Dentro do dever cristão de examinar tudo e reter o que é bom, assistimos ao filme “O túmulo secreto de Jesus”, e nos surpreendemos de perceber que até na hipótese dessa tese se comprovar verdadeira, Lewis tem a última e única resposta cabível à verdade crua dos fatos.
Legenda da foto da capa do DVD do James Cameron: Acerca de Lewis ter ensinado a fórmula da ressurreição e esta poder encarar o suposto revés da descoberta de restos mortais do Nazareno, explicitada por James Cameron em seu documentário.
O maior de todos os mistérios bíblicos é a gloriosa Ressurreição de Jesus, da qual depende toda a estrutura da fé cristã, da Teologia cristã e até da Igreja cristã. Isto qualquer cristão sabe. Além do mais, a Ressurreição é dogma intocável, e todo o universo perderia o sentido sem ela, sem contar que constitui a mais pungente esperança para um mundo decaído, onde a depressão e o desespero estão batendo em todas as portas e em todas as nações, sem poupar ninguém. Não havendo qualquer aspecto negativo na fé e sendo a crença algo gratuito e que não machuca ninguém, acreditar que Deus veio à Terra e ao terceiro dia ressuscitou, seria inevitavelmente a mais óbvia sedução de crença, como único remédio eficaz para o absurdo de um suposto “universo sem Deus”.
Tudo isso levamos em consideração aqui, pois nosso comentário é escrito “no revés da crença”, i.e., como se nós não crêssemos na Ressurreição do Senhor. Assim sendo, se o Senhor não ressuscitou, então, longe de pensar que Jesus fosse um mentiroso (isto é impossível!), temos que tentar encontrar alguma interpretação coerente para com a Sua alegação de que ressuscitaria dos mortos, alegação esta feita em diversas ocasiões conforme os evangelhos. Se Ele não ressuscitou, então a única pergunta cabível é: “por que Jesus falou tanto em Ressurreição?”, ou melhor, e ainda mais apropriada pergunta: “o que significava para Jesus a Ressurreição? Ou o que é ressuscitar no dicionário de Deus?”…
CS Lewis é o único pregador* de Deus que dá a resposta conclusiva para estas questões, mesmo que a Ciência um dia provasse que está de posse dos restos mortais do Nazareno! Como? É isso mesmo o que ouvi? Sim. Se uma prova cabal demonstrasse por datação radioativa e por exame de DNA que determinados ossos pertencem a Jesus, quem leu, mas principalmente quem entendeu e creu em Lewis, estaria absolutamente “protegido” da descrença em massa ou da atitude de avestruz (aquela de crentes que tentariam tapar o sol com uma peneira) que eclodiriam a 3 por 4 em todo o globo! E por que os lewisianos – aqui diríamos, os lewisianos puristas – seriam os únicos protegidos contra esta “descoberta” científica? Vejamos…
Porque os lewisianos puristas entenderam e creram que, quando Lewis lhes explicou o que é a ressurreição, a resposta verdadeira não é exatamente igual a todas as explicações que o Cristianismo comum ofereceu aos seus fiéis, nem mesmo na época em que era comum o contato com anjos. Com efeito, antes de comentarmos o que mostrou o filme de Simcha Jacobovici e James Cameron (veja aqui: https://www.youtube.com/watch?v=Dg_FG5Bzz8g), vamos tentar entender o que Jack explicou como fato subjacente a um “processo de ressurreição”.
E aqui está a primeira diferença. Para Lewis, ressurreição é um processo, e como tal, não tem necessariamente a fisiologia dos eventos comuns da Terceira Dimensão, e possui características que escapam à visão e aos instrumentos de detecção de qualquer ciência. Mais que isso, é um processo que vara o tempo numa velocidade lenta, que se prolonga ao longo da vida na terra e que pode ter iniciado antes mesmo de nosso nascimento.
Em outras palavras, como o ser humano é um composto de três dimensões (como Deus é uma trindade), há duas dimensões que subsistem como limítrofes às condições temporais da matéria, e uma que corre em paralelo, habitando um universo supradimensional. Ou seja, o corpo e a mente estão sujeitos ao tempo chamado “cronos”, e a alma está sujeita ao tempo chamado “kairós”. As três partes foram criadas em processo evolutivo, e apenas a evolução do corpo é testemunhada pela ciência com provas fósseis ou físicas, sendo a evolução mental muito mais própria aos estudiosos da mente. I.e, os psicólogos, psiquiatras e parapsicólogos admitem que houve evolução mental humana… Isto quando comparam o homem ao macaco e outros bichos. Porém, quando veem a barbárie da violência atual, passam a duvidar que a mente evoluiu, ou que a evolução não valeu a pena. Todavia, todos são unânimes em reconhecer que houve evolução, ou pelo menos movimento, e que a criação não é estática, ou que não ficou estagnada num estágio qualquer da História do Tempo.
