A Graça das Garças (Entendendo a opção preferencial pelos pobres)

Entendendo a opção preferencial pelos pobres: Quando a Igreja prova que é sábia ao interpretar a Palavra de Deus – Texto-base subliminar: “Bem-aventurados são aqueles que lavaram as suas vestiduras no sangue do Cordeiro”

Garça-real e cascatasHá muitos anos faço caminhadas pelas matas e descampados do interior nordestino e também assisto filmes e documentários sobre outros caminhantes, verificando, com alegria, que o cenário aqui descrito é comum a todos. Refiro-me à visão de garças reais ou garças-brancas (Casmerodius Albus Egretta) nos lagos, rios e açudes a região, às quais se fazem presentes em todo o território nacional e no resto do mundo, pois o animal é um dos mais presentes em todos os ecossistemas, variando apenas a espécie ou família. Esta “onipresença” e brava resistência é justamente o tema desta reflexão.

A garça é uma ave excepcional e diferenciada, espelhando sempre uma nobreza ímpar, como poucos animais têm. Ela cumpre a sua dieta predominantemente à base de peixes e outros bichinhos aquáticos, o que lhe faz estar sempre próxima da água e denunciando águas onde existem peixes. É de voo cadenciado e lento, raramente indo muito mais alto que a copa das árvores mais altas. Se tivesse a carne saborosa como a das galinhas, dificilmente teria sobrevivido à Idade Média, onde o caçador era nobre, a caça benquista e o caçado troféu.

Mas o detalhe maior e mais chamativo das garças é a sua “alvura sacra”, tão branca que às vezes chega a refletir o sol! E mais, é de uma tecedura tão sedosa que quase não pega sujeira, mesmo quando caça sapos pulando nos lamaçais!… Isto já foi tanto espanto para os homens primitivos, quanto o foi objeto de pesquisa para os ornitólogos modernos. Porém é na sua brancura estelar que reside também o “mysterium salutis”, o qual deveria entronizá-la no alto da lista dos “animais sagrados”. Ora; rolinhas, pardais, papagaios e corujas têm cores quase idênticas às cores das árvores e montanhas onde vivem; gafanhotos, esperanças e camaleões se mimetizam com perfeição invejável, e os animais do Ártico têm todos cor branca, confundindo-se com a cor-ambiente da neve. Mas a garça não: sua cor é tudo o contrário do que deveria ter um animal grande e frágil, que precisasse de um disfarce qualquer para não ser caçado.

Garças não têm mimetismoA pergunta é: “Como um animal tão lento, tão desengonçado, de tamanho avantajado para uma ave, de asas tão pesadas (mesmo quando secas), de inocência tão flagrante, de inteligência tão curta, de confiança tão exagerada no ‘recurso’ do voo, e sobretudo, de plumagem tão vistosa e autodenunciante, poderá ter sobrevivo desde os primórdios da história das aves? Como um animal assim, com todas essas características de fragilidade e desproteção, pode ainda estar vivo na Terra (e em quantidade tão abundante que quase não esteve presente nas famosas listas de animais em extinção?), quando tantos outros, mais fortes e mais protegidos, já se foram?”… Mistério divinal!

Uma corrente científica se levanta e diz que as garças têm sobrevivido graças à sua carne dura e mal cheirosa, que não desperta o apetite de ninguém, exceto de jacarés famintos! Pode ser… embora isto não explique como outros animais, igualmente desagradáveis ao paladar, estão agora ameaçados de extinção. A carne dura e mal cheirosa é, portanto, apenas “a ponta do iceberg”, e igualmente significante. E creio que isto apenas aumenta o mistério, ou dá a ele a única resposta completa, a que nos fez escrever.

O Cristianismo tradicional, sobretudo o católico-romano, tem declarado reiteradas vezes a indeclinável opção preferencial pelos pobres, a qual teria sido escolha prévia de Deus (as aves são mais antigas que os mamíferos) e depois endossada pessoalmente, quando o Nazareno viu as indisfarçáveis semelhanças entre todos os desfavorecidos do mundo, sejam homens ou animais. Até na palavra de Jesus estava explicada a longevidade persistente dos desfavorecidos, quando o Cristo disse que “os pobres SEMPRE os tereis convosco”. Agora vemos que a frase também deve ser: “As garças sempre as tereis convosco”.

Pobreza pedinteSão os desfavorecidos, desprotegidos, de fuga lenta, de mente curta, de confiança ingênua, de presença marcante e autodenunciante, de cheiro desagradável, sem amparo policial, sem apoio governamental, sem apadrinhamentos, sem moradia fixa, etc., que receberam de Deus a sua maior atenção paternal, e isto doa em quem doer! As garças foram escolhidas por Deus para dar este exemplo vívido, estampado num animal branquíssimo e vistoso a todos, mas lento, quase incapaz de se defender, ou sem leis e advogados a protegê-lo (pois estes, no capitalismo autofágico, só defendem aqueles que os podem pagar regiamente).

A opção preferencial pelos pobres é, pois, um portentoso gesto da bondade de Deus, que corre a socorrer os desfavorecidos dos 4 cantos do mundo, não importando a cor da pele e o azul dos olhos, ao contrário do infeliz exemplo dado pelo ex-presidente Lula, quando apontava os culpados pela crise financeira atual. “Os ricos produziram a crise”, era isto que queria dizer o então presidente, que uma vez já se pronunciara assim na sua verborragia irrefreável (certamente ele falava tanto que, para não se repetir demais, acabava inventando “sinônimos toscos”, pois“brancos e de olhos azuis” não é, nem de longe, sinônimo de ricos, e Lula hoje já sabe que errou feio).

Portanto, Deus concorda com a culpabilidade dos ricos, quando faz a sua inexorável opção pelos pobres, e manda a Igreja pensar, pregar e vivenciar isto. Discorrer sobre onde estaria a culpa dos ricos seria chover no molhado, pois poucos de nós não estamos cansados de saber que a presunção, o egoísmo e o acúmulo de bens (sem piedade ou mesmo lembrança de gente passando fome) gera revolta e injustiça social, fazendo o país e o mundo mergulharem na mais tresloucada violência.

Pobreza e Leonardo BoffJá a defesa intransigente dos necessitados de tudo, dos sem amparo nenhum, dos que sofrem para conseguir quem se lembre de suas aflições, dos “encurvados” (“anawim”, este é o sentido de “pobres” no original bíblico), dos desvalidos, dos excluídos, etc., sim, a defesa destes chega a ser até o óbvio ululante na Justiça Divina, que tarda, mas não falha. Aliás, nem tarda, no calendário de Deus, como provam as angústias e depressões da ‘Classe A’ e o índice de suicídios nos países ricos.

A Graça das garças é então a mais bela manifestação da Justiça do Criador, cantada e decantada na sabedoria popular que de há muito entendeu que “Deus dá a roupa conforme o frio”. A pobreza está protegida pela Onipotência, como autêntico Sacramento de Deus, embora pareça estar no inferno da carência absoluta. Mas proteção é um sinônimo de Justiça, e esta de recompensa. Sim, a alvura está protegida, e pintará de branco lagos e rios até a volta do Rei. Mas ai de quem entender a alvura aqui apenas como a cor das garças.

 

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A estatura de Maria é muito mais alta do que podemos imaginar

Assim como para Deus-filho a experiência da vida humana lhe deu uma sabedoria inédita, para Deus-pai a vida espiritual no coração de Maria fez-Lhe viver um amor até então jamais vivido na íntegra de uma experiência em carne e osso.

Mãe MariaSob o consenso da maioria dos teólogos cristãos, o milagre da Encarnação foi o maior de todos os milagres. Nele, o Filho de Deus, segunda pessoa da Santíssima Trindade, se esvaziou de toda a sua onipotência e se fez carne, assumindo de vez a natureza humana e passando a vivenciar experiências que Deus, enquanto Deus, jamais o vivenciou “in loco”, ou dentro de um corpo de carne e osso(1*). Este fato e seu efeito na história divina será o ponto central deste artigo.

Entendida sob a ótica humana, essa experiência transcendental do Criador foi a única hipótese para vários milagres ocorrerem, não apenas aqueles tornados possíveis para um Homem 100% homem (Jesus), mas para outros a ocorrer DENTRO de Jesus, tal como Ele passou a habitar DENTRO de nós, tornando-se um só espírito com quem crê nEle (I Co 6,17). Se Ele jamais tivesse habitado entre nós na carne, qualquer milagre necessário – à nossa salvação ou a qualquer outro propósito – encontraria uma tremenda dificuldade de ser percebido, uma vez que tanto os milagres microscópicos (dentro de nós) quanto os milagres cósmicos, ficam ocultos à pequeneza de nossa visão, tal como revelam a Homeopatia, para os pequenos, e a Astronomia, para os grandes. Se era, pois, necessário, por culpa de nossa doentia incredulidade, que Ele operasse milagres que autenticassem sua Pessoa e Missão, era também necessário que Ele se tornasse “do nosso tamanho” para operar milagres “medianos” (por assim dizer), ou milagres que estivessem ao nível de nossos olhos tão desatentos.

O problema se agudiza quando entendemos, pela mecânica da salvação, que o grande milagre da Encarnação opera, no próprio Encarnado, pequenos e grandes milagres invisíveis (o único visível é o corpo vivo de Jesus e os milagres que Ele fez por meio do corpo), os quais se tornaram o único “modus vivendi” de um Deus entre nós, um Emanuel, que precisou de todos os cuidados de uma mãe e de toda a proteção de um pai humano para prosseguir crescendo em graça e sabedoria diante de Deus e dos homens. O que é preciso pontuar agora é que estes “mini-milagres” (grosso modo) não apenas serviam para Deus viver e cumprir as tarefas visíveis de sua missão terrestre, mas serviam também a operações DENTRO do próprio Deus, influenciando toda a sua vida divina na eternidade gloriosa, aquela que Lewis chamou de “Zoe”. Aqui deve-se deduzir, por óbvio, que o infinito Deus, o Senhor Onipotente que criou tudo, jamais havia passado pela miniaturização de sua onipotência desde o início da Criação, e por isso “adquiriu ‘boas novas’ inéditas” – como o outro lado da boa nova da salvação anunciada a nós – DENTRO de si mesmo, a saber, uma “ampliação de sua consciência” pela inusitada convivência encarnada com seres de carne, e assim também obteve um acréscimo de conhecimento até então impensável (impensável sim, se Ele se mantivesse apenas em sua vida gloriosa na eternidade), se é que haja alguém que possa entender como o conhecimento infinito ainda carecia de qualquer outro conhecimento.

E mais: Se Jesus passou por tudo isso e com isso passou a ser “um outro Deus” (bem entendido, um infinito ainda mais infinito), toda a santíssima Trindade foi ‘modificada’ num “plus” de qualificação indescritível, que mente alguma consegue ver a diferença introduzida, e muito menos a necessidade atendida. Porquanto se nada havia em Deus que fosse “melhorável”, em que Ele melhorou após a experiência humana ficará para as calendas gregas da Revelação ulterior que a Trindade fará de si mesma após o Juízo Final. E NADA mais se pode falar aqui, literalmente.

Mas podemos especular outro ângulo da missão de Jesus em que ele incorporou “novidades” para a Trindade. Ou outra área de sua atuação pela qual a santíssima Trindade colheu “dividendos” (perdoe Deus expressões tão pobres) ou “louros”, como sublimes fios de ouro para sua Glória excelsa. Podemos imaginar o Pai feliz ao final da missão vitoriosa do Cristo a colher todo o amor voluntário das almas bem-aventuradas, muito mais feliz pela solidez de almas egressas de um mundo-cão como o nosso, saídas literalmente de um inferno vivo. Porém nada se compara ao que a Trindade ganhou com a experiência íntima do Espírito de Deus no coração de Maria santíssima, que uma certa teologia nos autoriza a pensar, sem eufemismos, no Espírito feminino de Deus finalmente vivenciando em pessoa uma vida humana feminina, cumprindo em Maria todas as tarefas de uma mãe humana, sobretudo a mãe de seu próprio Filho, o Nazareno. [Discorro longamente sobre o assunto no livro “Radiografia de Maria”, encontrável no Google – Editoras Agbook e Clube de Autores].

