Os absurdos contra Deus são de longa data…

Vozes ateístas ou a favor de um Deus despersonalizado são antigas, é verdade, porém a modernidade deu a elas as falsas cores da “Razão e da Ciência”, que detestam a pobreza mas dela tiram proveito para se manter popular e influenciar a Humanidade “pelo prestígio que gozam as maiorias”.

Um autor famoso, do início da Modernidade, escreveu uma “prosa” monologal de extremada heresia contra uma verdade central do Cristianismo, com ares de profeta do Velho Testamento, como se tivesse recebido de Deus a Sua própria Palavra para orientar o povo contra o verdadeiro Deus, e constituindo, desta forma, um dos mais danosos discursos antiteístas de quantos a raça adâmica já produziu contra o Autor da Criação.

Refiro-me ao “mestre” Baruch Spinoza (ou Bento Spinoza), autor de obras como “Ética demonstrada à maneira dos geômetras” (Ethica Ordine Geometrico Demonstrata); “Tratado Político”; “Um breve Tratado sobre Deus e o Homem”; “Melhoramento do Intelecto (De Intellectus Emendatione); “Princípios da Cartesiana”; “Tratado sobre a Religião e o Estado (Tractatus theologico politicus), dentre outras, o qual se tornou um ícone do “panteísmo ilusionista” da Era das Incertezas. Além desses livros, Spinoza um dia deu uma de gaiato e resolveu imitar os profetas, escrevendo uma espécie de “carta-divina”, na qual o suposto “deus-pan” (do panteísmo dele), pasmem, ENSINAVA acerca de Si mesmo, com ares de autoridade apostólica e com o intuito, seguramente, de enganar a Humanidade, cumprindo, isso sim, a vontade dos contrários a Deus.

Pior, os incautos pós-modernos, baseados no cantar de um galo que nunca viram, deram todo prestígio para tal texto, fazendo-o desfilar de papa-móvel pelas ruas de Roma e da literatura, ao sabor das correntes reencarnacionistas e panteístas mais radicais. Tanto é assim que, em plena luz da Era das Comunicações, traduziram o material sob o título de “Deus Segundo Spinoza”, e o elegeram à categoria dos grandes clássicos do pensamento humano, indicados para integrar os currículos de cursos de filosofia, antropologia, sociologia e até teologia, noutra ironia pós-moderna.

No tal monólogo, Spinoza discursa empaticamente (como se fosse Deus falando por ele) e às vezes antipaticamente, dando uma de bom conselheiro das “boas” virtudes, quando não passa de um amontoado de instruções mais cabíveis aos manuais lascivos das sacerdotisas de Eros, ou aos velhos livros de erotismo do Oriente, embora sem nenhuma gravura a ilustrar o sexo que perpassa nas suas entrelinhas. É óbvio que só as entrelinhas testemunham isso, já que a ideia é instruir os incautos acerca de uma suposta inteligência cósmica, a qual, por sua aparente e inexorável “indiferença”, jamais deveria ser cultuada de modo formal, sendo, quando muito, chamada a emprestar seu prestígio para apoiar filosofias liberalizantes ou “libertárias” (quando não passam de libertinas).

Logo, partir de um deus longínquo, eólico, nefelibático (de “energia pura” – diabo é quem entende), indiferente e incapaz de interferir nos detalhes do cotidiano, para chegar a um deus-permissivo e imoral, seria o corolário lógico e inevitável para quem usasse um raciocínio desses, se fosse um ser humano e feito de carne como nós, carne essa ligada intimamente aos instintos mais básicos das espécies primatas. Neste ponto nosso argumento pode fazer um intervalo e dizer que, “sendo todo homem mentiroso e Deus verdadeiro” (Rm 3,4), a única criatura que poderia falar por DEUS seria um anjo, e mesmo assim a história está cheia de anjos que pecaram!