Como a ciência sempre foi ‘ateia’, não é de admirar que nem sequer tenha notado a existência da alma, e por isso a evolução desta tenha sempre ficado a cargo de espíritas e outros ramos de seitas, as quais já traziam outras heresias em suas origens. Porém temos que perguntar: como se deu a evolução trina do ser humano? Vejamos em três pontos:
1o) A evolução do corpo é a que conhecemos pela ciência. Um resumo forçado seria: desde a junção dos primeiros átomos das estrelas formadores deste planeta, até a sua união na sopa bioquímica que imperava nos oceanos originais, até a sua conjugação e fusão no primeiro ser unicelular, do qual advieram todos os outros seres multicelulares, a começar dos girinos marinhos, depois aos primeiros peixes, depois aos anfíbios, depois aos répteis, depois aos mamíferos, depois aos macacos menores, depois aos macacos superiores e até o macaco-homem, no ponto de receber o sopro de Deus e assumir um espírito ao nível do intelecto.
2o) A evolução da mente – que talvez tenha começado neste exato ponto do sopro do espírito-intelecto – foi e é muito mais sutil e problemática, porque depende de fatores morais comparativos, já que existe um padrão ético determinado por Deus, e ninguém “evolui” em contraposição àquilo que a lei moral de Deus determina. Logo, diz-se que o homem evoluiu mentalmente, apenas em comparação ao comportamento de seres que fizeram a vontade de Deus, e por isso podiam ser admitidos como modelos de evolução para o homem. Afora isso, a evolução mental teria se dado apenas na questão da intelectualidade fria dos cálculos, manufaturas e artefatos, o que não implica em ter havido evolução moral do indivíduo que calcula e constrói máquinas.
3o) A evolução da alma é que é o grande nó cego desta novela, pois ela não é visível para ninguém, nem para a ciência, e só pode ser atestada por quem a vê pelos olhos da fé. Pior, como a alma é o ser propriamente dito, o ser criado para galgar o patamar do próprio Deus, se o ser humano não enxerga a sua alma, quase deixa de existir, mesmo vendo a evolução do corpo e da mente. Pior, como a alma é o ser real, o corpo e a mente dependem dela; e a evolução destes se reflete nela e também é resultado da evolução invisível dela, com cada parte interagindo “subterraneamente”. Em palavras jocosas seria: tanto a engorda do corpo engorda a alma, quanto a robustez da alma fortalece o corpo; e tanto a engorda quanto a robustez são produto de alterações mentais, por sua vez estimuladas pela evolução anímica e pelo comportamento e vícios da carne. É uma trindade em perfeita harmonia involuntária oriunda da criação trina do Homem, mas em desarmonia com Deus pelo pecado que traz a desordem.
Sendo o ser de fato a sua alma, foi ela quem foi criada no princípio e é ela quem evoluciona desde que Deus a concebeu ao longo dos milênios, ultrapassando as várias etapas de sua localização no espaço, a qual só transita fisicamente num planeta quando chega à terceira dimensão. E uma única vez a alma ganha corpo humano, após longo período em que ultrapassa diversas pré-consciências com Deus, vivendo separada deste em ambiente indeterminável, assumindo figuras de constituição incognoscível para a inteligibilidade humana. Ao mesmo tempo em que a alma criada, conquanto evolua desde sua criação, também vão evoluindo os estágios das pré-consciências e criptomatérias, com a mente evoluindo também em direção à clareza da autoconsciência.