Eis que este sinal aponta para todas as implicações de tão inefável Revelação, quando a pequeneza da mente humana recebe, pasma, o dado da “co-operação” íntima entre Maria e o seu Possuidor (nos dois sentidos, e mais que em qualquer um de nós), o Espírito que clama Aba-Pai dentro de todos nós, e que nela penetrou em todos os poros e chegou ao ponto de cobri-la até com sua sombra no momento da “concepção/fecundação” de Jesus em seu ventre (Lucas 1,35).

Sem um segundo de interrupção em sua graça santificante no interior de Maria, o Espírito do Senhor continuou sua minuciosa missão secreta em operações delicadíssimas e “perfeccionistas”, ‘lapidando’ a Virgem para a sua perfeita santificação mesmo na Terra conspurcada, resguardando-a de todos os deslizes próprios da criatura decaída que todos somos. Neste sentido, pode-se ver ainda melhor a missão do Espírito feminino de Deus em Maria, quando Jesus, quase 30 anos depois, diz haver perdão para quem blasfemar dele e até de seu Pai, mas do Espírito jamais (era como se Ele dissesse: “podem falar mal de quem quiser, mas nunca falem mal de minha mãe!”). Afinal, se Ele assumiu a natureza humana pelo milagre da Encarnação, nada mais lógico e justo que passasse a sentir, como um verdadeiro homem, um tremendo mal-estar com uma ofensa à sua genitora. E mais: a Teologia ensina que o tempo de Deus é apenas um eterno presente, não havendo para Ele passado e futuro. Isto é o que explica a ideia da Igreja de chamar Maria de Mãe de Deus, pois seus cuidados com Jesus “ainda hoje estão em andamento” (trabalho mais esta ideia NESTE link).

Inobstante, o que mais operou o Espírito de Deus no interior de Maria?

Maria linda com Jesus1Em primeiro lugar, a lembrança dos cuidados de minha própria mãe, que não deixou faltar absolutamente nada para seus filhos, sua atenção irrestrita, sua liberalidade infinita, sua proteção onipresente, sua sapiência prática em todas as áreas da vida, enfim, faz lembrar um tipo de cuidado próprio do gênero feminino, como CS Lewis mostrou existir entre a construção de Perel e Malac [dois planetas: um construído por alma feminina e outro pela masculina]. Um pai jamais atenta a certas coisas que o olho de uma mãe vê. A instrução de um pai nunca vai tão fundo na alma quanto aquela cuja alma foi toda cimentada pelo amor irrestrito para fazer uma nova geração enfrentar o mundo. O pai sempre alicerça o espírito e a razão. A mãe prepara a inteligência emocional e faz vencer. Com efeito, posso raciocinar e concluir, hoje em dia, que se minha pobre mãe humana teve cuidados tão meticulosos na criação e educação deste seu rebento, o quão zelosos e grandiloquentes não foram os cuidados de Maria com o Menino Jesus, e o quão portentosa não é a sua providência atual para com os seus filhos espirituais? Como Deus-pai recebeu e recebe, ainda hoje, a constante interferência de sua “pequena” Mãe em favor de seus filhos, quando uma “justiça masculina” grita sozinha? Para o Pai do Céu, ceder aos apelos de Maria de Nazaré é mais do que uma “obediência”, é um carinho que também a Ele faz um bem enorme – bem que nos é impossível conceber agora, com nossos corpos de carne e osso. Quando nossa mente for revestida pela incorruptibilidade, e quando nos for apresentada a atuação da Mãe ao final, não sei quem resistirá, sem lágrimas, à Revelação de tão sublime amor.

Em segundo lugar, a Escritura diz que o Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. Porém pensemos: não seria esta expressão o único eufemismo possível para englobar outras tantas atuações secretas do Espírito Santo? Será que Paulo não poderia ter dito que o Espírito intercede por nós com cheiros inebriantes? Com canções pacificantes? Com toques sutis minudentes? Com ajustes transcendentes? Com manobras periciais? Enfim, com influências angelicais nas entranhas da glândula pineal? Ora, se tudo isso pode ser pensado sobre nós, o que não devemos supor ter ocorrido com Maria? Melhor: por que tudo isso não foi o máximo em Maria?(2*) A mãe-Lógica, pelo menos, está a favor da Mãe…

Mas o problema reside exatamente aqui. O planeta perdido foi forçado a ver Maria, ora pelos olhos corporativistas do Catolicismo, ora pelos olhos ignorantes do Protestantismo. A visão ora pendia para chamar o sexo de pecado, ora para chamar a veneração de idolatria. Todavia Maria está muito acima de tudo isso! Tão acima que certamente curvou o seu próprio Filho… Se não no sentido literal, mas no bíblico “encurvado” (encurvado é o sentido original da palavra “pobre”), e Jesus certamente regozijou-se não apenas com a honra de ter uma mãe tão humilde, mas de ver nela tão grande qualidade e força a ponto de suportar dores para as quais Ele próprio pediu para passar o cálice! Saber e viver a cena da convivência diária com a vida sofrida de Maria, de ver seus cuidados maternais perpétuos, sua devoção à palavra do Filho, sua dedicação tão perfeita à religião de seus patrícios (ao ponto de mostrar para Jesus o que seria a obediência perfeita que Ele teria que demonstrar até o fim de sua vida, i.e., a obediência total que Ele devia a seu pai-carnal como ela obedecia em tudo a José em perfeita submissão), enfim, as lições de vida dela para Ele não foram apenas decisivas, mas imprescindíveis para que seu filho se tornasse homem – justamente aquele Homem em que se tornou – e o salvador da Humanidade, em modelo de obediência imorredoura. Provavelmente Maria também foi modelo de obediência até para o sacerdócio judaico, o que ajudou muito a Jesus na sua infância e juventude, dando-lhe tanto a visão das bênçãos quanto dos perigos que derivam das lideranças religiosas.

Esp SantoPode-se dizer agora que, sem medo algum, enquanto um grupo briga contra a estátua de sua mãe, o outro mal vê que a estatura dela faz sombra sobre Jesus, a mesma sombra que seu Pai lhe fez baixar lá na santa fecundação (Lucas 1,35). A lição de submissão que sua mãe lhe deu ao obedecer cegamente ao marido, foi não apenas perfeita, mas exemplar, já que Jesus “só” obedecia ao Pai, teoricamente “mais fácil” de obedecer no seio da Trindade, por assim dizer. Os olhares dEle e dEla se voltam então para a sua “Grande Mãe”, o Espírito que a criou e que O gerou, desde toda a eternidade, dando a ela os atributos da mãe-perfeita.

Se um cristão chegar a achar o Paraíso monoteísta meio monótono, não mais sentirá isso no colo de suas mães, na atmosfera da “feminilidade” do Céu, capaz de comover e encantar, enfim, até descrentes. Sim, a altura de Maria pode até ter eclipsado a Estatura de Cristo com a sua sombra, e Este sem dúvida a recebeu com prazer… Afinal, aquela Sombra também é seu Pai.

 

CHAMADAS DO TEXTO: _____________________________________

(1*) – Esta Escola crê que para a visão de CS Lewis, Jesus já experimentou outras “descidas” a planetas perdidos (outras encarnações, nunca reencarnação!), talvez muitas, a julgar por João 21,25, “vestindo-se” da matéria dos corpos dos seres locais, tal como ele mostrou nas “Crônicas de Nárnia”, quando Cristo encarnou no corpo de um Leão, num planeta próprio de animais, e onde os seres humanos eram “intrusos”.

(2*) – É muito provável que Maria, no Reino de Deus, receba muito mais atenção e honrarias do que o próprio Cristo. Isto se dá porque Nossa Senhora, além de ter sido o dócil receptáculo terreno do Salvador, foi também aquilo ao qual Ele quis “aninhar-se”, configurando-se e incorporando-se ao conjunto da natureza humana, e perdendo, para sempre, o “antigo” rosto veterotestamentário do Deus-pai “vingativo e autoritário”, passando a ser de agora e para sempre um Deus-humano, o que não apenas coroa com privilégios inefáveis toda a raça humana, mas também cria um novo mecanismo universal de administração do Livre-arbítrio, quando o próprio Deus a ele se sujeitou irrevogavelmente. Não é à-toa que a Igreja, Noiva indifamável do Nazareno, outorgou o título de RAINHA à Maria Santíssima, e lhe pôs na cabeça uma coroa que o próprio Deus jamais retirará, e com ela passou a dirigir-se à sua Mãe como sua Majestade. Tudo isso, diga-se de passagem, tem a inspiração direta do Espírito Santo, nossa grande Mãe divina a criar e entronizar Maria.

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O melhor homem do mundo jamais trabalhou e apenas sobrevivia

Se João Batista foi considerado o maior homem do mundo pela boca do próprio Jesus (Mateus 11,11), temos que ver a verdade: ele nunca trabalhou profissionalmente, e apenas estava no mundo a sobreviver, comendo a comida gratuita dos desertos (gafanhotos e mel de colméias).

São João BatistaQuem foi João Batista? Quem foi o profeta que preparou os caminhos e facilitou os discursos de Jesus? Simplesmente um Zé-ninguém! Isto é: Um Zé-ninguém para os padrões do homem moderno. Pior, João não era nada se comparado aos profissionais de hoje, todos engajados em “missões” para as empresas, sem tempo pra nada e preparados obsessivamente para o mercado de trabalho, com cursos e diplomas os mais diversos e atualizações constantes. Repetimos: Quem seria João hoje em dia? Provavelmente um peso morto para os amigos, família e sociedade, um pedinte, alguém que ninguém queria ter por perto, pelo risco de ouvir dele um pedido de e$mola.

Pior: João não tem diplomas, nunca fez nenhum curso, não toma banho (pelo menos não toma com a frequência com que tomamos hoje), não se interessa pelo mercado de trabalho, não está se preparando para nenhum cargo e só faz aquilo que gosta, sem remuneração, a saber, pregar a chegada do Reino de Deus. A tudo isso só caberia uma resposta, a de Paulo, à luz do trecho onde o apóstolo diz: “aquele que não trabalha também não deve comer!”. Ora, mas a João não cabe a bofetada de Paulo, pois ele se sustenta a si mesmo e não precisa de ninguém, nem mesmo de uma mulher para lhe ser “auxiliadora idônea”! Assim, como ele vive – com saúde de aço – a se alimentar apenas daquilo que suas mãos podem colher da natureza (gafanhotos e mel de abelhas do deserto: os nutricionistas de hoje, autores da ditadura da magreza, devem atentar para este novo filão: João era tão magro que Jesus o chamou de “caniço agitado pelo vento”! Logo, se João era um magricela e tinha saúde de aço comendo somente grilo e mel, talvez grilo e mel tenham vitaminas e substâncias tão fortes que as indústrias atuais deveriam comercializar para as academias e os bombadões de hoje, que tal a dica?), ninguém poderia reclamar de ele estar sendo “pesado” a alguém, pois ninguém estava pagando nada para ele!

cropped-deserto1Devido a tudo isso, muitos teólogos levantam a hipótese de que João não fosse exatamente um ser humano: talvez fosse um “híbrido angélico-humano”, ou algo como um novo “Noé”, um novo Enoque, cuja vida era alimentada diretamente por Deus – como foi Jesus alimentado pelos anjos após os 40 dias de solidão no Monte da Tentação (Lc 4,1-13) – e por isso ninguém poderia repetir ou imitar a vida de João, mesmo no tempo dele (ainda hoje há casos parecidos com o de João, mas o indivíduo não prega nada nem salva ninguém, mal conseguindo salvar-se! Veja NESTE link). Com efeito, mesmo que alguém decidisse abandonar tudo e ir viver isolado num rincão inóspito ou numa ilha paradisíaca, não estaria cumprindo a missão de João, que recebia milhares de pessoas todos os dias, ávidas para ouvir a mais pura e dura pregação de penitência, na qual ele sempre repetia: “O tempo do fim está próximo: arrependei-vos e crede no Evangelho”. E talvez, se alguém se isolasse para tanto, certamente teria muita dificuldade em viver apenas de gafanhoto e mel, não apenas porque nem todo lugar abriga gafanhotos (ele teria que comer ratos, lagartos ou outros insetos, nem sempre sadios), como também porque hoje em dia o fenômeno do Sumiço das Abelhas está acabando o mel e afetando todo o globo, e muitos cientistas dizem que este sumiço pode até significar o fim da raça humana.