Spinoza então usar o nome de Deus em vão e ensinar, nas entrelinhas, que a única vida que se deve viver é uma vida libertina, onde ninguém dê pitaco em coisa alguma que alguém queira fazer, não é nada de espantoso e é até esperável, uma vez que todas as almas humanas anseiam pela liberdade total (originalmente proposta por Deus mas infelizmente conspurcada na Terra), a qual só é possível com o alegre compromisso de se ser benigno para com os outros, já que liberdade total sem responsabilidade é sinônima de criminalidade. Entretanto esta mesma liberdade, associada compulsoriamente à responsabilidade, termina por desagradar às almas (ou à maioria delas), uma vez que implica em comprometer-se com a vida alheia – não apenas em usar os outros para o prazer pessoal, mas em ajudar nos sofrimentos, defeitos, vícios, atrasos, desorganizações, chatices e toda a gama de inconvenientes que a convivência humana possui. Não é à-toa que o maior exemplo de alma boa dado por Jesus se chamava “o bom samaritano” (Lc 10,30-37), e ele era o tipo do cara que, se abandonava um dever para fazer uma caridade, quanto mais um prazer!…

O bom samaritano era e é o HOMEM LIVRE da proposta original de Deus, e toda a liberdade que gozava era diretamente proporcional à caridade que fazia, e sem esta não teria aquela. Fica no ar a pergunta: é ESTA a liberdade que deseja o conjunto da Humanidade? Pior: é esta a liberdade que propõe Spinoza em seu famigerado monólogo?

O “mestre” panteísta fala fazendo pedidos! Fala como se fosse o último posto de gasolina no deserto ou a última cocada preta da rainha baiana! Fala como se fosse uma autoridade infalível, ou um novo papa da autoajuda, exigindo atenção, louvação e cumprimento. Pede para que ninguém ore mais! Pede para que abandonemos as igrejas! Mente descaradamente dizendo que Deus nunca apontou um pecado em nós! Põe toda a culpa do mal no mundo nos ombros daqueles que nos retransmitiram a religião e a fé! Desmoraliza e anula todo o valor das Sagradas Escrituras, temendo visivelmente encontrar nelas algo que lhe impeça a libertinagem sublinarmente pretendida! Diz que Deus jamais será encontrado em livro algum, e apenas os que souberem “ver” (ou inventar) um deus nas flores e nos rios O verão de alguma forma, já que Ele não tem forma mesmo! Pede para que nada peçamos a Ele (o contrário do que pediu Jesus), nem mesmo perdão! Neste ponto, lembra a letra de uma música de Gilberto Gil que precisa ser lida com muito cuidado (“Drão”), a qual parece dizer que o pior de todos os crimes contra a infância seja encarado por Deus como “nada a perdoar”, no sentido de que não há pecado algum para ser perdoado. É óbvio que Gil não se esqueceu da pedofilia nem do holocausto, e com certeza não pensa assim.

E tem mais: ao dizer que os próprios pecados foram colocados no coração humano pelo próprio Deus, termina por reforçar posições pelagianas e até satanistas, denunciando Deus como o único culpado de tudo! Com isso emenda e induz o leitor a ver Deus como o supremo injusto, já que Ele mesmo teria inventado e pecado e depois ainda condena os pecadores a um inferno de fogo! (jamais lhe passa pela cabeça supostamente genial que quando Deus deu a liberdade, também permitiu que os rebeldes não O quisessem bem, e por isso não iriam, por si mesmos, querer a companhia eterna de Deus, indo sozinhos para longe, sendo este longe um “inferno pessoal”, no sentido da curtição da ausência de Deus, que para Deus é a infelicidade total! ESTE é, afinal, o único inferno que existe! E as almas vão para ele por livre e espontânea vontade).

Tem mais: Spinoza pede para que “esqueçamos os 10 mandamentos”! (aliás, qualquer tipo de lei… O que deve preocupar seriamente as autoridades legitimamente constituídas, em seu dever de zelar pela paz e pela boa convivência social). Diz que as leis são “artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti”: grande discurso para auditório de presídios!

Depois disso, o conselho “genial” que ele parece tirar da cartola de um mágico alienado, apenas pede que haja respeito ao próximo, como se isso fosse algo além do óbvio ululante! Pior: como se fosse algo que o Zé-povão entende direito, e com ele tivesse diminuído as estatísticas da criminalidade! (Perdoado pela sua era, certamente ele nunca leu a quantidade de livros e mestres e até idiotas pregando o respeito como única solução, e não vendo que se apenas o respeito bastasse, o mundo não estaria tão violento quanto agora, nos nossos dias). Como ninguém entende bem O QUE É o Respeito, peço que leiam este artigo aqui.

