fundo tratam de experiências vividas com Deus, as quais ele nem poderia e nem deveria compartilhar, se seguisse o conselho de São Paulo quando explicou segredo semelhante, a saber, que o dom de falar línguas estranhas deveria ser praticado somente quando houvesse intérprete na Igreja, ou então, que fosse praticado a portas fechadas, na intimidade orante do crente, no quarto secreto com Deus… [Interessante verificar que até um articulista não-protestante, como o Philipe Kling David, admite que apenas se fosse gênio, ele poderia veicular uma verdade concreta sob disfarce de ficção, como o leitor pode comprovar NESTE link, onde ele disse: (…) “A tal revista francesa teria obtido as fotografias com um informante que – por motivos óbvios – prefere ficar no anonimato. Se eu vendesse imagens militares que são segredos de Estado eu também teria medo, a menos que eu fosse um gênio e mostrasse a verdade como sendo ficção”].
Mas Lewis então viveu um drama caótico: ele percebeu, junto com alguns de seus melhores amigos (únicos de sua inteira confiança), que a mensagem final que lhe chegara apontava diretamente para a Grande Tribulação e a volta de Cristo, e era preciso alertar os cristãos acerca dos perigos que a Humanidade inteira iria correr, no decorrer das próximas décadas. E mais, sabendo da insone ausculta dos inimigos de Deus nas missões mais nobres dos cristãos, decidiu espalhar o seu alerta de um modo que somente os cristãos mais acurados, ou aqueles que estivessem na hora mais preparados para conhecer e se aprofundar no assunto, tivessem condições de detectar e entender o espírito da mensagem apocalíptica revelada a Lewis.
E esta mensagem, a rigor, não merecia a confiança nem mesmo de Lewis, o qual enfim só acreditou por ela ter sua origem num homem de sua extrema confiança, ao qual numa certa ocasião ele o chamou de “mago maldito”. E foi, justamente nesta ocasião específica, num encontro programado para uma casinha de campo no interior da Inglaterra, que ele deu de cara com uma “Coluna de Luz”, postada num canto da sala de visitas, a qual, silente como uma pedra, permanecia ali, imóvel, a esperar a chegada do “Mago”. E somente quando este chegou, Lewis viu que aquela coluna de luz falava, e falava apenas com o seu amigo, e por isso ele gritou, desesperado de tanto esperar: “Fale comigo, mago maldito!”.
Finalmente, após algumas páginas a mais, Jack explicou que aquela coluna de luz era o “veículo” etéreo no qual aquele ser transparecia em Tellus, e que ao observá-lo na devida proporção para com a geografia terrestre, qualquer um veria que ele estava num plano inclinado em relação ao eixo da Terra, e que o ponto onde a luz tocava no planeta servia como uma espécie de “alça” para sua fixação na alta velocidade de rotação da Terra. Isto é enfim o resumo menos complicado do relato de Lewis em relação à sua experiência com anjos*, e assim só temos a comentar que, embora os anjos da literatura e da arte sacra tenham sempre aparência humana e alada, tais imagens não ferem absolutamente a angelologia lewisiana, pois o Novo Testamento fala de anjos com corpos humanos (veja a carta aos Hebreus, capítulo 13, versículo 2) e o Velho Testamento fala de seres alados a acompanhar as missões divinas, como em Ezequiel e Isaías.
Logo, ao entrarmos numa igreja onde a nave do santuário está iluminada por figuras de anjos humanos e alados, não ficamos nem um pouco frustrados por tal representação ser assim tão “pobre”, entre aspas, pois a inspiração dos artistas sacros também veio de Deus, autor de todo dom perfeito encontrado na Terra, os quais descem do Pai das nuvens onde não há sombra de dúvida nem variação. Sem falar na importância de levar as consciências orantes a lembrar desses seres maravilhosos, que não somente atuam no auxílio das missões do Espírito Santo, mas também protegem almas puras dos perigos ensejados por aqueles outros anjos, os seres caídos das trevas, que um dia também foram anjos.
E essa questão das imagens sacras, feitas de madeira, argila ou outra “porcaria” qualquer, que tanto azucrinam a cabeça dos protestantes, precisa ser repensada com a urgência de um tempo de emergência, onde os elementos abrasados estão se desfazendo diante de nossos olhos cumprindo todas as profecias. E não é Deus quem está “empurrando” o mundo para o abismo, e sim o mundo que caminha para ele deliberadamente, e até gostando de curtir uma psicótica liberdade, aparentemente seguro com a herança de religiões e seitas espúrias. Porquanto o Deus que criou, cativou, usou e até honrou a matéria (tanto é que revestiu seu próprio Filho com ela), ficou pasmo e até “desesperado” quando percebeu que a ignorância, uma das mais terríveis derivadas do pecado, era capaz de confundir até mesmo os cristãos, e fazer com que eles odiassem a matéria que fabricava supostos ídolos, quando esquecem que o próprio Deus mandou construir a serpente mosaica no deserto.
Pior, Deus não tinha como refazer a criação sem usar a matéria mais frágil (como mostrou com a salvação de Noé e sua família), pois Tellus guarda o último reduto da escala ontológica antes do automatismo animal e, além de nós humanos, não haveria como fazer outra criação em nosso nível que não usasse três dimensões. Lembrar que o Tentador e a Tentação recebem a maior culpa do pecado contra seres inferiores pode ressuscitar a visão límpida da importância que Deus deu à matéria, como forma de estabelecer sua estranha autoridade de um Deus infinitamente humilde, capaz de morrer por meras estátuas de carne humana, atoladas na iniquidade.
Com efeito, com base neste resumo, que não poderia deixar de ser resumo para obedecer ao espírito intimista da glossolalia de São Paulo, o leitor pode entender porque o Cristianismo foi, é e ainda será (enquanto durar a Terra, se é que vai durar) um poço profundo de mistérios, porquanto estes são também dádivas e estratégias divinas, pelo qual a verdade percorre o complicado caminho de chegar aos corações atônitos, sem no entanto sofrer interferência dos “seres orelhudos do Além”, interessados em saber quem os recebe, e como oferecer mentiras em seu lugar.
Enfim, se o mundo se gaba de guardar segredos de adultos, tal como a CIA, a NSA e a USAF guardam a realidade da vida alienígena do ouvido das massas, o Cristianismo guarda o Segredo dos segredos do Poder de Deus, e ainda suscita o ciúme de a mais ninguém revelá-lo, ou só revelá-lo aos seus filhos, quando estes o merecerem. Quanto ao mais, como diz a lógica, deixa que a Humanidade prossiga na ignorância, pois esta, segundo um segredo de Jesus (Mc 16,18; Lc 12,48), é melhor que a consciência.
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(*) O relato mais completo se encontra NESTE link, e sobre o qual demos ESTA palestra na UERJ. Malu Valente também esteve numa situação onde um anjo pode ter conduzido suas orações (veja NESTE link sua instigante experiência).