Num determinado estágio, quando o primeiro casal de macacos evoluídos caiu em desgraça no Éden, todas as almas humanas também caíram por contágio espiritual (como explicou Lewis), e assim a evolução sofreu um curto circuito e foi intercalada e desviada, mas jamais cancelada. Com efeito, embora sob os ‘malagouros’ da Queda, a alma – o ser – continuou sua evolução em direção ao padrão ontológico de Jesus, o qual era e sempre foi a intenção precípua de Deus. A evolução, mesmo continuada após a Queda, manteve-se incólume em direção àquilo que Lewis chamou de solidificação, que é um “sinônimo pobre” para ressurreição. Solidifica-se o ser após todo o processo, e neste, a solidificação vai, a cada etapa, mais assemelhando o ser ao seu salvador. Como a evolução é feita nas três dimensões ontológicas do homem, a alma – que é o ser – vai como que amoldando o corpo que possui sua mente evoluindo cada vez mais para a ampliação da consciência, e o corpo vai também influenciando a alma em sua aparência final, e é por isso que os fantasmas sempre têm o mesmo rosto e corpo do homem que os possuiu em vida (nos fantasmas, o corpo ainda não solidificado, embora tenha a aparência do vivo, confunde-se com sua alma, cuja aparência já incorpora a fisionomia que o corpo tinha em vida). Na continuação deste negócio triplo, pode-se ver o processo por dois ângulos: a alma vai se encorpando paulatinamente com a aparência do homem que outrora tinha aquela aparência em vida, ou o novo corpo desencarnado vai ganhando opacidade e depois solidez, até que volte a ser 1 em 3, com a mente evoluindo no seu processo de ampliar e aclarar cada vez mais sua consciência.
Enfim, após este resumo necessariamente complicado, o leitor já pôde ver que a evolução final, aquela que pressupõe tornar-se o Homem aquilo que Deus planejou para ele na criação original, independe dos corpos não-densos ou do único corpo denso que suas etapas lhe tenham ensejado, embora este último lhe tenha servido como maior modelador do formato final que a solidificação da alma assumiria após o último estágio. Assim sendo, estes corpos que eu e o leitor temos hoje, embora não venham a durar mais que os 70 ou 80 anos de nossa natureza física (“tu és pó e ao pó voltarás”: aqui, para quem quer ver como via Lewis, a Bíblia prova que os corpos não serão aproveitados na ressurreição final), tiveram a útil incumbência de servir de “molde fisionômico” para a solidificação gradativa da alma em direção ao corpo semelhante àquele ressurreto de Jesus, o qual teremos ao final de todo o processo como produto da vontade inicial criadora de Deus.
Ora, se a alma evolui independente do corpo humano e em paralelo à evolução da mente, e se o corpo físico visto na terra irá voltar ao pó como era antes de ter sido assumido pela alma, e se o ser-alma vai se solidificar sob as aparências do último corpo independente do que tenha ocorrido com a morte da carne, então um ser ressurreto de Deus (qualquer um de nós após tempo decorrido no processo completo de solidificação post mortem) terá um novo corpo idêntico ao que tinha, e também independente do que a natureza tenha feito ao velho corpo: se desintegrado ou conservado. Aqui está a solução espantosa de Lewis.
Fantasiando: na hipótese de terem sido descobertos os restos mortais de Jesus (uma ossada datada da época e com DNA do Nazareno), isso em nada afetará a crença na Ressurreição do Senhor, pois esta não significava a reutilização do corpo que Jesus tinha antes de sua morte, e aquele corpo poderia muito bem ser encontrado na terra, como os corpos de todos os defuntos humanos. Então a ossada-santa não quebraria a doutrina da Ressurreição, porque esta teria ocorrido não com aquele corpo, mas com aquele que a alma de Cristo solidificou após o seu desencarne, e por isso sua aparição, logo após ter sido encontrado pelas mulheres, se deu sob o efeito solidificador, o que levou Jesus a pedir a Madalena que não se encostasse nele, ou não tocasse nele, pois ele não havia ainda voltado a ser “um ser por inteiro” (João 20:17, na interpretação de Lewis).