Em meio a tamanho descaroçar de ignorâncias, Spinoza cai em contradição (um escorrego ou uma insidiosa interferência da Verdade?) para com seus próprios defensores reencarnacionistas, quando diz que esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso; esta vida é a única que há aqui e agora, e a única que precisas”. De fato, é única, sim, do ponto de vista humano, pois no passado éramos pensamentos de Deus e no futuro seremos “ressurretos de Deus em corpo glorioso”, coisa jamais compreendida por Spinoza e os céticos do mundo. Todavia, é sim, uma prova, um degrau, um passo no caminho, um ensaio, um prelúdio para o mais belo e arrebatador Paraíso de George MacDonald. E todos levamos o registro do que fomos e do que fizemos (Lc 21,18), porque nada se perde…

Em seguida Spinoza diz: “tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno”: haveria aqui outra interferência da Verdade, que nem um cético consegue impedir? Porquanto o inferno, conquanto seja mental, afasta as almas para longe daquele Deus a quem não quiseram amar (amar = obedecer) e o Céu, que não é mental, aproxima as almas daquEle a quem amaram, muitas vezes nem sabendo que era amor a Ele, embora direcionado ao próximo, como Jesus explicou em Mt 25,34-40 (quando o fizestes, a mim o fizeste) e I Jo 4,20-21.

Spinoza segue falando como profeta e pede para que vivamos esta única vida como se nada mais houvesse após a morte. Com isso, aconselha que vivamos os nossos prazeres e apenas gozemos a vida, que ao final Deus nada perguntará a nós, a não ser: “gozaste mesmo?”… – Ora, nem é preciso ser cristão para lembrar que foi contra este pensamento que Jesus contou a terrível parábola do homem louco (Lc 12,16-20), a qual obriga àquela pergunta irrespondível: “que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”… (Mt 16,26).

O “gênio” não parou aí. Pediu para não louvarmos a Deus (CS Lewis explicou que louvar ao Senhor não é uma necessidade dEle, e sim nossa! E só quem viveu um inferno mental sabe bem disso); pediu para não agradecermos a Deus, quando Jesus se entristecia quando apenas um ex-aleijado voltava para agradecer, após a cura de nove doentes; e pediu, pasmem, para não termos fé, e isto basta! O auge da heresia está aqui: “Pára de crer em mim – crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti”. Erros colossais! Crer não é supor! E muito menos adivinhar! Crer é usar a Razão Dedutiva, que o próprio Spinoza diz honrar, e descobrir Deus na lógica da Criação, sendo Deus a única “Coisa” que torna a Criação lógica. Sem Ele, tudo vira um absurdo, e assim, sendo tudo absurdo, é também absurdo não crer. Além do mais, crer é também pensar e sentir, e por isso é impossível sentir sem crer! Senão vejamos: quem pode sentir o amor de uma esposa (ou de um marido) sem acreditar que tais pessoas não sintam amor por nós? Assim, a fé é a única ferramenta que possibilita o amor, pois ela é feita da mesma matéria deste, a saber, a confiança!

Finalmente, a quantidade de aberrações pontuais desse discurso de Spinoza é tão acintosa que chega a deixar a dúvida se de fato o “mestre” falou assim. Porquanto tínhamos Spinoza em boa conta, como um bom panteísta até certo ponto inocente, confundido pela indisfarçável presença de Deus em todos os pontos da Natureza e obrigado a pensar muito para descobri-lO além dela. Porém, agora que a máscara caiu, devemos voltar nossos olhos para mestres como CS Lewis, John Stott, Paul Yansey, JB Phillips, etc., ou melhor, para os pais da fé, como Pedro, Paulo, João, etc. Este sim é um bom conselho: fique com estes, pois eles não apenas usaram bem a inteligência que Deus lhes deu, mas tiveram com Ele experiências que lhes bastaram para amá-lO acima de tudo, bem como ao seu próximo e, afinal, à Verdade.

Publicado em Arte de Desaprender | Deixar um comentário

Carta que CS Lewis escreveu com a mente de Cristo

Um impressionante trecho do livro “Cartas a Malcolm” (da Carta VIII), no qual Jack tece o mais profundo arrazoado acerca da “Teologia da Paixão” (“as dores finais de Cristo”), prova ser um raciocínio só possível a um gênio.

No último livro de CS Lewis (póstumo) e num dos mais recentes lançados no Brasil, chamado “Oração: Cartas a Malcolm”, o mestre irlandês mergulha tão fundo na mente de Deus que não é possível extrair qualquer conclusão do caso que não seja a admissão de uma obra de gênio, num raro e até milagroso momento de cumprimento de uma ousada profecia Paulina que diz: “Porque, quem teria conhecido a mente do Senhor, para que pudesse instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo” (I Coríntios 2:16). Tão sublime é esta profecia que muitos teólogos e exegetas afirmam, veja bem, “se ela não pode ser aplicada a nenhum dos santos, quanto mais aos vivos”. Inobstante, este articulista não afirma isto com a mesma convicção dos teólogos, pois crê que CS Lewis também não o fez, pela razão óbvia da possibilidade descortinada por ele mesmo.