Enfim, mas afinal, que lições estamos farejando ao rever a vida de João Batista? Trata-se de uma elucubração de acordar qualquer um; veja.

Quem quer que esteja vivo atualmente na Terra deve estar vivendo uma das seguintes situações de subsistência:

(1a) Nasceu rico, filho de grandes heranças;

(2a) Nasceu filho de alguém que tem um bom apadrinhamento político, e por isso chegou a entrar num ótimo emprego, de alta remuneração;

(3a) Nasceu com talentos suficientes ou um dom excepcional que lhe fez alcançar um trabalho bem remunerado naquilo que gosta de fazer, e por isso nunca teve dificuldade em se empregar;

(4a) Nasceu com um gene de disposição incansável, que lhe levou a estudar a fundo as matérias “inúteis” das escolas modernas, conseguindo diplomas consecutivos, sendo aprovado nas provas e concursos que pagou para concorrer a uma vaga entre 1.001 candidatos menos preparados. Etc.

Enfim, afora estas hipóteses, se o cidadão não tiver nenhuma tendência à desonestidade ou soluções ilegais, ele deve estar vendo urso de gola para entrar no mercado de trabalho, não possuindo riqueza inata, pistolões, talentos e estudos, e deve estar à míngua a bater à porta das empresas, recebendo em troca sonoros “não há vaga”, ou só temos vaga para trabalhos medonhos e pagos com salário mínimo.

The_Appearance_of_Christ for JohnLogo, o caso de João Batista também aponta um caminho de salvação. Porquanto justifica, com o carimbo de Deus, o estado deplorável de alguém que, não tendo apadrinhado político, nem riqueza de herança e nem aptidão para memorizar matérias inúteis para a sua espiritualidade (tais como contabilidade, estatística, economia, etc.), tenta sobreviver neste século sem ser pesado a ninguém. Porque João resolveu tudo isso – recebendo instrução apenas de Deus – com seus próprios recursos naturais, usufruindo dos frutos gratuitos da própria natureza.

A pergunta é: alguém poderia fazer o que João fazia, hoje em dia? Quem poderia não estudar e não trabalhar e mesmo assim viver feliz, bem alimentado apenas com aquilo que colhesse de graça do ambiente em que vivesse? Há alguém no mundo moderno que, sem estudar, sem trabalhar e sem receber ajuda financeira de ninguém, continua vivo, sadio e plenamente ativo no sentido cristão? Sim; deve haver alguém assim, pois o mundo é muito grande e ainda há áreas naturais onde eremitas são vistos a dar exemplo de abnegação e sobrevivência, embora jamais pregando o evangelho. Os canais Discovery, Nat Geo e History estão cheios de exemplos dessas pessoas, que vivem sozinhas, sadias e felizes, embora nenhuma atraindo multidões e salvando almas.

Enfim, faz muito bem à nossa consciência ouvir exemplos como o de João. Inda mais quando nos lembramos que quando Jesus disse “entre os nascidos de mulher ninguém foi maior do que João”, o Salvador estava se lembrando dEle mesmo (i.e, de si mesmo, pois Ele também nasceu de uma mulher), na humildade de se ver como Homem perfeito, mas com humildade infinita. Então, não admira que, quando Jesus se comparou a João na questão da bebida, julgou João até mais santo do que Ele neste quesito, pois João era absolutamente abstêmio, enquanto Jesus gostava bastante de um bom vinho! Alguém conhece algum exemplo de humildade maior do que a de um Deus que se considera “inferior” a um homem? Logo, João é o maior exemplo humano a iluminar a nossa vida, e que Deus nos permita chegar um dia a poder, pelo menos, desatar as correias de suas sandálias!

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Judas Iscariotes: uma hipótese plausível permanece

Teria a mentalidade cristã da igreja primitiva colocado Judas convenientemente como traidor, ou a traição de Judas foi apenas mais um ato macabro do chamado “Mistério da Iniqüidade”?

Judas e a imagem do remorsoA leitura dos chamados evangelhos apócrifos, como qualquer outra leitura (com a ressalva da necessidade da maturidade espiritual e do discernimento de espíritos), nunca poderá ser encarada como perigosa ou perniciosa para a educação cristã, seja numa Escola Dominical, num seminário teológico ou na cabeceira de um quarto de dormir. É evidente que a Palavra de Deus, deixada abandonada à própria sorte da malícia humana, jamais resistiria ao bombardeio de contra-informações e distorções que o diabo levantaria contra ela, como a própria Medicina oferece os mais vívidos exemplos dessa verdade.

Ora; se ninguém pode ter uma informação 100% segura em relação à saúde em geral e nem em relação às doenças que acometem cada um de nós, e se nem mesmo os médicos têm 100% de segurança, quanto mais não estará em nós insegura a informação acerca da saúde espiritual das almas da Terra, dominada por um médico espiritual lúgubre e interessado na desgraça humana!?… O problema é que todo o nosso planeta perdeu a confiabilidade! E a Bíblia, por conseguinte, foi levada de roldão no turbilhão de incertezas de um planeta desgovernado, fadado à extinção do ser e do existir! A própria história bíblica oficial, não fosse a mão zelosa, cuidadosa e maternal da Igreja, iria exibir capítulos indigestos, pois poucos de nós – ou ninguém – iria afiançar um centavo sequer nas memórias longínquas de personagens perdidos no tempo, cujos nomes foram “habilmente” (Lucas 16,8) trocados para dar alguma credibilidade às tradições orais de “presumíveis” testemunhas oculares.

E mais: a Igreja, “bendita e santa mãe da Esperança” (e a rigor, única salvaguarda da sanidade mental da Humanidade), percebendo a enxurrada de “evangelhos” escritos para falar sobre aquele “estranho personagem que ‘sumiu’ do túmulo”, decidiu – em consenso até certo ponto “forçado” – abonar ou oficializar apenas 4 (quatro) relatos da passagem de Jesus, ou 4 “livros de memórias”, julgando mais coerentes e condizentes com a “Lógica da Esperança”. Assim sendo, urge explicar esta lógica agora:

RessurcruzCristo é a única esperança para a Humanidade perdida! Sem aquele Jesus de Nazaré que nasceu de uma virgem, pregou o amor e ressuscitou ao terceiro dia, toda a História humana perde o sentido, e o próprio universo se constituiria num absurdo encravado em mil outros absurdos, perdendo toda a razão do próprio verbo existir. Isto é: se Jesus não existisse, ou se jamais tivesse vindo à Terra, toda a vida humana poderia ser encarada como um ingrato jogo de roleta russa do universo, que se iludira consigo mesmo, tentando achar fôlego para respirar num paraíso de pureza e perfeição. Seria como se o universo, que conseguiu a duras penas chegar a formar seres pensantes como nós, ao final simplesmente se despedisse e nos dissesse: “bem, vocês já viram o que seria uma existência; então agora podem voltar à inexistência”. É aquela antiga história de nadar nadar e morrer na praia.

Quem alterou este drama real da existência? Quem modificou todo este “status quo” da desesperança? Somente Jesus Cristo. Nem Buda, nem Confúcio, nem Zoroastro, nem Zeus, nem Enki nem Enlil, nem qualquer outro grande personagem da História, trouxe uma realidade que transcende a vida biológica e dá sentido concreto a uma vida além ou no Além, e por isso a Igreja, sábia como nunca ninguém jamais foi, intuiu com inacreditável altruísmo que, se aquele Jesus de Nazaré (talvez antevisto em sonhos) nunca tivesse chegado a existir, toda a infelicidade humana seria ainda pior, pois a própria vida seria uma crueldade em si mesma, ou seria apenas a maldade pela maldade. Ou seja: a infelicidade do mero fato do existir humano tenderia – e de fato o faz – a acabar até com a lógica da existência de Deus, pois este seria então ou um deus cruel (capaz de criar seres apenas para maltratá-los), ou um deus bom mas impotente, tipo frustrante, imaginário, inexistente, já que um ser benigno jamais aceitaria criar seres vivos apenas para maltratá-los.

Enfim, vendo tudo isso, a sábia mãe-Igreja entrou em cena com todo gás, tomou o único lugar onde ela seria 100% útil e salvífica, e assumiu para si todo o ônus de assegurar que a História (até então estória) de um Deus infinito que se transforma em homem de carne e osso e morre entre nós ficasse preservada nos papiros e velhas folhas de pele de carneiro, como se dissesse: “esta história é tão útil para a saúde mental e espiritual da humanidade que, mesmo que no futuro se prove ser um embuste das memórias falhas dessa gente, ainda assim ela deve existir, ou ter o seu lugar no meio dos registros humanos, COMO ÚLTIMA TERAPIA PARA A DESESPERANÇA”. Cabe aqui o pensamento: “Se Jesus jamais tivesse existido, alguém teria que inventá-LO, pois sua ausência deixa uma lacuna impreenchível na História deste planeta”.

bible_crucifix_lg_clrE isto faz sentido em todos os sentidos, e vai além, pois a passagem de Jesus pelo mundo e toda a sua teologia são tão lógicas que nem chegam a necessitar da Bíblia para erigir-se e firmar-se como verdade; e assim qualquer alma humana, sedenta de conhecer o outro lado e impulsionada por sua angústia de solidão, encontraria senão a mesma história, mas um estranho conto persistente entre sua lucidez diurna e seus sonhos noturnos, capaz de fazê-lo recitar a saga de um Deus assassinado pela maldade humana em poesia, ou mesmo o abraço do Pai em uma estranha canção subconsciente.

Logo, voltemos ao papel infinitamente divinal da Igreja no mundo. Foi ela quem selecionou os ditos “evangelhos” para a posteridade guardar como jóia preciosa da Esperança. Foi ela quem viu, pela primeira vez, a coerência interna dos chamados evangelhos canônicos, única que deixava o Cristo em relevo e a salvação da Humanidade assegurada, contra todas as vozes discordantes da época ou céticas de agora, escolhendo as palavras exatas de Jesus e as passagens mais relevantes de seu exemplo de vida, exemplo que iria ajudar a salvar aqueles que acreditassem nele e o imitassem.

Judas e o beijo desenhadoEntão vem a pergunta: Como a Igreja selecionou a história de Judas Iscariotes? Ou pior: por que cargas d’água a Igreja desprezou o evangelho escrito pelo próprio Judas? Ora; assim como os chamados evangelhos canônicos podem não ter sido escritos pelos homens cujo nome herdaram, o de Judas também não deve ter sido escrito por ele e muito menos pelos seus seguidores, e assim a escolha da Igreja foi tão somente ideológica, ou lógica, juntando as pedras do quebra-cabeças da salvação e intuindo sobre QUAL papel se ajustaria melhor à figura do tesoureiro dos apóstolos.

