“Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir e abrir, eu entrarei e cearei com ele”: a Ciência pode estar agora vislumbrando exatamente o contrário: estaria faltando apenas Deus abrir a porta.
Lembrando o refrão de uma lindíssima canção americana, cuja versão Zé Ramalho interpretou, como sempre, maravilhosamente bem, assistimos surpresos a um filme absolutamente inquietante, que mexeu para sempre com o nosso coração e consciência. E ainda mais, descobrimos que o mesmo já está disponibilizado na Internet (veja as cinco partes começando daqui), de tal maneira a tornar possível escrever este artigo de mãos dadas com o leitor e telespectador do vídeo aqui indicado.
O presente artigo poderia ter sido escrito com outros títulos (1, “Nárnia se baseia na última descoberta científica”; 2, “Um conto infantil aponta para a última fronteira da Ciência”; 3, “O último estágio da Ciência é Nárnia”; etc.) e não ficaria menos adequado à realidade tateada pelos mais recentes avanços da Cosmologia, que eu tive a glória de travar contato na semana passada. Em razão disso, forçoso é explicar ao leitor que a leitura deste texto se tornará vazia ou inútil, sem que antes se assista ao vídeo acima sugerido(*).
Desde o princípio dos tempos a Humanidade vem procurando, com menor ou maior rigor, uma resposta de Deus para o Grande Mistério de si mesma, consubstanciado na pergunta “de onde nós viemos?”, e até aqui o discurso é perfeitamente aceito como o centro do maior interesse científico de todos os tempos e de todos os estudiosos da Astronomia, da Cosmologia, da Biologia, etc., embora não se possa, quando se tem um mínimo de consciência espiritual, fugir da resposta imediata da religião: “É o homem que se afastou da Verdade, e não o contrário, desde a aurora do tempo”. Assim, todos os esforços humanos para caminhar com uma bússola confiável comportam a culpa intrínseca de uma revolta da alma humana contra a necessidade de usar bem o seu Livre-arbítrio, ou seja, de deixar a sua liberdade sob orientação de uma vontade alheia, a saber, a vontade de seu Criador. Com efeito, é aqui que reside de fato o grande nó cego da questão, e isto está longe de significar uma fuga de Deus ou uma vingança ocultadora do Criador, irritado com as suas criaturas presunçosas.
Deus, portanto, jamais moveu uma palha para se manter distante ou oculto de suas criaturas rebeldes, e toda a parafernália de mistérios que O soterraram não passa de uma intrincada cegueira viciosa que a culpa original injetou na mente humana, dando a impressão de ter havido o contrário, a saber: “o gigantesco objeto visível que não é visto recebe a culpa de não ser visto pelo objeto minúsculo”. Isto é um fato muito comum nos laboratórios, quando a biologia, por exemplo, estuda microorganismos, que na maioria das vezes reagem ao toque sem jamais perceber a imensidão de quem os tocou. Diz a ciência que até algumas formigas, quando sobem em nosso pé e nos ferram, não fazem a menor idéia do tamanho de um homem, e apenas nos mordem no desespero de dizer: “Ei, estou aqui! Vê se não pisa de novo em minha casinha!”.
Assim, pois, podemos afirmar com certeza que o microorganismo chamado Humanidade tem estado, há muitos milhões de anos, mordendo os pés ensangüentados de Deus e achando que não O encontrou, ou que ele correu de nossa presença, como se o Santíssimo tivesse alguma culpa. Porém agora as coisas mudaram: o microorganismo já sabe que está batendo na porta de Deus; e isto significa que a Humanidade, finalmente, chegou aos pés ensangüentados, embora tardia e obscuramente, ainda precisando de uma etapa (certamente muito mais difícil) de olhar para si e ver que tem toda a culpa, e que se não conseguir a autocura, nadou, nadou, nadou, para morrer na praia.
O vídeo da BBC “Universos Paralelos” é tudo isso, sem apontar para a culpa do homem, que se mantém orgulhoso ao extremo, até de suas pesquisas em busca de Deus. Porquanto aquele passo seguinte, que salvaria o homem da cegueira primitiva, terá que enfrentar toda a bagagem de ignorâncias mundialmente disseminada acerca da religião, cujas afirmações ficam soterradas sob o peso de todos os preconceitos pós-modernos. E então os mesmos cientistas que hoje estão apontando para a última fronteira da Criação (aquela que teria iniciado o infinito ciclo de universos gerados a partir da ordem de criação direta de Deus) teriam que, além de perder todo o “ciúme gnosiológico” da competição entre saberes, adquirir a humildade de reconhecer a veracidade da afirmação religiosa que diz que a culpa é do Homem, e sem um arrependimento profundo a última porta não se abrirá.
Entretanto, para a Ciência chegar a tal milagre de humildade, duas coisas teriam que ocorrer simultaneamente: a Ciência convencer a Humanidade para a aceitação de uma verdade religiosa – que talvez só uma religião tenha – e a Humanidade fazer nascer novos homens de ciência, já acostumados à dura verdade de sua culpa para enxergar Deus atrás da última porta. Difícil, sem dúvida. Mas existem sinais de que este grande momento já é visível no horizonte da Ciência.
Chegamos à “Teoria M”, que o filme repete várias vezes, e num certo trecho, repete didaticamente para a nossa memorização consciente. “Teoria M”, “Teoria M”, “Teoria M”, manda o diretor, por estar convencido de que ali está o segredo. E diz que este “M” poderia ser “Magia”, “Mistério”, “Milagre”, “Madness” (loucura), etc., finalizando com a noção de que o “M” se aplica melhor à “Teoria do Multiverso”, e assim pode ser perenizada nos anais da Astronomia.