Todavia e por isso mesmo, não é bom o leitor ler o presente artigo sem ver antes o que disse Lewis. Assim sendo, convido-o a ler o trecho no Blog da EAT, NESTE link. De posse do pensamento de Lewis, vamos elencar as ilações passíveis de serem feitas a partir delas, e convidamos o leitor a devotar toda a sua atenção aos raciocínios ensejados pela ‘ousadia’ de Jack.

No primeiro parágrafo inteiro, ele analisa cada um dos recursos aos quais Cristo poderia recorrer dentro da sua macabra “noite traiçoeira”, noite medonha de trevas pelas quais todos nós passamos, em menor ou maior medida. E ele diz logo que, sem dúvida, aos santos caberá uma noite ainda mais aterradora, justamente pelo grau de proximidade desses com o Autor de sua fé. Então, estendendo o raciocínio, conclui que, se um santo vai passar pela densa treva, o quão densa não será a noite pela qual o Filho de Deus passará? E daí, incontinenti como sempre faz, Lewis estica a baladeira e desce cada vez mais fundo na angústia divina, apontando cada uma das instâncias que Jesus procura para aliviá-la, e delas não recebe qualquer alívio, pelo contrário, afunda-se na solidão extrema, apenas acompanhada das risadas subliminares do inimigo e dos infernos que estão à espreita e O esperam.

E cada item dessa procura é citado como uma chicotada: primeiro a súplica rejeitada; segundo, a fé na fidelidade dos amigos íntimos (seus soldados em batalha), que parecem hipnotizados num sono robótico; terceiro, a igreja (no singular, ampliando o sentido) que Ele mesmo criou, numa decepção das mais previsíveis, segundo Lewis, já que TODAS as instituições – mais cedo ou mais tarde – se voltam contra aquilo ou contra o alguém que as criou; quarto, o Estado, no cúmulo do desespero, que é quando Deus tem que ir a um tribunal humano (I Co 6,1-9) pedir a justiça que os crentes não lhe dão! Vergonha completa nossa!; quinto, o próprio povo, a quem ele curou, protegeu, salvou… Este também O rejeita e ainda O condena, assassinando-O e libertando Barrabás!; e sexto, por último, no último dos últimos apelos, Ele se volta ao próprio Pai! E o resultado? Ele acabou perguntando: “Pai, por que me abandonaste?”. Neste ponto, Lewis abre um curto parágrafo e explica que tudo isso é a condição humana em si, ou seja, que ser homem é sofrer mesmo. É procurar uma saída e não encontrar. É cair num oceano de tubarões e o único barco que passar é pilotado por quem quer a sua morte.

O parágrafo seguinte é por demais complexo. Tão complexo que Lewis se comporta de modo inédito para seu histórico de atendimento ao versículo petrino, que diz que devemos estar preparados para oferecer os argumentos de nossa fé a todo aquele que nos pedir razão da esperança que há em nós (I Pedro 3,15). O ineditismo é ver Lewis fazer uma pergunta que nem ele mesmo responde, transparecendo uma pré-angústia dele ao seu próprio calvário interior, da noite escura que viveu desde o prenúncio da morte de sua amada Joy. Este é o ponto: “Em relação ao abandono final, como entendê-lo ou mesmo suportá-lo? Será porque Deus mesmo não pode ser Homem, a menos que Deus pareça sumir diante de Sua necessidade maior? E, se assim for, por quê?”: Quem responde essa??? Lewis nunca foi chegado à questão dos porquês, mas sim aos “para quês” (pois estes fornecem uma pista muito mais exata da soberania de Deus sobre o tempo e o espaço), embora todos os raciocínios dele atendam aos porquês de suas próprias curiosidades, dando respostas a perguntas que nem foram pensadas por outros! Logo, por que Lewis usou aqui o porquê???