Ora; a Missão do Cristo era bem definida: assumir a natureza humana e resgatá-la, num modo resumidíssimo de dizer. O resgate precisava salvar as almas humanas do caos mental e espiritual em que haviam caído, juntando os cacos das personalidades fendidas pelo vício e pelo pecado. E esta tarefa, a rigor, não precisava de longo tempo para surtir efeito, até porque a maior parte dela iria ocorrer no ambiente post mortem, quando Jesus tivesse descido ao – ou estivesse no – Hades e lá conseguisse “conquistar” os rebeldes que O haviam rejeitado durante a vida inteira. Estas duas partes, a conversão pelo arrependimento na terra, e a conquista dos fantasmas rebeldes, perfazia tudo o que Deus precisava fazer, se quisesse ter de volta as almas perdidas.

Então, adiantando o raciocínio e antevendo tudo isso:

(1) Jesus pode ter intuído que não haveria a menor necessidade de Ele chegar um dia a envelhecer entre nós, tornando-se um velho barbado e bondoso a contar histórias do Paraíso (mas mesmo assim visto como um incômodo ou um estorvo para muitas pessoas). Ele certamente também viu que sua ida mais urgente ao Hades lhe daria um tempo maior para realizar outros resgates em outros lugares, já que Ele mesmo disse possuir outras ovelhas que também necessitavam de pastor (João 10,16), talvez até em outros planetas! (Não que Ele não tivesse tempo, mas que o tempo exato, o momento oportuno e o dia da salvação, talvez chegassem num ponto-X do tempo de cada planeta, e Ele não podia chegar lá num outro dia!).

(2) Jesus pode ter começado a sentir em si os problemas decorrentes da área da saúde* – pasmem! – ou da área trabalhista** (para espanto nosso), como explicaremos a seguir, e por isso pode ter pedido a Judas para “acelerar” o Seu sacrifício, antecipando a crucificação em anos ou décadas!: [*Na saúde: o cansaço bateria mais forte, e o corpo já não responderia à altura das necessidades de sua árdua missão, e assim Ele precisaria estar sempre usando ou reivindicando a sua natureza divina para evitar contratempos. Os ossos já estariam “pesando” em peneplanícies e os músculos já doíam em grandes subidas íngremes, sem falar de problemas na respiração e na circulação sanguínea: todos efeitos naturais do envelhecimento, que o milagre da Encarnação não eliminaria pela lógica de aderir integralmente à natureza humana tridimensional. – **Na área trabalhista: Ele precisaria e de fato precisou diminuir muito a sua carga de trabalho secular – para dar conta da missão evangelizatória – e assim, por via “menos honrosa”, deve ter sido até certo ponto “sustentado” por mulheres, mulheres que O amavam, dentre elas Maria Madalena (de onde talvez ninguém soubesse direito a origem do dinheiro dela, segundo alguns historiadores católicos e evangelhos apócrifos)].

Enfim, analisando a situação toda, e tendo uma amizade profunda com Judas (até ao ponto de confiar a ele a guarda das finanças do grupo), pode ter estremecido em seu coração e com isso intuiu que a única maneira de antecipar sua morte, seria provocar a ira dos sacerdotes judeus. E pior, após todos os casos em que estes se irritaram com Ele, o Nazareno via que eles se demoravam em vir atrás dele, talvez querendo dar um tempo para ver se o movimento arrefecia as energias. Como Jesus sabia que as suas próprias energias iriam arrefecer com o tempo, pediu a Judas (em particular e ao pé do ouvido) que apressasse a sua entrega à morte; e só pediu isso a Judas, não porque ele fosse o pior dos apóstolos, ou o pior dos traidores, mas justamente pelo contrário: porque somente Judas seria capaz de entendê-LO, o que nos leva a ver em Judas uma espiritualidade muito maior que a dos outros discípulos (pelo menos muito maior do que Pedro, que quis até impedir Cristo de ir à cruz!). Judas então, obediente como sempre, correu e contou aos sacerdotes onde iria estar Jesus à noite.

Judas Iscariotes como santoSei que todos vão se perguntar: se Judas era tão bom, por que se suicidou? Há duas respostas a considerar aqui. Primeiro, o suicídio de Judas parece não ter sido corroborado por alguns evangelhos apócrifos, e até historiadores como Flávio Josefo traz uma narrativa típica de uma pós-leitura dos evangelhos hoje tidos como canônicos. Segundo, nem todos os suicídios são, por assim dizer, um ato cruel ou tresloucado, e é por isso que a Santa Igreja hoje em dia não julga presentes no inferno nem mesmo quem tirou a própria vida. Um suicídio de alguém cuja morte salvaria outros, pode ser até um ato louvável, por assim dizer. Um suicídio em Judas, pelo menos, traria a lição 100% didática de que ninguém deve TRAIR a confiança de Deus, pois Deus não se deixa enrolar. Já um suicídio de alguém que se mata com uma bomba no peito dentro de um trem lotado perde todo o caráter louvável de uma obra para Deus, porque levou muitas outras pessoas consigo e tornou seu ato um mero assassinato em obediência a uma religião ou a um estranho deus (mas nem mesmo neste caso se pode dizer que o suicida está no inferno, pois havia um soldado idólatra de Tasha que Aslam recebeu em seu Reino com honras, porque sabia que sua devoção ao inimigo no fundo era uma confusão de identidades, e ele na verdade era um nobre seguidor da Aslam! – quem não se lembra desse episódio no último livro das Crônicas de Nárnia?).

Finalmente, cremos que a história de Judas pode deixar em todos nós um salutar ponto de interrogação para Deus responder no dia do Juízo: estará Judas entre nós os salvos benditos do Senhor e ele será uma das surpresas de que falava Ezequiel 31,14? Ou prevalecerá a lógica da velha igreja, que não perdoa um suicida? Será dito de Judas que ele é maldito porque traiu Jesus, ou será apresentado um senhor Judas, humilde e sábio, que levou o Cristo à cruz e ao Hades? Não sabemos mesmo. É um mistério profundo de Deus e das Escrituras; ou então, se comungamos da mesma fé dos apóstolos, é apenas o Mistério da Iniquidade, que operou em Judas e ainda hoje nos impede de ver a verdade. O leitor decide na sua santa paz.

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Coisas que Jesus disse e que não estão na Bíblia

A necessidade de comunicar o essencial e explicar o imprescindível levou os escritores canônicos a resumir tudo, além daquilo que conseguiram lembrar da convivência com Jesus e seus apóstolos.

Jesus Pregando-2Dentro da estratégia de contar o essencial (única possível para possibilitar a comunicação da verdade salvadora) exposta no Evangelho de João, 21:25, muitas deduções válidas são perfeitamente plausíveis e aceitáveis, quando o comentarista ou hermeneuta se importa em usar a Lógica e a coerência bíblica, seguindo o mesmo sentido de interpretação do Velho Testamento levado a cabo pelos apóstolos e escritores do Novo Testamento.

Noutras palavras: fazendo como os autores canônicos do Novo Testamento fizeram, i.e., interpretando o Velho Testamento à luz da Lógica que aponta para a vinda de um salvador humano (mas que seria ao mesmo tempo o Deus Javé criador e o Messias), tudo o mais girará em torno desse fundamental personagem da História, e todas as demais elucubrações e teologias devem se filiar àquela Lógica, desdobrando-se em todas as orientações de vida contidas na Razão e no bom senso. É aqui que está o argumento deste artigo, a saber, a enorme quantidade de revelações não contidas no texto oficial ou canônico das Escrituras, as quais a Lógica manda acrescentar para alcançar o bom senso de uma Revelação mais próxima daquilo que o próprio Deus revelaria, se as tivesse escrito!

Entretanto e infelizmente, nem mesmo os cristãos, i.e., as pessoas mais indicadas para “ampliar” os sentidos ocultos nas entrelinhas e de quem mais se deveria esperar a hermenêutica perfeita, na maioria das vezes se acanham ou se omitem – por medo, certamente, oriundo de uma má interpretação de Apocalipse 22,18-19!… E assim, infelizmente para as almas, as pregações da Palavra de Deus claudicam entre o simplório e o medíocre, deixando toda a Cristandade a se alimentar apenas de leite espiritual, e nada de alimento sólido! (Para não fazer qualquer injustiça, é claro que há alguns grupos, teologias e pregadores que foram, e vão, além da mera letra morta; e, fazendo assim, fazem a Humanidade galgar patamares espirituais muito mais elevados, para a nossa segurança e glória de Deus: aqui se incluem pregadores como C.S. Lewis, G.K. Chesterton, o teólogo João Batista Libânio, o grande Russel Champlin, John Stott, Elizabeth Rice Handford, Padre Enemias Bravo, Monsenhor Abib e alguns mais que a memória cansada não resgata neste instante).

Jesus pregando-1Então chegamos ao ponto central: Existem coisas que a Bíblia não revelou? Sim. Claro. Ela própria diz isso, em trechos como: Dt 29,29; João 3,12; João 16,12; Mateus 10,26 e 13,11; II Coríntios 14,1-4; etc. A outra pergunta é: “essas outras coisas não reveladas são proibidas? Ou prejudiciais aos ouvintes?”. Proibidas? Jamais! Prejudiciais? Depende de quem ouve, em relação à maturidade mental e intelectual. Isto significa que tais revelações não foram feitas por Deus tão somente porque os seus ouvintes, da época de Jesus, não tinham condições “psicointelectuais” (tanto emocionais, como culturais de erudição, quanto de tecnologia da informação), de alcançar o sentido final da mensagem, e por isso esta poderia prejudicar ou precipitar mentes ingênuas em terrenos inadequados para elas; ou até que a Humanidade tivesse chegado a compreender coisas que o avanço científico revelaria para quem tivesse acesso ao seu ensino.

Neste mister, portanto, é óbvio que a Lógica manda acreditar que o próprio Jesus, em muitas ocasiões de seu ministério, deve ter vivido o drama duplo de ter coisas para contar que poderiam prejudicar seus ouvintes, e/ou pior, deve ter contado coisas que os autores canônicos não registraram – e não registraram ora por equivocada sintetização didática da verdade (naquela escolha difícil entre o essencial e o acessório), ora por falhas de memória ou falha das memórias (que eram muitas, de muitas pessoas), já que tudo o que escreveram foi produto do resgate das tradições orais que “perambulavam” entre os primeiros cristãos, após a Ressurreição do Nazareno.

Com efeito, por conta desse raciocínio irrefutável e até óbvio, pode-se agora admitir, com todos os méritos da verdade revelada, que Jesus falou coisas que não estão na Bíblia, e que as mesmas não são “bichos-de-7-cabeças” misteriosos, ou incapazes de se fazer entender pelo homem da era espacial ou tecnológica. Usando da Lógica aristotélica, do bom senso ou mesmo da moderna Física Quântica, muitas histórias que hoje já são verdades científicas devem ter sido pronunciadas por nosso Senhor e foram propositalmente omitidas ou involuntariamente esquecidas, em face, sobretudo, das duas justas razões acima apresentadas.

Ora; analisemos esta história com exemplos:

Com toda certeza lógica, Jesus jamais se esqueceu de:

1) Apontar para o futuro e dizer que “haverá tanta gente, mas tanta gente sobre a Terra, que nada será suficiente para mantê-los vivos, e mais de um bilhão de pessoas passarão fome”.

2) Apontar o dedo para as estrelas e dizer que “ali há muitas outras terras e eu preciso ir lá também para pastorear outros irmãos de vocês”.

3) Apontar o dedo para as grávidas e dizer que no futuro nenhuma mulher deveria ter filhos, para evitar o tremendo sofrimento deles e delas, sofrimento até pior do que Ele mesmo teve na cruz (mas os escritores canônicos registraram apenas aquela enigmática declaração em Lucas: 23,27-29).

