Ora vinda da garganta de oráculos divinos, ora vinda de oráculos de garganta divina, uma conversa capturada na “radioastronomia teológica” acabou vazando para a Terra, e alguns ouvidos ouviram. Algo assim pode ser visto em
http://www.youtube.com/watch?v=W3odiEMDGkI.
– Foi um drama terrível para Deus tomar uma decisão precisa após a Queda do Homem. E não é porque Ele é perfeito que se é obrigado a incluir a sua santa perfeição em tudo, pois quando esta decide fazer uma criação viva que não seja ela mesma, está obrigada a criar seres com Livre-arbítrio, sob pena de não encontrar “Graça” alguma em sua própria obra.
– Ipso facto, quando a liberdade de decisão está incluída na criação de um ser vivo, a própria Onipotência precisa “desconstruir-se” enquanto domínio universal, sob pena de não ver formada A ESCULTURA VIVA que planejou para amar e ser amado (embora a rigor, nem necessitasse deste amor). Portanto, criar um ser vivo, consciente e livre, torna qualquer futuro uma incógnita, sobretudo quando o próprio Criador desejou “fazer parte” do jogo, doando-se de corpo e alma à própria criação, ficando sujeito a muitas limitações da Mãe-Natureza.
– Deus, por assim dizer em linguagem religiosa, teve que se tornar um “filho” da Natureza para poder curti-la internamente, e assim manter “a roda vida da liberdade” incólume por todos os séculos dos séculos, dando sentido ao seu projeto original de ter “companhia dialogal”. Tornando-se um filho da Mãe-Natureza, também se sujeitou à sua Mãe, restringindo-se a habitar espaços dentro dela, respirar o oxigênio dela e percorrer o tempo com ela, na linha de passado, presente e futuro, e ainda limitar-se ao SEU sistema de ir e vir, de sim e não, de força e fraqueza, de alegria e dor, etc.
– Pior: sujeitar-se às liberdades outorgadas! (O que pressupõe ter que suportar eventos não planejados e contrários à Sua vontade, mesmo sabendo que só ela é a perfeição!). Convivendo, pois, com seres livres, teria que aceitar ser rejeitado e expulso da convivência, e ainda assistir a criação aderir a modos malignos de comportamento, sem que a liberdade seja ameaçada, exceto por ela mesma.
– Tendo que criar um modo de impedir a injustiça contra seres que não o rejeitassem, o máximo que poderia fazer era reservar um lugar separado da convivência para os rebeldes, no qual todos os odiosos e malignos pudessem viver suas maldades longe dos bons, e sem o risco de maltratar os bons. E tal foi feito. Porquanto, aquilo a que chamam de “prisão do inferno”, além desta convivência separada, é essencialmente A PRISÃO INTERIOR, de almas aprisionadas em si mesmas, “livres, mas incapazes de dar marcha a ré e rever o caminho de volta, no qual perceberiam que manter-se aliado do Criador é a melhor (aliás única) fórmula de se ser feliz ou de fazer a sua própria criação ter valido a pena”.
– Sem que nada disso tivesse sido desejado (pelo contrário, a última coisa que um pai amoroso deseja é ver seus filhos desunidos), aconteceu exatamente o que o Livre-arbítrio permitia, ou seja, a rebelião, pela ilusão da felicidade supostamente existente fora de Deus. Alguém que cai nessas circunstâncias não quer cair sozinho, tal como você sempre vê os bêbados lhe oferecerem bebida, e os drogados lhe oferecem droga. Foi assim que a “ESTRELA-NEGRA” ofereceu a maçã a Eva e esta a seu esposo.
– Com a Queda do Homem, o ódio passou a penetrar livremente no coração humano, e por isso Deus “foi obrigado” a deixar os homens sozinhos, i.e., sem qualquer contato com outras raças. Todavia, eles não poderiam sobreviver sem a ajuda de animais (tanto os utilitários quanto os bichos tidos por “inúteis”, cujos insumos permitiriam complementos adequados e viabilizadores da vida humana em Tellus).
– Por esta razão, Deus teve que fazer uma cirurgia especial em todas as raças que serviriam para permitir a vida do Homem, dando a este uma última chance de escapar à aniquilação total. “A cirurgia ‘extirpou’ da mente animal o espírito” (que dá lucidez à alma e assim capacidade de comunicação com o homem), mas jamais a alma, e é por isso que os animais ainda sofrem, como prova de que quem merece uma jaula – chamada Tellus – é mesmo a raça Adâmica. Entenda que a alma não poderia ser extirpada, nem de animais nem de plantas, sob pena de a criação restringir-se só ao reino mineral, e a Humanidade ficar à míngua enquanto espécie, definhando até desaparecer.
– Porém a violência contra os animais fez com que Deus afastasse ainda mais, da presença do Homem, aqueles que nasceram noutros planetas. Porquanto se os animais de Tellus, incapazes de falar e rebelar-se contra o Homem, foram judiados barbaramente, o que os humanos não fariam a seres “horrendos” e capazes de desobedecer ordens? (Você já viu como as crianças humanas maltratam sapos e lagartos, pelo simples fato de eles serem feios?)…
– Entretanto, na verdade, falar de violência contra “feios” (para mim eles nem são feios, pelo contrário!) é maximamente ingênuo e apenas parcialmente verdadeiro, pois na realidade a maldade humana chegou ao ponto de maltratar até seus próprios semelhantes, mesmo quando estes são bonitos e agradáveis, e cuja beleza e simpatia encantaria a qualquer membro de uma inteligência extraterrestre.
– Pior, o ódio chegou a dominar de tal forma a mente humana que a violência veio a incluir até membros de sua própria família, quando não poupam nem seus pais nem seus filhos menores! Logo, como pode a Humanidade se queixar de estar sozinha no cosmos, quando não pode conviver nem com seus próprios irmãos de sangue?
– Tolos e idiotas se tornaram, levados pela presunção de pseudodivindade inoculada pela ESTRELA-NEGRA, que ainda os engana apresentando a própria solidão como prova de minha inexistência! Afinal, se ela queria mais um motivo para fazer a violência dar prazer aos violentos, nada melhor do que espalhar por aí que “o homem está sozinho no universo”, no sentido de que Eu não existo, e, portanto, jamais haverá punição (separação = inferno). Porém, se algum dia os extraterrestres enlouquecerem e se deixarem flagrar em Tellus, saberão enfim porque os animais da terra são mudos!
[FECHA ASPAS].
(Este texto baseou-se em todo o pensamento de CS Lewis, mas sobretudo nos livros da Trilogia Espacial, nas “Crônicas de Nárnia” e no inseparável “Oração – Cartas a Malcolm”).