Em seguida, ele relaxa e desanda a destilar seu raciocínio fluente e desce ao profundo, sem se importar que o leitor esteja voando que nem condor, ou com sua dor voando, temendo ou antevendo sua própria noite de trevas. Aí então fala, como se estivesse conversando aqui e agora, e diz: “Às vezes, eu me pergunto se, de fato, temos pelo menos uma pálida ideia do que o conceito de criação acarreta: Quando Deus criar, Ele trará algo à existência que não será Ele mesmo. Ser criado, de algum modo, significa ser ejetado ou separado”. Há algo mais elevado do que isto? Lewis foi além (ou chegou à questão shakespeareana antes que Shakespeare a tivesse formulado: “ser ou não ser? Criar ou não criar?”) de todos os limites inexoráveis da Criação divina, alcançando aquele ponto onde uma encruzilhada se apresentou para o próprio Deus, uma encruzilhada que nem a Onipotência pôde desfazer, ou desentortar, ou evitar, já que o drama de criar será, necessariamente, algo que fará surgir alguma coisa “não divina”, e, portanto, inexoravelmente limitada, imperfeita, falível, pecaminosa (no sentido de inevitavelmente deficiente) sem maldade, podendo se tornar má por sua própria decisão.

Isto impõe certos termos mais “condescendentes” até na compreensão da maldade de Lúcifer, já que o próprio ato de criar é uma “temeridade”, no sentido de deixar a própria onipotência sob o risco de conviver com a imperfeição, que jamais agrada a Deus. Isto prova que a criação, em si, é, antes e acima de tudo, um ato desesperado de amor da parte de Deus, que não se bastaria a si mesmo, e por isso sentiu, num certo ponto-tempo de sua existência perfeita, alguma espécie de necessidade, embora absolutamente nada lhe faltasse! Que o amor infinito pode “desesperar-se” – para amar além de si mesmo – e isto seria outro mistério insolúvel, que nem Lewis solucionou.

Lewis continua perguntando, dada a profundidade da questão: “Pode-se dar o caso de que, quanto mais perfeita a criatura, tanto maior será, em algum momento, a separação? São os santos, não as pessoas comuns, os que passam pela “noite escura”. São os homens e os anjos, não os animais, os que se rebelam. A matéria inanimada dorme no seio do Pai. A condição de ser oculto de Deus talvez cause maior dor ao pressionar aqueles que, sob outro aspecto, encontram-se mais próximos dEle, e portanto Deus mesmo, feito homem, será entre todos os homens aquele a quem Deus relegará ao supremo abandono?”… – Aqui surge o paralelo inevitável com as dores das relações humanas: quando elas vêm daqueles que mais amamos (nossa família), elas são muito mais dilacerantes, e o ódio de um pai a um filho é uma facada que corta o coração de qualquer um, inclusive de bandidos, e por isto estes não perdoam incestos e outros crimes, quando um pai pedófilo chega a um presídio.

Ou seja, voltando a Lewis: QUEM poderá responder a isto? Ouso pensar que nem o maior de todos os arcanjos do Céu, terá esta resposta. Todavia, tudo leva a crer que só uma experiência vívida numa terrível noite escura poderá fornecer, àquele por ela vitimado, algum vislumbre dessa resposta, e quem a obtiver não a repassará a ninguém, como Cristo não a repassou. As pessoas comuns, em seus tormentos, podem contar. Os santos não. Logo, a angústia maior e o calvário da alma são não apenas necessários, mas o único caminho de volta à perfeição, e, por ter a presciência disso, Jesus aceitou o desafio completo da via sacra, proposto desde antes da criação do universo (Ap 13,8). A distinção entre santos e pessoas “comuns”, que Lewis aqui destila sem qualquer temor, leva os olhos do leitor para os extremos opostos (Deus e os animais) e faz ver o ingente abandono de Jesus na cruz e a “segurança tranqüila” da vida animal, numa lição de teologia cujo registro deve estar num “manual para demônios arrependidos”, por assim dizer. Pois Paulo diz que o Deus-crucificado expôs os demônios – ou expôs aos demônios – na hora derradeira da Sua máxima dor, misturada à angústia do abandono que deve incomodar também aos anjos decaídos (Col. 2,14-15).

Isto comprova a conclusão de Lewis de que deve haver sim “uma angústia, uma alienação, uma crucificação envolvida no ato criativo. Porém Deus julga valer a pena a distante consumação” ou o risco de “perder alguns” por seu próprio Livre-arbítrio, e portanto, não estarão perdidos no sentido condenatório, já que por si mesmos decidiram abandoná-LO.