4) Apontar para nós e dizer que tivemos a mesma origem dos macacos e que antes de Adão e Eva, todos os humanos eram primatas mudos como todos os animais. Quando o Pai soprou nos primeiros pais o Espírito da Luz, todos os animais passaram a falar, exatamente como falava a serpente que tentou Eva e não a espantou por falar.

Jesus-teachings5) Apontar o dedo para um grupo de crianças e dizer: “Vinde a mim as minhas criancinhas EDUCADAS, mas afastai de mim as malcriadas e os adolescentes tresloucados”;

6) Apontar o dedo para o Rio Jordão e dizer que todas as águas do planeta deixarão de ser potáveis, e até o mar agonizará sem vida, em águas escuras e revoltas, que muitas vezes invadirão as terras em ondas enormes e compridas, que o povo chamará de tsunamis. Além disso, a 3a Guerra Mundial será motivada pela falta d’água.

7) Apontar o dedo para o Império Romano e dizer que um homem do outro lado da Terra, muito mais longe que Roma e muito mais poderoso que César, olhará para Israel e desejará a sua morte, podendo arremessar de lá flechas enormes de fogo e enxofre, que cairão do céu sem piedade alguma.

8) Apontar o dedo para uma taça de vinho e dizer que no futuro haverá uma substância tão perigosa que os homens a beberão pelo nariz, a qual os fará literalmente loucos, e o mundo se transformará num gigantesco manicômio, muito pior do que já é hoje em dia. Com aquela substância, filhos matarão pais e pais matarão filhos e todos farão qualquer coisa para conseguir dinheiro para manter seu vício.

9) Apontar o dedo para 30 moedas de prata e, lembrando-se de Judas, dirá que um dia ninguém mais confiará em ninguém, e a Humanidade deixará de ser humana. Não será à-toa que se dirá que a sociedade habitará com monstros, literalmente.

Collection_plate10) Apontar o dedo para o Templo judeu e dizer que um dia a desobediência geral da Lei de Deus pelos sacerdotes alcançará níveis tão alarmantes que até a Igreja claudicará, queimando pessoas vivas em fogueiras. E pior, quando esta era passar, uma nova igreja surgirá e só brilhará por um tempo, vindo depois uma época em que todo o Cristianismo perderá a confiança de todo o povo, pois a Nova Igreja só pensa em dinheiro e a velha só pensa em acobertar pecados sexuais.

11) Apontar o dedo para a Arca da Aliança e dizer que existem seres extraterrestres vivendo entre nós aqui mesmo na Terra. Mas vocês têm que chamá-los de “anjos”, pois ninguém entende o que são seres de outro planeta. Por tudo isso não desprezeis a hospitalidade.

12) Apontar o dedo para a espada de um soldado e dizer que nenhum cristão pode ser frouxo ou covarde, e que muitas vezes precisaremos de armas para defender outros cristãos, e também nossos filhos e mulheres. Aliás, também apontou o dedo para um advogado dos romanos e disse expressamente que, se nós cristãos quisermos conquistar o mundo todo, teremos que ser astutos como serpentes e mais hábeis que os filhos das trevas.

13) Apontar o dedo para os leprosos e dizer que uma pandemia de hidrofobia deixará bem visíveis a todo o povo os pecados mais sórdidos; e, como não acharão antídoto para salvar todo mundo, será preciso uma grande mortandade para permitir um difícil recomeço da Humanidade.

14) Apontar o dedo para um buraco na terra e dizer que os futuros “sábios” descobrirão um modo de fazer germes de metal (máquinas de nanotecnologia e chips) e com eles poderão não apenas promover genocídios, mas literalmente controlar a mente de todos, para que todo mundo só tenha o que comprar das mãos de Satanás.

15) Muitas outras coisas Jesus deve ter dito e apontado o dedo, e elas não foram escritas porque não caberiam nos livros do mundo inteiro (João 21,25): ESTA é a lógica mais cristalina e clara de todas as que a Teologia poderia expor; e quando a Teologia não faz isso, torna-se a pior de todas as ciências.

Enfim, o leitor pode constatar, por seu próprio nível intelectual, que essas coisas (que aqui dizemos terem sido faladas – ou sussurradas – por Jesus) possuem uma lógica intrínseca irretorquível, de tal modo que seria absolutamente ilógico se Jesus jamais as tivesse pronunciado! É o mesmo que pensar que um astronauta que visitou a Lua jamais tenha dito que se sentiu mais leve por lá, ou que uma adolescente estuprada não expressasse a angústia do que é viver uma relação violenta. E mais, se nem o astronauta nem a adolescente contassem nada, seria 100% lógico e até óbvio que alguém falasse sobre a gravidade da Lua – que torna o corpo humano mais leve – e do desespero causado por um estuprador, mesmo não tendo vivido tais experiências em pessoa. I.e., o bom senso obriga a eclosão de raciocínios lógicos por tabela, e não fazê-los é sucumbir à ignorância e a um tipo de estupidez jamais pretendida por Deus para seus filhos!… Afinal de contas, a Palavra de Deus é viva e eficaz, e, como todo bom adestrador sabe, cachorro 100% manso é cachorro morto. Os vivos sempre poderão surpreendê-lo e mordê-lo, como cabe a um bom cão de guarda. Assim é a Palavra de Deus: o cão de guarda de nossas almas rebeldes! (Para bom entendedor, meia palavra basta).

Felizes somos e seremos na medida em que nossa mente funcionar bem e nos permitir alcançar a plenitude da Revelação, que não se faz una, mas multifacetada e multidisciplinar, dada a extrema complexidade da mente divina criadora da complexidade de nossa mente; esta sim, cheia de mistérios desafiadores, justamente por estar DENTRO de nós e mesmo assim se manter inesquadrinhável. Falar da complexidade de Deus, aliás, deve ser apenas uma desculpa da preguiça mental que não quer se dar ao esforço de ir além, e se flagrar, de súbito, diante de uma realidade espantosa, seja por sua inefável bênção, seja por sua multiendereçada sinceridade.

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Por que os velhos esquecem tanto das coisas?

Além da entropia implacável da velhice, que destrói as células cerebrais e as sinapses, há algo mais a considerar nos esquecimentos frequentes, e talvez haja uma razão positiva a produzi-los.

mulher-idosa-triste-com-amnésia2A vida humana é cheia de histórias e casos, e fomos criados para registrar, no fundo de nossa psique, todos os eventos com os quais travamos contato. E se não tivesse ocorrido a tal Queda do Homem, certamente nossa memória lembraria de tudo, e ainda saberia selecionar aquilo que serviria melhor para uso, e aquilo que poderia ficar apenas arquivado, sem que isto um dia acordasse e viesse atrapalhar a paz da consciência.

Após a desastrosa Queda, entretanto, a memória de todos os homens passou a falhar, e não apenas como resultado da entropia corrosiva do corpo, mas também como efeito da vontade rebelde, que deliberadamente apaga aquilo que incomoda ou repreende o ego narcisista. Como cura ou último remédio para o desastre, o efeito decorrente não foi o pior, embora tenha o mesmo espírito providencial e proverbial de algo realizado “para evitar um mal maior”. Se a memória foi golpeada de morte no Éden, então nada mais lógico do que permitir uma falha intermitente e seletiva, pelo menos enquanto durasse a saúde física em geral.

Queda do HomemAssim sendo, os homens vão vivendo e se esquecem de muitas coisas em todas as idades, mas também se lembram de muitas coisas, ficando todo o restante perdido, para o bem ou para o mal. Esta situação perdura até mais ou menos os 60 anos de idade, quando então a memória passa a falhar drasticamente, e até irritando quem por ela é vitimado. As memórias mais presentes (ou mais próximas no tempo, e também as mais necessárias aos afazeres cotidianos) são as que mais falham e mais irritam, pois provocam prejuízos terríveis às rotinas diárias, não sendo raros os casos de esquecimento de fogões acesos, portas trancadas com a chave dentro, documentos importantes que ficaram no banco do jardim e a chuva molhou, viagens de carro sem verificar o estado dos pneus, recados de urgência que não foram dados, etc. Isto é uma abordagem geral do drama da memória humana, que se agudizará a partir daqui.

O problema é que a vida depois da Queda é sempre arriscada, por mais que queiram se iludir os defensores do otimismo cego ou do positivismo radical. Viver sobre a superfície de um planeta já é um risco de per si, bastando lembrar a queda de meteoros e outras intempéries, e sem considerar os revezes das próprias errâncias humanas, que cooperam entre si para deixar a vida ainda mais tensa ou sem graça, sobretudo quando não se vive intimamente a Graça de Deus.

Dentre os riscos a que todos estão sujeitos, seguem assombrosamente os perigos espirituais (Hebreus 6,1-6), quase sempre invisíveis ou camuflados, cuja incidência tende a propagar-se e a perpetuar-se na alma, afetando também a vida cotidiana. O maior de tais riscos, nem se nomeia, vem sempre para a alma perdida entre seus raciocínios e desejos, e constitui, na maioria dos casos, a infelicidade do descontrole do destino, em toda a sua polissemia. Mas não é propriamente este o nosso assunto. Um estágio anterior é mais útil discutir, não apenas por sua maior frequência, mas pela atual “febre” mundial incentivada pela Psicologia pós-moderna.

Chamou-se o problema de “Depressão” (cujo sinônimo também é “abismo”, segundo os dicionários), e o que foi explicitado no século passado foi “comprado” pela mídia de massa, após descobrir o tremendo IBOPE suscitado em torno de prazeres e pavores. O sexo e o medo ganharam o Oscar da Atração, com o mundo inteiro ávido por matérias que os entronizam e espalham, feito papel picotado ao vento. Entendamos então resumidamente a Depressão, para evitar malentendidos.

AmnesiaA Depressão ocorre quando uma “simples” contrariedade converte-se em decepção e esta se transforma, logo depois, em tristeza pegajosa. Este tipo de tristeza gera a angústia da dor e a dor da angústia, que faz da tristeza uma coisa permanente, e cujo desenrolar leva à Depressão. Todo o processo acima descrito é perpassado por buscas e raciocínios cíclicos, tendentes a ampliar o círculo a cada volta. Cada círculo conta com más lembranças, ora completas ora fragmentadas, de acordo com o efeito maior ‘pretendido’. E assim a mente se fende, a alma se inquieta e a morte espreita ou “consulta” a consciência.

É então que Deus precisa intervir. Ele sabe que a memória é uma parte essencial da alma, ou “do próprio SER para vir a ser”, sem a qual a auto-identificação fica prejudicada ou nula. Ele viu também o quanto a Queda edênica danificou este item imprescindível de sua Criação no Homem. Logo, após a Queda, providenciou ações de reparo, dentro do alcance permitido pela parte da alma não regida pelo Livre-arbítrio, e ali fixou as bases de uma memória de resgate, única capaz de ensejar uma vida humana mais – ou menos – longe do risco maior da anulação-fusão da alma pelo seu obsessor, o inimigo das almas.