Para chegar a ela, o caminho foi longo, longuíssimo. Numa película de pouco menos de uma hora, o diretor faz o telespectador caminhar ao longo do desenvolvimento histórico da pesquisa das origens do universo, priorizando sobre as descobertas alcançadas após a inquieta busca de Einstein pela verdade, que culminou com a sua tentativa de alcançar uma teoria geral que explicasse todo o Mistério Cósmico, ou seja, uma “Teoria do Tudo”, que esgotaria definitivamente toda a necessidade de pesquisa da Humanidade. Mostra até mesmo as idas e vindas, as alegrias do início de cada descoberta e as frustrações de cada continuidade, porque o dinamismo da verdade esteve sempre se batendo com o vício de presumir alcançá-la, como ficou claro na seqüência em que se vê a “Teoria do Tudo” equivaler a uma “Teoria do Nada”, que afinal reflete a mesma frustração do silêncio de Deus.
Contudo, a verdade vai avançando, e quem lhe der as mãos, sobretudo mãos humildes, deverá chegar ao ponto de poder ver o todo por dentro dela, e daí “traduzir” a História completa que resultou na criação daqueles que agora a estudam. Então se descobriu que o que se chama de universo infinito é também infinito no próprio conceito, pois cada descoberta aponta para um infinito mais profundo, seja em direção ao macro ou ao microcosmos. Então se pôde ver que a quantidade de dimensões da Criação (tida, a quantidade, como infinita), não passa de 11 dimensões vivas, sendo cada uma, entretanto, infinita e diferenciada, ao ponto de se constatar o exotismo da 11a Dimensão, que se desdobra em infinitas membranas balouçantes a produzir novos universos, que podem surgir até dentro de nossa gaveta de pijamas, e crescer infinitamente, sem se chocar com o nosso quarto e muito menos conosco, que o criamos em casa!
Vê-se assim, que o infinito se alonga em sua própria complexidade, de tal modo que uma única dimensão, a 11a, se comporta infinitamente diferente das outras infinitas, sendo ela, inexplicavelmente, aquela que produz os novos universos, e não a primeira, que jamais iniciou nenhuma. Ora, mas como uma coisa infinita pode se alongar, exceto ao criar novos infinitos? E como um infinito pode ser criado por outro infinito que não seja ele mesmo?
A Criação, aqui, ficou clara na eclosão dos infinitos “Big-bangs” iniciais, que vão criando – sem destruir nada – novas realidades nas quais os outros infinitos vão nascendo. As franjas ou membranas que serpenteiam e aparentemente colidem em explosões nada mais fazem que criar tudo, e o tudo fica cada vez maior, o que é outra impossibilidade lógica (para a pífia lógica humana), já que o tudo se auto-define como o inacrescentável. Pelo menos uma lição ficou do tudo que não é tudo: que é necessário acrescentar teoria após teoria, noção após noção, visão após visão, para ir tateando até chegar ao piso da varanda de Deus e bater à Sua porta.
Da Teoria da Relatividade, passando pela curvatura do espaço (Zé Ramalho) e pela manipulação do tempo pela velocidade, alcançando a diferenciação/unicidade entre a luz e os sólidos, entre a matéria e a energia, entre as partículas e as ondas que depois viram cordas de uma celestial sinfonia, foram sendo destronadas cada uma das versões apresentadas pela ciência sem caírem do trono, mas formando degraus firmes para a última varanda, cujo tapete real foi feito dos tecidos invisíveis das membranas cósmicas, que o grande Arquiteto teceu.
Chegando à varanda, talvez cansados pela longa estrada na escuridão e no silêncio da surdez voluntária, a Humanidade pode agora estar numa posição única e sui generis, ou naquela de onde pela primeira vez possa ter eliminado todos os ruídos entre si e o Criador, para ouvir dEle (se é que alguém ouvirá) onde está a chave da porta. E não deverá ser nada espantoso ouvir dEle que a chave está dentro de nós, e todo o esforço de busca foi inútil, se nos mantivermos os mesmos na varanda. Triste ironia das ironias, quando Jesus já tinha ensinado, há milênios, que a chave do Reino está dentro de nós.
(*) E em relação às obras de CS Lewis, há outras relações impressionantes; senão vejamos: (1) No livro “The Great divorce” – ‘O Grande Abismo’ –, após a subida vertiginosa do ônibus que conduz as almas à varanda do Paraíso, CS Lewis vê o seu informante lhe apontar o dedo para um minúsculo orifício no chão, menor que um buraco de formiga, e diz que foi dali que o ônibus veio, e era ali que residia todo o universo onde existem a Terra e o Hades; vê-se, no filme aqui comentado, que o orifício é muito menor, pois toda a grandeza da Via Láctea não passa de um átomo no meio de infinitos universos; (2) No primeiro livro da sua Trilogia Espacial, Lewis conta para seus leitores a história trazida por sua personagem principal, na qual os “eldila” explicaram que tudo aquilo que nós chamamos de “espaço” é ‘sólido’ para eles, e tudo o que é sólido para nós, é espaço para eles; todos os planetas e corpos celestes nada mais seriam que orifícios por onde os ‘eldila’ atravessam os universos, que são verdadeiras mansões sólidas de incontáveis luzes, chamadas estrelas, que são seus corpos etéreos; vê-se, no filme que ilustra o presente comentário, que as partes “sólidas” do multiverso, dependendo do observador, podem ser membranas ondulantes que criam a matéria-oca para os ‘eldila’, e o vazio infinito é o todo-sólido permeado de espaços onde nós ‘sólidos’ habitamos; e por aí vai…
……………………………………………………………………………………..Prof. JV.