Por último, Lewis cita um teólogo do século XVII, o qual disse que “se Deus fingisse ser visível, Ele teria tão somente enganado o mundo”. E arremata dizendo que talvez Deus finja sim, um pouco, mas apenas “para aquelas almas simples que necessitam de uma boa medida de ‘consolação palpável’…” (esta consolação palpável pode incluir, sem maiores prejuízos ao arrazoado de Jack, a hipótese de que as almas comuns, ou limitadas mentalmente, precisariam de algo concreto, tangível, como fotos e imagens, para sossegar a sua fé sedenta de matéria, matéria esta que Deus não desonrou e, ao contrário, a usou, por exemplo, na Eucaristia; entretanto, mistério dos mistérios, a Eucaristia não engana ninguém, pelo contrário, mostra o Cristo mais espiritual do que nunca). Porém, na verdade, o “fingir divino” estaria na materialidade de Jesus, na sua vida humana e no assumir a sua dor, a qual necessita de uma redução ou até de uma anulação da divindade (que não sente dor alguma) para fazer-se sentir, num raciocínio que Lewis já explicou no livro “Mere Christianity”. O Pai divino da Santíssima Trindade jamais poderia vir e habitar entre nós, exceto pela Sua redução drástica* e até a sua anulação, deixando de ser Deus, o que levou muitos teólogos, antigos e novos, a admitir a “Teologia da Eleição de Jesus” (TEJ: tão coerente quanto a da “Divindade Indesfazível de Jesus”: DIJ) como chave para entendimento das questões que Lewis tratou aqui. [* = Uma vez Jack chamou a redução drástica de “Transposição”].

I.e, para a TEJ, quando Jesus nasceu, a pessoa da Trindade que Ele era deixou de existir e fez-se 100% homem no ventre de Maria, passando a “reaparecer gradativamente” ao longo da vida do Nazareno, consubstanciando-se no texto que diz “Ele crescia em sabedoria e em graça perante Deus e os homens” (Lc 2,52). Os próprios apóstolos teriam visto que, uma alma daquelas, com tamanha bondade e inocência, só poderia mesmo ser eleita por Deus, já que ninguém foi tão puro e magnânimo como Ele. Que o Nazareno, que havia deixado de ser Deus, recuperou a sua divindade ao longo de sua vida e missão, servindo de exemplo perfeito para cada um de nós, que podemos crescer até à perfeição, como diz Paulo em Fp 3,12, e como é desejo de Deus nas palavras de “Oyarsa”). Esta é a coerência intrínseca do raciocínio da TEJ. Já na outra teologia, a DIJ, Jesus nunca deixou de ser Deus, e apenas fez a sua divindade ocultar-se de sua mente e preservar-se “congelada” para a operação de milagres, cuja utilização só viria quando ocorresse aquilo que o Nazareno chamava de “é chegada a minha hora”, como foi dito quando Ele operou o milagre de Caná. A partir dali, Ele apenas descortinou a sua outra natureza, a divina, sem jamais tê-la abandonado. São estas as duas teologias que C.S. Lewis nos obriga a repensar ali. A propósito, escrevemos um livro sobre este assunto, o qual foi prefaciado pela Dra. Gabriele Greggersen, intitulado “Radiografia de Maria”.

Finalmente, a questão é que acredito jamais ter existido alguém que fosse, com a sua “simples” inteligência, até onde Lewis foi, nem ninguém que jamais irá. Nossos olhos se obrigam a voltar para figuras como os nazireus, como Enoque, Noé, João Batista e outros raros da Palavra de Deus. Se tais pessoas existiram um dia, é porque talvez ainda possam existir. É aqui que colocamos CS Lewis. Ele está no mesmo patamar mental de um Enoque e de um João Batista. Ele foi, por obra e graça de Deus, elevado em espírito durante toda a sua vida, embora só tenha se dado conta disso após a sua “noite negra”, ou nem mesmo com ela, dada a sua extrema humildade. Que ele nos sirva de modelo de santo vivo, já que ninguém morre (Lc 20,38), porque exemplo para os que estão no Além ele já é, desde que lá chegou.

Publicado em Arte de Desaprender | 1 comentário

“Semana Lewis” – Ano 2011

Dentro destes dias (de 22 a 29 de novembro), período que marca a data do nascimento e morte de nosso mestre CS Lewis (integrada ao calendário lewisiano por conta e ordem de seus fãs e alunos), esta Escola vem aqui também contribuir para informar a todos algumas das homenagens que “Jack” tem recebido de todos nós, as quais perdurarão até aquele glorioso dia  em que o veremos face a face com o Senhor, na chegada dos cristãos à Pátria celestial.