Isto então já faz vislumbrar porque os velhos se esquecem tanto das coisas, e o caso se dá, em tese, assim: tendo colecionado infinitas memórias ao longo da vida (todas armazenadas, bem ou mal, no subconsciente), muitas coisas deveriam ser lembradas com fluidez, e muitas deveriam ser esquecidas, pelo bem maior do controle individual da lucidez, mantendo cada mente em perfeita sintonia com cada alma. Como a vida inteira foi vivida em regime de pecado, muitas experiências jamais deveriam ter ocorrido, e o retorno delas sempre poderá desencadear as mazelas a elas atreladas, trazendo consigo os obsessores parasitas, interessados exatamente na fusão daquela alma com a alma das trevas. O Criador então vê todos esses perigos e, na maioria das vezes, com as mãos amarradas pelo Livre-arbítrio das criaturas, não encontrou outro caminho senão o de “fragilizar e/ou desconectar a alma de certas sinapses neuronais”, fazendo o indivíduo perder memórias que nunca deveriam voltar, embora com isso perdendo memórias das quais jamais deveria prescindir. Eis o único resumo possível para um simples artigo.

perda-de-memoria-alzheimerA sociedade inteira e, sobretudo as famílias, não conseguem conviver bem com os idosos, por conta dos esquecimentos frequentes, muitas vezes irritantes e perigosos. Isto é verdade, sem dúvida, e não podemos esquecer das famílias “angelicais”, cujos velhos são tratados como a florzinha do Pequeno Príncipe (não é o nosso tema). Porém, de um modo geral e bem apoiado pelas estatísticas, a maioria não sabe conviver com os velhos, o que explica a enorme quantidade deles que são despejados em clínicas de repouso e asilos, onde geralmente morrem sem a proximidade dos parentes. Todavia, na calada da noite da senilidade, e nos labirintos do subconsciente, Deus se mantém operando milagres invisíveis e especialmente salvadores, longe do que nem sequer imagina a maioria dos familiares dos idosos.

Deus fica “acima dos cordões de marionetes”, vendo a operação abaixo de si, e dando uma puxada ou outra nos fios, ou um empurrãozinho ou outro nas hastes, tudo para fazer eclodir apenas memórias saudáveis, incapazes de gerar o desespero da proximidade da morte, deixando o paulatino passamento “lubrificado” com um mínimo de consciência, enquanto consola e conforta a alma num ninho de amor que protege e ilumina. As demais memórias, aquelas que muitas vezes o velho até gostaria de lembrar, ficam congeladas e ocultas, e no meio delas se vão chaves perdidas, nomes omitidos, documentos guardados não se sabe aonde, dias sem nexo e todos aqueles esquecimentos que irritam quem lhe rodeia. Desta forma, protegido das imundícies sugeridas por obsessores, o cérebro pode se “desintegrar tranqüilo”, sem que a alma sofra maiores influências desesperantes, encarando o desencarne como um mero adormecer (certamente indolor), até que os olhos se abram de novo numa Alvorada Eterna, olhando para o Paraíso feliz.

Está explicada a razão das irritantes falhas de memória dos velhos de nosso convívio, e faríamos bem se entendêssemos que seus esquecimentos são uma providencial estratégia de Deus para garantir a chegada mais rápida ao Paraíso, ou uma subida menos arriscada pelos túneis escuros do Vale da sombra da morte. Pelo menos, se tivermos a divina “sorte” de contar com estes auxílios de Deus, geralmente executados por anjos do Além, nem precisaremos lembrar dos desconfortos e irritações que provocamos nos nossos familiares mais carinhosos. Um dia eles também serão esquecedores e chatos, e seus filhos e netos é quem os suportarão. Mas pelo menos agora eles podem saber que esquecer é muito bom, às vezes até melhor que lembrar. E eu não me lembro para que escrevi isso.

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Semana Lewis: O Deus das surpresas intermináveis

Versejando como CS Lewis pensava sobre Deus e sua creação

Ode à longa e evolutiva creação de Deus realizada na trindade humana pela Ss. Trindade

(Poema narrativo em 1ª Pessoa do Singular, que pode ser visto em vídeo pelo seguinte link: O Deus das surpresas intermináveis)

Lucy afasta o cobertor doEu não existia. Por isso esta voz é presente. Deus pensou em me criar, como criatura livre, há bilhões de anos passados, ou trilhões. Antes de me criar, criou sua legião de anjos e seres intermediários,
todos livres, seus auxiliares no puro amor da bondade sem mácula.
A humildade infinita de Deus propunha criar um conselho de ministros, no qual os anjos participariam, além das três pessoas da Trindade. E Deus discutiu a criação da matéria tridimensional com o conselho.

Gente graúda do conselho opinou que esta última criação não daria certo. Aliás, apostou que o projeto não era viável, pois a liberdade total é um fardo muito pesado, em termos de responsabilidades, para colocar nas costas de gente tão miúda quanto nós humanos. Razões à parte, o amor de Deus (ou sua loucura de amor) era tão grande, que decidiu arriscar, correr o risco, de apostar no contrário, isto é, apostou que a criação tridimensional daria certo, mesmo possuindo animais racionais com liberdade de escolha de todas as suas ações, para o bem ou para o mal.

E então eu fui criado. Logo logo pensei que seria um ser tão belo e puro que faria “inveja” a anjos, e parece que foi isso mesmo o que ocorreu, muito tempo depois. Mas me enganei. Porque eu pensei que iria ganhar um corpo forte e denso, que ocupasse o espaço como os anjos ocupam. Mas me enganei. Não ganhei corpo, e fui mantido como gás durante muito tempo, ou num tempo sem medida após a criação do tempo. Depois de todo esse tempo, pensei que iria deixar de ser gás e me tornar vento, com lindas rajadas de brisa perfumada a encantar as fadas.

Mas me enganei. Tornei-me uma espécie de vapor sem cor e inodoro, a exalar-se das entranhas do pensamento de Deus nutrido em amor. Tinha a consistência da brisa sonhada, mas não passava disto. Depois fui feito uma espécie de névoa quente, com opacidade tal que parecia pó nitrogenado, esvoaçante sob a força das luas e das marés. Pensei que iria ser logo transformado de pó em areia, mas me enganei. Saí flutuando feito um louco por entre as montanhas de um mundo estranho, pois nenhum dos planetas havia sido retirado das estrelas.

Então fui feito poeira densa e, ao juntar-me pelos ventos, virei areia.
Mas me enganei. Pensei que esta poeira poderia virar castelo de areia mas não “colava” nada, e muito menos as suas moléculas velozes. Enfim, ganhei consistência e aderência para juntar-me aos pedaços e logo logo corri para um só lugar, onde tentei equilibrar-me em colunas, na esperança de construir uma cidade fortificada com torres e muralhas. Mas me enganei. A areia juntou-se numa sopa balouçante de unguentos que perdiam solidez ao contato com a água, nascente não sei onde.

E a água cresceu bastante. Tanto que virou um oceano que parecia sem fim. E eu fui parar lá no fundo, sem cor de areia e misturado a plânctons e algas. Mexia-me muito com as ondas e os tentáculos de pequenas medusas que iam e vinham ao sabor das correntes líquidas cheias de protozoários. Então Deus me tornou um deles pela situação próxima da fusão e eu pensei que nadaria como eles, levados pelas correntes e medusas. Mas me enganei. Caí para os abismos colossais da escuridão viva das águas mesozóicas, e logo logo fui guindado para o âmago de um serGirinos em evolução que em breve cresceria. E ele cresceu nas profundezas e virou algo parecido com um girino marinho, a princípio sem pés ou cauda. Eu pensei que logo logo me livraria dele, ou da condição de ser transportado por outro, mas me enganei. Cresci com ele e me fundi ali. Sem sentir o tempo passar, aquele ser passou a ser meu primeiro corpo, embora fosse tão minúsculo que nem merecia este nome. E eu pensei que fosse crescer, como aparentemente tudo estava crescendo. Mas me enganei. Permaneci do mesmo tamanho por tanto tempo que…

Toda a geração seguinte dependeu de mim, pois era a minha nutrição quem parecia sustentar-lhes a vida, e aí pensei que eu ainda fosse 100% inútil, mas me enganei. Eu não tinha o menor sinal de consciência, mas já tinha conformação para com a gigantesca cadeia alimentar que se iniciava três degraus abaixo de minha lenta evolução… E, como por milagre, quando eu alimentava outros seres, eles se tornavam uma parte de mim ou eu me tornava em parte deles. Então pensei que aquilo que eu alimentava era eu mesmo…

Mas eu me enganei. Então Deus interrompeu o processo e me tirou dali, fazendo-me voltar ao lugar onde mantinha sua oficina de criação. Num tempo indeterminado, fui repensado e inserido naquele mundo onde a sopa marinha produzia seres os mais diversos, e onde eu nadei ao lado de protozoários e medusas. E eu pensei que chegaria ali como um pássaro marinho ou um peixe voador, mas me enganei.
Cheguei ali vindo das mãos de um anjo construtor que me colocou
Nas rochas que afloravam do mar, como uma branca “barata marinha”.

Eu pensei que teria vida fácil, mas me enganei. Pois eu também servia de alimento para pássaros e caranguejos, e vi que a luta pela sobrevivência era um grande segredo da Evolução. Muitas de nós morriam daquele modo, muito antes que imaginassem durar uns dias. E eu pensei que fosse ser devorada logo, mas me enganei. Fiquei naquela condição até o fim da era dos grandes sáurios, e ao final desta ganhei carcaça e parecia um besouro, duro como um siri e desajeitado como um cabrito recém-nascido. Mas era forte o suficiente para cair numa lama e depois virar fóssil.

Subi novamente à oficina do Senhor e Ele pensou minha nova etapa, e eu pensei que já iria virar mamífero. Mas eu me enganei. Não sei porque as criaturas são tão apressadas e o Criador tão lento. Ainda não sei. E eu fui recolocado no mundo tridimensional como uma lagartixa, do tipo tão frágil que era transparente e facilmente esmagável. E eu pensei que iria ser pisada num instante, mas me enganei. Pelo contrário, fui ganhando firmeza ao longo dos milênios e adquiri opacidade tal que ninguém mais conseguia olhar para mim e ver meu coração batendo. Com a samaritanaNa etapa seguinte eu já tinha apelidos feios, como “calango” e “nojo”.
E eu pensei que iria enfeitar minha calda com longos adornos, mas
Me enganei. Perdi meu corpo rastejante e ganhei pernas mais altas,
engordei e ganhei orelhas e pelos. No milênio seguinte virei uma espécie de roedor. Pensei que jamais iria ver chegar a era dos mamíferos, mas me enganei. Deus até pode ter inaugurado aquela era com minha espécie, embora soube de muitos seres que cresceram antes de mim tomando leite. E eu fiquei como um roedor durante tanto tempo que vi passarem por mim tubarões e dinossauros, cada um em seu próprio meio ambiente. E na aurora seguinte da longa estrada, Deus fez “o jogo” se inverter, e muitos de nós se transformaram nos gatos que se alimentavam de roedores. Mas fomos ficando maiores, mais altos, mais fortes e comendo ratos e pássaros.

Nesta nova condição, subíamos tanto em árvores que eu pensei que
Deus iria fazer de nós os primeiros saguis, mas me enganei. Os sagüis eram outros, que também haviam nascido e se robustecido dos mesmos elementos que nós, de sorte que formávamos uma floresta de parentes símios quadrúpedes, e de minha genética não saiu nenhum gênio! Todavia de outras árvores Deus fez nascer macacos maiores e chimpanzés… E no meio deles uma geração menos peluda foi dominando outros ambientes, e não apenas a copa das árvores ou as florestas propriamente ditas, como eu pensava.

Um belo dia, depois de outros milhões de anos e sem que ninguém esperasse, quando os macacos de pelos mais finos e os imberbes já tomavam grandes territórios, Deus hipnotizou dois deles (macho e fêmea) e parecia estar decidido a fazer um jogo… Jogo arriscado, pois parecia soprar sobre aquele casal de macacos e fê-los falar como deuses. O que falou, não ouvi, mas parece que eles aprenderam rápido, e logo administravam tudo. A fêmea então foi visitada por um daqueles que haviam sido criados zilhões de anos antes, e cuja missão era justamente “cuidar” para que as criaturas menores não se matassem feito ratos, ensinando-as a imitar o Pai e o infinito coração que amava a todos.