À pergunta: e como foi que o túmulo ficou vazio? Bem, na fantasia aqui delineada, com base numa suposta descoberta científica da ossada de Jesus, o ex-corpo do Nazareno foi “subtraído” pelos parentes ou familiares de Jesus, indo parar na câmara funerária da família sob o pleno entendimento e permissão dos apóstolos, não apenas para incorpar a crença na ressurreição necessária para a salvação (i.e., o processo real seria tão complicado que sumir com o corpo seria a melhor maneira de explicar as coisas para aqueles incipientes cristãos que deveriam crer na ressurreição), mas também para evitar a perturbação mental e a confusão dos dois corpos presentes, já que Jesus estava vivo entre eles. Imagine o leitor o que seria ver o próprio Jesus entrar no cenáculo como um fantasma, e ao mesmo tempo ver o corpo morto do Nazareno a esperar novo sepultamento!? Quem resistiria a uma cena dessas? E como Jesus iria justificar a solidez de seu novo corpo, quando o velho corpo ainda estava entre eles? Como evitar que eles pensassem que aquele “Jesus-fantasma” não era um demônio disfarçado para enganá-los? Por tudo isso Jesus comeu um peixe com eles e botou o dedo de Tomé em suas feridas, e por isso os apóstolos julgaram melhor esconder o corpo, com as “artes” de José de Arimatéia consciente de todo o processo!
Ufa! Vou reler o parágrafo anterior! Aliás, não há como negar que eu mesmo demorei décadas para encontrar outra forma de entender a Ressurreição, mas somente em Lewis alguma luz raiou no fim do túnel. E como acontece sempre com a previdente Providência Divina (Deus sempre chega antes de nós, como ER chegou antes de Weston!), Lewis nos deu esta luz antes de uma suposta descoberta das ossadas de Jesus, e por isso o filme de James Cameron não nos escandalizou! Mas eu ainda não sei que espécie de loucura me vitimaria se eu estivesse no cenáculo orando sobre o cadáver escondido do Nazareno e logo após visse Jesus atravessar a parede e me permitir tocar-lhe as feridas! Não sei mesmo. Minha única saída seria seguir minha mania de perguntar e falar pra Jesus: “Senhor, quem é aquele corpo que velamos?”… Agora, se Ele ia me responder eu não sei. O mais provável é que dissesse apenas: “Quanto a ti, a minha graça te basta!”…
Finalmente, irmãos, quando a Ciência do mundo gritar que encontrou os restos mortais de Jesus, não desanime e não desfaleça! Os restos podem existir mesmo. E então você será o único cristão a continuar crendo na Ressurreição, porque já sabe que esta aconteceu de verdade, só que “na calada da noite escatológica”, quando Jesus desceu ao Hades e voltou de lá depois de salvar muitas almas. Ao voltar, Ele pediu à mulher que não tocasse nele, porque sua solidificação ainda não estava completa. Todos os demais cristãos, coitados, aferrados à ideia paupérrima de que o próprio Deus dependeria de um velho corpo para reconstruir sua fisionomia, cairão na apostasia ou na heresia, e perseguirão os loucos que ainda creem na “Ressurreição-pós-ossada” (João 16,1-2). Ué? Afinal, não garantiam eles que a fé cristã era imbatível? Não diziam eles que a Palavra de Deus sobreviverá a tudo? (Mt 24,35). E agora?
LEGENDA: Chamada do texto por um asterisco:
(*) – A este respeito, temos muitos outros bons estudiosos da Teologia e da Arqueologia que defendem diversos pontos em paralelo (como o Dr. Rodrigo Silva), mas jamais ninguém, na Cristandade e reconhecido por ela, chegou a sacar desta verdade e afirmar o que Lewis ensejou, a saber, que a ressurreição final INDEPENDE da reconstituição do corpo físico que nossa alma habitou. Porém mesmo Lewis, levado por Deus em 1963, jamais chegou a ter em mãos um documento como este trazido a público pelo filme de James Cameron, nem tampouco os modernos estudos teológicos feitos com base na revisão histórico-crítica de todos os evangelhos apócrifos e gnósticos, que deixam em evidência a crença dos céticos de que o corpo de Jesus foi retirado do túmulo a posteriori, para a realização da cerimônia oficial de seu sepultamento, até então incompleto ou feito às pressas pelos amigos de Jesus, dentre eles José de Arimatéia (o Canal “History” tem apresentado excelentes documentários sobre este último ponto, e nenhum cristão deveria se espantar de saber algo acerca de uma suposta ossada de Jesus, pois a Ressurreição não teria se dado na carne, mas sim na solidificação da alma, modelada em alto relevo pela impressão dos contornos tridimensionais do corpo de carne). As conclusões deste artigo são, portanto, de responsabilidade exclusiva deste articulista, com a honra de terem se baseado inteiramente na genialidade de CS Lewis.
Link para a sensacional entrevista do Dr. Rodrigo Silva no programa do Jô Soares: https://www.youtube.com/watch?v=TtkmHXmBeMU
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