Esta Escola, portanto, acaba de distribuir, a todos os nossos afiliados lewisianos, alunos, amigos e professores, uma homenagem especial ao nosso mestre, juntamente com uma oferta gratuita a quem preencher, DENTRO do períoodo da Semana-Lewis, todas os termos corretos nas linhas e colunas desta chamada “Palavras Cruzadas Lewisianas”. O diagrama distribuido segue abaixo:

A Legenda com as instruções de preenchimento das linhas e colunas segue agora, e, ao final do preenchimento, comentários serão muito bem vindos. Avisamos que o prêmio a quem preencher é exclusivo para afiliados e alunos DESTA Escola, os quais enviarão, em cópia oculta, seus endereços para entrega do prêmio (um livro sobre CS Lewis ou sua teologia). Reiteramos que a premiação se encerrará no dia 29 do corrente.

HORIZONTAIS:

  1. Sobrenome do Grande Mestre de CS Lewis em sua jornada ao Seio de Abraão no livro “O Grande Abismo”.
  2. Diz respeito ao foro judicial; ou parte da Criminalística que trata dos aspectos próprios da investigação criminal.
  3. Sigla de Elwin Ransom.
  4. Aquilo que houve muito em Nárnia (guerra, em inglês).
  5. Sigla de Clive Staples Lewis.
  6. Higienize; tire a sujeira.
  7. ……51 (Região no deserto de Nevada onde afirmam existir uma base secreta de acobertamento de OVNIs e outros mistérios no território americano).
  8. República do Sudoeste da Ásia que ficou famosa por causa da guerra no Vietnã.
  9. Elemento químico de número atômico 24, maleável e prateado, que é usado para dar um tom metálico a peças e veículos mal conservados.
  10. Lavra a terra.
  11. Bicho-do-pé, em tupi-guarani.
  12. Sigla de avião da USAF na 2ª Guerra Mundial, o “North-american”.
  13. Príncipe que é o principal personagem do 4o Livro das Crônicas de Nárnia e do segundo filme hollywoodiano da série.
  14. Sigla para Discagem Direta à Distância.
  15. Sigla para Tecnologia da Informação.
  16. Community Learning Development (sigla de uma instituição escocesa com quem a EAT se relaciona).
  17. Sobrenome do herói que salvou o Planeta “Perelandra” da tentação de Satanás no corpo de Weston, e cuja origem estava escrita no espírito da profecia dada para a família dele.
  18. “Ar”, em inglês.
  19. Nome do Grande Leão que salvou Nárnia da Feiticeira-branca.
  20. Doença respiratória que também atinge os gatos e os leões.

VERTICAIS:

  1. Nome do Planeta salvo por Ransom.
  2. Santificadas.
  3. Sigla para “Diário do Nordeste”.
  4. Triture, mastigue, esmague.
  5. Sigla para “Dynamic Noise Limiter” (aparelho para redução de ruídos).
  6. Nome do maior escritor de apologética cristã de todos os tempos.
  7. Sigla para Sociedade Anônima.
  8. Mar interior de água salgada na Rússia e que contem quase 1.500 pequenas ilhas, o qual está virando um deserto aos poucos.
  9. Átomo, em inglês.
  10. Abreviatura de Ronaldo, em inglês, como era chamado o astronauta “McNair”, morto no acidente com o ônibus espacial Challenger, em 28 de janeiro de 1986.
  11. Antiga denominação de colégios onde estudavam juntos moças e rapazes.
  12. “Do” ou “da” em inglês.
  13. “Leão da Montanha”, parente próximo de Aslam.
  14. O que a “Série Nárnia” é em termos literários.
  15. Nome do mais perfeito livro de CS Lewis de apologética cristã que combate frontalmente o ateísmo e a descrença no sobrenatural (plural).
  16. Nome do planeta onde Dr. ER aprendeu a linguagem “Solar Antiga”.

Desejamos a todos boa sorte ou boa sapiência…

A Direção.

Publicado em Arte de Desaprender | Deixar um comentário

Uma justa reclamação dos ateus?