Mas me enganei. O maioral dos seres que haviam sido designados a governar a Terra, após convencer uma terça parte dos anjos de Deus que eu jamais pensei que enganasse, foi encarcerado entre nós e veio contra nós, conseguindo ludibriar todo mundo, como eu jamais imaginei cair também naquela ilusão. Desde aquele instante, porém,
somente a Providência divina nos socorria, e se não fosse a coragem do Pai, o amor do Filho e a genialidade do Espírito, nenhum de nós seria salvo, e por isso eu me enganei. Nunca houve um momento onde o Pai não nos pregasse surpresas! Ora benditas, ora trágicas,
Para nossa sorte ou desgraça, mas mesmo esta resulta em nosso bem, no interminável turbilhão de surpresas que a Eternidade trará…

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O homem de Deus jamais poderia abrir a boca!

Num fenômeno único e indiscutível, a Humanidade inteira fecharia seus ouvidos ao último profeta, e isto é tão especial que talvez somente um fosse digno desta menção e a Bíblia trataria o caso com pouquíssimas alusões.

Amordaçado-homem

A Bíblia inteira pode, ou tem cacife para poder, ser interpretada como inteiramente escatológica, e todas as suas palavras serem, a rigor, uma sutil e às vezes dura pregação profética. Toda a lógica bíblica endossa a noção de que, tendo Jesus dito que no fim dos tempos haveria sofrimento tal como nunca houve desde que o mundo é mundo, tudo o que ali está escrito tinha um endereço certo: alertar a Humanidade para os terríveis anos anteriores à parusia. Até trechos aparentemente contextualizados, dados para uma sociedade não-tecnológica, como aquele em que Paulo diz ouvir uma voz em sonho lhe dizer “Paulo, fala e não te cales” (Atos 18,9), pode e deve ser visto como uma referência direta àquele tempo em que, por não haver mais nenhum ouvido sadio, o pregador cristão teria que falar, contra tudo e contra todos, doesse em quem doesse, mesmo sob risco de morte. Todavia e contudo, o trecho mais decisivo e mais bem endereçado ao tempo do fim é aquele que Paulo, em uma de suas cartas, diz que “os homens se recusarão a dar ouvidos à verdade, sentindo “coceira nos ouvidos” (II Timóteo 4,3).

Ora; agora temos a obrigação de olhar para o mundo e ver que, ao contrário do que supunham os trechos citados, nunca houve um tempo em que os pregadores cristãos tivessem uma tal multidão incontável de ouvintes quanto agora na pós-modernidade, e em toda parte se encontram igrejas abarrotadas de fiéis e discípulos, num fenômeno que também cumpre outra profecia (Mt 24,9-12). E pior, tal fato aponta uma vertente arrepiante: “Se a profecia para o último profeta era a de que ele não encontraria ouvido algum para ouvi-lo, então quem serão estes que pregam para multidões?”… A única resposta cabível parece inevitável, quando olhamos para outra profecia: a dos falsos profetas!

Logo, está agora descortinado o portentoso cenário dos anos anteriores ao Apocalipse: igrejas apinhadas de gente ávida para ouvir o blá-blá-blá repetitivo dos pregadores pré-apocalípticos, talvez nem chegando a ouvi-los na essência de uma passagem direcionada pelo Espírito Santo, ou ouvindo só as músicas (para os falsos profetas, isto é suficiente!), e também sem despertar o menor interesse dos tais pregadores de multidões, que apenas estariam interessados em saber o que aquelas ovelhas (“Carneiros de Panúrgio”) ‘lhe dariam’ ao final do culto, em forma de lucro líquido. Eis uma descrição do quadro atual que, a rigor, pela lógica, não poupa ninguém.

Homem de Deus ungidoE mais: as exortações bíblicas para a pregação bombástica da verdade-doa-a-quem-doer trazem uma ênfase centrada numa espécie de “contagem regressiva para o fim do mundo”, isto é, que aquela verdade dura deveria ser pregada tanto mais quanto se aproximasse o fim, e isto seria/é uma exigência do próprio Deus para os raros profetas corajosos das antevésperas da parusia. A coisa é tão clara que está contida limpidamente no próprio Novo Testamento, como vemos em Pedro e no livro de Hebreus: “Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vossos corações” (II Pedro 1,19); “Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns, antes admoestemo-nos uns aos outros, e tanto mais, quanto vedes que vai se aproximando aquele dia” (Hebreus 10,25). Logo, esta exortação bate frontalmente na cabeça dos pregadores atuais… os quais, embora sabendo da coceira nos ouvidos do homem moderno, são chamados a baixar a lenha nos ouvidos sujos pelo pecado, e isto não exclui ninguém, nem mesmo os profetas! Ou seja: se até estes são admoestados pelo Senhor, quanto mais não deverão ser as ovelhas de hoje, que se sentem livres e soltas pela sedução da mídia, que as convenceu de que se por acaso existir um Deus, ele certamente jamais criou uma Lei Moral para tolher as liberdades da carne: “Este Deus moralista seria uma farsa, e ninguém tem o direito de dizer COMO devemos agir neste mundo!”…

Porquanto, diante deste quadro, cabe a imediata pergunta bíblica: “quem será o pregador que levanta os joelhos trôpegos e desperta ‘ó tu que dormes’? (Efésios 5,14) Ou quem será o servo fiel e prudente a quem o seu Senhor lhe confiou o sustento a seu tempo? (Lucas 12,42-44)”… E esta pergunta necessariamente aponta para 1 (um) homem ou para pouquíssimos homens! Na verdade, aponta para quem, tendo de há muito uma vida secreta com Deus-pai (Mateus 6,4; 6,6 e 6,18), perceberá em si uma impossibilidade frontal e flagrante de levar a verdade a qualquer lugar, mesmo às igrejas, e mesmo aos pastores! Isto será sempre uma experiência vívida e comprovada, com suor e sangue, ao longo de toda a vida consciente daquele homem, e só ele sofrerá com aquilo, enquanto não entender isso. Afinal, já não é de hoje que se sabe que ninguém quer mais ouvir ninguém!

Macaco com o dedo nos ouvidosAqui está a verdade. E ela é mais espinhosa do que as costas dos ouriços e a “pele” dos carrapichos! E quanto mais a individualizamos e apontamos para a sua incidência sobre os ombros de um único homem (isto é, quanto mais pareça exclusiva), mais ela parece falsa, já que todos nós e o mundo inteiro introjetou a auto-instrução ou a ‘autoridade própria’ de que ninguém pode ensinar o “modus vivendi” ou dar conselhos para a vida alheia, pois no mundo ninguém tem nada de melhor que o outro! (Só Jesus Cristo teria moral para exortar alguém, e, mesmo Ele, não se mostrou um moralista velhaco, que apontaria para alguém que comesse com as mãos sujas! “Isto nos basta”, diriam todos aqueles que fogem da Moral como o diabo foge da cruz).

Se tiver havido na história um Deus que escolheu uma única raça, ou um único povo eleito, ou pior, alguém que tenha sido ‘do agrado’ do coração de Deus, este Deus é injusto e corrupto, e não entende nada de democracia. Versos como I Samuel 13,14; Atos 13,22; Gênesis 6,8-9; Daniel 9,23; e a bomba: João 21,20-22, que devem ser lidos agora, seriam demonstrações de partidarismo e paternalismo de Deus, e assim incondizentes com a verdade de que o Senhor “não faz acepção de pessoas”! “Tem algo errado aqui”, pensariam todos. Eis porque o homem de Deus jamais poderia abrir a boca! Que morra calado!

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A coisa mais difícil de engolir

(Ou “A parte de Deus dentro de um bandido”)

Heart blue pulseLewis disse, no início do cap. 9 do Tomo-3 do Livro “Mere Christianity”, que perdoar os nossos inimigos é um dever até mais difícil de engolir do que manter a castidade. Vamos analisar este símile de Lewis. Engolindo sapoAssim falou Lewis: “Eu disse no capítulo anterior que a castidade era a menos popular das virtudes cristãs. Mas não estou certo disso. Acredito que haja uma virtude ainda menos popular, expressa na regra cristã ‘Amarás ao teu próximo como a ti mesmo’. Porque, na moral cristã, ‘amar o próximo’ inclui “amar o inimigo”, o que nos impinge o odioso dever de perdoar os nossos inimigos”. O leitor verá a citação lendo o livro “Mere Christianity”, e pode fazê-lo NESTE link.

O mundo moderno tem nos oferecido diariamente uma série de reportagens com as piores cenas de crimes e atrocidades hediondas, que causam medo e revolta em qualquer um. Até cenas de bandidos estuprando crianças e matando filhos pequenos na frente dos pais têm sido exibidas sem qualquer censura, e tudo isso leva os cristãos, com razão, a imaginarem um tempo em que os sinais da chegada do antiCristo estejam sendo cumpridos, ao vivo e a cores. Pior, as cenas injetadas em horário nobre dentro dos lares indefesos não está causando apenas o terror óbvio de um mundo inseguro, mas está causando uma revolta tal que propõe a antevisão de uma nova era de barbárie, quando os cidadãos, reduzidos a meros espectadores da criminalidade, partam com unhas e dentes para fazer a tal justiça com as próprias mãos, e aí o caos vai reinar absoluto.

Caminhão de lixo em açãoE não sem razão, a maldade humana, seja ela como se manifestar, é algo revoltante, sem dúvida, e até a palavra de Deus nos explica que o homem de bem (o servo genuíno de Jesus), tem que sentir naturalmente profunda tristeza com a injustiça (o que equivale a odiar a crueldade) e sentir alegria somente com a verdade, por mais dura e contrária que seja! (I Coríntios 13,6). Veja então como este sentimento de revolta contra o mal é não apenas aceito como proposto pelos autores canônicos, tanto no Velho como no Novo Testamento:

No Salmo 26:5, a Bíblia diz que Deus odeia a súcia de malfeitores (súcia é “formação de quadrilha”, em linguagem atual) ou aquilo que esta Escola chamou de Conluio da Conspiração, ou de “A Grande Orquestração do Mal”. Mais adiante, no Salmo 101:3, o salmista diz que Deus odeia a conduta dos pervertidos, o que equivale a qualquer comportamento antissocial para a prática de crimes. O Salmo 119,113 mostra o salmista odiando a falsidade humana, como um dos pecados mais destrutivos da amizade e da convivência igualitária. Em seus Provérbios (6,16-19), Salomão desfila sete coisas que Deus odeia: presunção, mentira, morte de inocentes e outras maldades de quem acatou livremente a sugestão de viver a sua vida em conformidade com as instruções de satanás. O autor de Hebreus, no Novo Testamento, diz que uma das credenciais de Jesus enaltecidas por Deus foi justamente esta: “amaste a justiça e odiaste a iniqüidade, e por isso o Senhor te ungiu”. Finalmente, o profeta Amós diz, nos versos 14 e 15 do capítulo 5 de seu livro, que Deus nos pediu literalmente: “Buscai o bem e não o mal, para que vivais: e assim o Senhor, o Deus dos exércitos, estará convosco. Odiai o mal e amai o bem, e estabelecei isto na porta de vossos tribunais”.

Ora; tudo isso está sendo posto às nossas vistas para que o leitor veja como o sentimento de revolta contra o mal é divino e aprovado por Deus, e que eu, você e nós todos detestarmos a crueldade é algo válido e louvável, sendo até estimulado por Deus em sua Santa Palavra. Este é o fato. Esta é a verdade. Porém, agora cheguemos ao seu reverso, com coragem.

BarataJesus disse que deveríamos AMAR os nossos inimigos, e aqueles que desejam o mal para nós. Ou seja: que desejar o bem para qualquer criminoso que nos assalte, e também para aquela figura odiosa que trabalha para a nossa infelicidade, é a pedida e a sugestão de Jesus. Aliás, O mandamento, que Ele chamou de “novo”, por incluir no ‘amor ao próximo’ os nossos inimigos e algozes. Pior, Ele nos revelou que o Reino de Deus está dentro de nós, e nos proibiu de JULGAR o próximo. Assim, com isso, deixou claro que ninguém pode conhecer ninguém em profundidade, porque somente Deus pode ver o coração.

Isto posto, se nosso ódio deve ser ao crime e não ao criminoso (como se diz, “odiarmos ao pecado e amarmos ao pecador”), porque DENTRO de cada um de nós está o Reino de Deus ou ‘uma centelha’ dele, então a coisa mais difícil de engolir ou a coisa mais difícil que Deus nos pede para engolir é a prática deste amor que, no meio do sofrimento de um estupro ou do assassinato presencial de um familiar nosso, nos faça lembrar que DENTRO daquele bandido também pulsa um coração divino, e em seu peito também está a presença de Deus, de seu Reino e suas bênçãos! Terrível verdade e duro discurso! E pior, ninguém (ouso afirmar), ninguém no mundo, tem o coração tão benigno que se lembre do coração divino do malfeitor na hora da maldade contra nós, e assim vamos nos lambuzando no ódio autoalimentado pela dor, e ao final perdemos toda a nossa audição para com a verdade revelada por Jesus. Não é à-toa que Ele nos chamou de cegos e surdos.

galinh15No Grande Juízo Final de Deus (Mateus 25,31-46), realizado após a parusia de Jesus, o Senhor reunirá os “bodes” à sua esquerda e os carneiros à sua direita, e dirá para ambos: “Todas as vezes que fizestes o bem ou o mal aos seus semelhantes, era a mim que o fazias”, deixando claro que Ele não distingue ninguém no quesito “Deus presente no coração”. A quem quer que bem tratemos ou mal tratemos, estaremos fazendo isso a Deus. É duro. Agora ficou claro que precisamos de uma drástica mudança em nossa visão do Reino de Deus, antes que seja tarde demais, e sejamos “para sempre incrustrados num universo de puro ódio”, como disse CS Lewis. Como a Humanidade já caminhou bilhões de quilômetros no mal caminho, e já está nela há tantos milênios, o remédio poderá não fazer mais efeito, e somente uma longa peregrinação no fogo do Purgatório poderá lavar-nos de todo.

Resta-nos orar para que a bondade de Deus finalmente nos alcance, se é que saberemos orar com o coração impuro. Temos que buscar a santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor. Temos que pedir sempre aquilo que nos pede a Igreja: “Senhor, tende piedade de nós; Cristo tende piedade de nós”. Que as orações dos santos, vivos e mortos, nos comunguem favor e Graça, antes que a Alvorada eterna comece e nós não consigamos enxergá-la como luz.

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A única pergunta que o Homem está obrigado a responder

“Por que o último culpado em qualquer pecado nunca admite sua culpa?”: Com esta pergunta Deus faz a síntese completa da Doutrina da Salvação, e nada mais pode fazer que esperar a resposta.

Cullpado EUNão há nenhuma discussão mais importante. Nenhum discurso a supera. Nada deve ser dito além dela, e nenhuma conversa deveria se iniciar, sem dar atenção a ela. Tudo depende dela, e ela resume tudo o que resta da relação final de Deus com este planeta. Porquanto no apagar das luzes e no auge de todas as conclusões, a pergunta “por que o último culpado em qualquer pecado nunca admite sua culpa?” permanece inabalável e vitoriosa, sem dar trégua a ninguém ou mesmo uma chance mínima de arrefecer seu ímpeto acusatório sobre cada um de nós, que jamais damos a ela a atenção necessária e fugimos dela como o diabo foge da cruz (aliás, ele mesmo, jamais a encarou ou a encara de frente, por estar inchado de orgulho e jamais admitir seu erro próprio e pioneiro).

Foi assim também com CS Lewis, quando ele tentou tocar nesta ferida purulenta, verdadeira chaga aberta no coração humano, jamais curado por jamais querer a cura. No velho e famoso artigo “O grande Pecado”, capítulo 8 do livro “Cristianismo Autêntico”, Lewis botou o dedo bem no meio desta chaga e disse mesmo, em alto e bom som, ninguém está isento deste mal e ninguém o reconhece em si” (lembre que este mal foi chamado de “O GRANDE Pecado”). Esta escola já tocou diversas vezes no assunto, sendo as mais importantes as seguintes:

Link 1: “O Grande Pecado” (narrado);

Link 2: “O que é a blasfêmia contra o Espírito Santo?” (pregação);

Link 3: “A Humildade de Deuis” (publicação web).

Trocando tudo isso em miúdos, a virulência e a crueldade deste pecado são tão hediondas que pode-se seguramente dizer que qualquer palavra e nenhuma conversa tem sentido na Terra, enquanto os homens derem as costas àquela pergunta, e toda a história humana pode ser encerrada aqui mesmo, NESTE exato instante, sendo o adiamento da parusia o grande mistério da Misericórdia divina, já que Deus sabe, mais do que ninguém, que todas as tentativas de resgate humano são vãs, sem a resposta àquela pergunta!

Interrogação útilNão adianta ser o melhor filósofo, o melhor médico, o melhor professor, o melhor pregador, e até o melhor “santo”, se aquela pergunta não tiver sido atendida e aquele passo dado. Tudo o mais é demagogia e hipocrisia, e ficar em silêncio é a única saída para bom entendedor. Fernanda Pompeu até chegou a dizer que “não existe uma ‘big verdade’ pessoal pessoal”… Mas existe sim: e ela é muito triste porque nos chama de monstros algozes, e nos coloca na cena da via sacra, açoitando Jesus. Aqui a verdade se levanta até contra o papa, que uma vez declarou que “não há crime que possa tirar alguém do coração de Deus”, e estava certo, mas esquecido, pois não é Deus quem nos retira das santas mãos, mas nossas mãos sangrentas que expulsam Deus de nosso coração.

De que se trata afinal? Ernesto Bono tateou ao redor e mesmo assim não tocou no ponto: “o ego-ladrão”, como chamado por Bono, não é apenas um inimigo interior (como muito bem explicou o Dr. ‘T’), mas é aquele eu-demônio que impede sempre, invariavelmente, qualquer tentativa de indicação da origem do mal, desviando sempre, invariavelmente, a culpa para outrem ou alhures. Nunca alguém, pessoalmente e honestamente, chega a dizer: “o último e pior culpado sou eu, e só com o meu arrependimento genuíno o mal poderia ser combatido”. Este autor está dizendo exatamente isto mesmo, aqui e agora, com a esperança de que o leitor também faça o mesmo, ou pelo menos finalmente veja onde se localiza o pecado! (porque ver é uma coisa, curar-se é outra completamente diferente!).

InterrogaçãoDe qualquer forma, deve haver alguma razão, por mais tresloucada que seja, na mente de Deus, para Ele continuar tendo esperança de cura para a Humanidade. Certamente Ele deve ver bem a contribuição de Lewis na indicação da culpa final do pecado; deve ter visto a indicação direta e sem papas na língua, de Dr. “T” apontando o inimigo mortal no interior de cada alma humana; deve enxergar bem a insistência heróica da Igreja Católica, ao iniciar todas as suas missas pela frase “para que possamos comungar dos santos mistérios, confessemos os nossos pecados”; enfim, devem haver sinais positivos de uma luz no fim do túnel da pecaminosidade humana, e Deus deve estar “se segurando” ou confiando nesta esperança, embora Deus jamais espere nada.

Com efeito, somos nós quem temos que começar a encarar de vez este demônio arredio, encravado no nosso coração, e começar a batalha tirando imediata e justamente o pronome “nosso”. Se ele estiver no meio, a cura não virá! É preciso voltar a falar “eu”, “meu eu”, “eu mesmo”, “meu ego maligno”, “meu egocentrismo”, enfim, um banho de humildade à luz da humildade do próprio Jesus, pois o Nazareno é o único homem que poderia sentir algum orgulho (por jamais ter pecado) e mesmo assim jamais o fez, ao ponto de dizer uma vez: “bom só existe um, que é Deus”, respondendo a alguém que o chamou com justiça de “bom Jesus” (Marcos 10,17-18).

Ponto-Interrogacao-26286Sem dúvida aí está o centro da questão. Ela está no centro. CS Lewis, no mesmo artigo, sentenciou esta pérola: “enquanto não olharmos para o alto e vermos que, em comparação com Deus, não somos absolutamente nada, nenhuma solução teremos”. Jack também diz que, se um de nós (o leitor deve dizer comigo, “se eu mesmo”) um dia matar alguém, a atitude cristã correta seria irmos à polícia e nos entregarmos, confessando o crime e pedindo a pena máxima. Não podemos nos queixar de Deus ter deixado a vontade dEle bem clara aqui, pelo menos nesta questão da doutrina do pecado.

E deixou também um consolo: a clareza desta verdade! Porquanto jamais olharemos para a História humana e não veremos justamente isto: o mal sempre esteve e está presente, mas nunca foi reconhecido ou nunca é reconhecido por quem o pratica. Jamais poderemos um dia acusar Deus de esconder este fato, pois a crueldade humana é uma das verdades mais eloquentes de todas as que o homem pode acessar, e sua avassaladora frequência nos é apresentada o tempo todo e com todas as suas cores! Deve-se, inclusive, nos levar a pensar imediatamente no porquê de Deus nos mostrar isso, ao vivo e a cores, todos os dias, numa avalanche de crueldades nos 4 cantos da terra, sem qualquer respeito aos idosos e sem poupar nem mesmo a visão das crianças! Ou seja: por que seria tão importante assim a Humanidade VER tanta violência? O que Deus nos quer ensinar com isso? (Com nossa falsidade, nosso bullying, nossa impiedade)…

Bullying e falsidadeVou aventar a hipótese que reputo a melhor para esta resposta: o pecado humano (aquele VÍCIO que está lá no fundo do “eu” de todos nós) é de tal modo absurdo e hediondo, que invariavelmente leva o pecador ao máximo de sua crueldade, e jamais se interrompe antes de nos chocar! I.e., que qualquer um de nós, uma vez que temos o grande pecado em nossa alma, poderemos chegar a cometer crimes tão bárbaros que nos reduzem a uma raça inferior à das piores bestas-feras, e por isso merecemos o pior de todos os castigos, aquilo que a Bíblia chama de “Segunda Morte”. Assim, pois, a violência brutal e generalizada tem o trunfo didático de nos mostrar, nos mínimos detalhes, o quanto somos maus e o quão destrutiva é a abertura INICIAL que damos ao Tentador, pois esta fatalmente nos levará a nos tornarmos demônios (lembre o leitor que há um trecho na Bíblia que diz que nós nos tornamos até PIORES que demônios – veja em II Pe 2,9-12: há teólogos que defendem a idéia de que os ‘piedosos’ do verso 9 são anjos e os ‘brutos’ dos versos 11 e 12 somos nós!). Lembre também que em “O Grande Pecado”, Lewis diz que o orgulho É inimizade, e inimizade é o antônimo do amor ao próximo, sinônimo de ódio.

Finalmente, se este curtíssimo arrazoado ajudou de alguma forma, ao leitor consciente – pois aos outros nada serve –, e se cada consciência se animar a vencer a sua própria batalha interior (que Lewis manda que seja ininterrupta e incansável), talvez nós possamos acreditar que a extrema longanimidade de Deus tem uma razão de ser, a saber, a tresloucada confiança que Ele depositou nestes desalmados vermes, ao ponto de sempre iniciar daquele modo que Lewis disse que deveríamos aplicar à regra do amor: simulando uma situação de melhora de nossa alma, ou fazendo de conta que estamos progredindo, para, por pura magia da misericórdia, sustar a nossa decadência e nos levar ao caminho de volta à sensatez, porque se fingirmos fazer o bem, terminaremos por fazer de fato.

 

 

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