Breve revisão da explicação cristã para a aparente injustiça da ira divina no Velho Testamento, onde Deus parece não fazer qualquer “seleção” ao aplicar os seus castigos

Um estranho desdobramento das ações do Deus mostrado no Velho Testamento tem sido o pivô de uma das mais sérias e persistentes reclamações dos ateus e céticos do mundo, e os cristãos precisarão de muita fé, discernimento e conhecimento bíblico para ouvi-la e assimilá-la no seu coração, sem os prejuízos da ignorância dos descrentes. Trata-se do fenômeno teoricamente unilateral das vinganças de Deus que, contrariando a própria lógica de Jesus (e a evolução da compreensão da Justiça), irrompe em atitude aparentemente injusta por não ser seletiva, ou seja, por aplicar a inocentes as penas cabíveis apenas aos culpados. Os ateus então perguntam, com justiça: por que era coletiva a vingança da Justiça divina a um pecado individual?

Neste sentido, vê-se, ao longo do Velho Testamento, especialmente em livros como Isaías, Ezequiel e Jeremias, um Deus não apenas vingativo, mas cuja inteligência parece não distinguir justos e injustos (e assim saía a castigar os pecadores, desobedientes às suas ordens), aplicando toda a sua ira como que “espalhafatosamente”, sem critério, atingindo pessoas que não pecaram ou até povos e nações que nem sequer estavam presentes no momento da iniqüidade constatada. Mas será que as coisas são de fato assim mesmo? Vejamos duas respostas cabíveis ao argumento dos ateus.

O ARGUMENTO DA JUSTIÇA

Baseado na Carta de Paulo aos Romanos (Rm 3,10-12), que afirma e ratifica a lógica perfeita da Teologia do Mérito, na qual a Humanidade – como um todo, todos nós – tornou-se tão malévola que ninguém, absolutamente ninguém, merece qualquer consideração de Deus, a rigor, nem mesmo as mais “puras” criancinhas. Neste mister, parte da premissa de que a Humanidade NEM DEVERIA estar viva, sendo a nossa permanência na Terra um milagre de piedade e até uma incoerência da parte de Deus, que teria, aí sim, cedido a uma injustiça cósmica, ou seja, deixar viva uma raça tão maligna e perigosa para todo o cosmos. Portanto, uma vez que ninguém merecia estar vivo, então as penas aplicadas aos judeus rebeldes caírem sobre seus próximos (familiares, amigos e até nações vizinhas) aparentemente inocentes, seria o corolário lógico da Justiça Divina, que terminaria por erradicar todas as “ramificações” da maldade praticada, extirpando o conjunto do Mal que a gerou.

Interessante que este caso pode ser perfeitamente visualizado por um evento comum em nosso dia-a-dia: i.e, uma multidão de cupins que infesta nosso guarda-roupas e que combatemos com uma descarga de veneno, jamais nos levou a lembrar antes que naquela população de insetos haveria, certamente, algumas pobres “operárias” que não invadiram o móvel e que apenas estavam alicerçando a colméia, bem longe dali. Mas nós matamos todos eles sem lembrar das inocentes porque sabemos que cupins são uma praga, e que não há como dialogar com seus chefes, pedindo para só destruírem árvores secas, e não móveis! Cupins são terríveis, mal-ouvintes e odiosamente injustos, pois destroem móveis até de criancinhas!

E tem mais. O argumento não pára aqui. Veja: NINGUÉM é inocente de nada! Até no Novo Testamento, como resposta dos próprios apóstolos ao drama da perdição humana, a teologia cristã se encarrega de nos ensinar que TODOS NÓS, de qualquer faixa etária, estávamos não apenas presentes no momento da Queda de Adão e Eva (pecando junto com nossos pais), como também no momento da condenação de Cristo, gritando junto aos judeus: “Crucifica-O! Crucifica-O! Crucifica-O!”. Temos, portanto, culpa universal e multidimensional, no tempo e no espaço, pela tragédia humana neste planeta, inclusive pela tragédia do próprio Cristo, único inocente no universo. Isto prova que o veneno lançado sobre os cupins não atingiu inocente algum, simplesmente porque nenhum cupim é inocente.

Este, pois, é o raciocínio de Deus, com base na Teologia do Mérito. A Humanidade inteira não é flor que se cheire, e Deus não tem sequer esperança de diálogo ou, num apelo, vislumbrar qualquer mudança de atitude em nós. E quem discorda disso? Quem se acha fácil de mudar? Quem acata de bom grado um pedido de mudança nos seus velhos hábitos?… Assim, pois, eis que está posta uma das respostas para a acusação de injustiça divina nos atos registrados no Velho Testamento.

O ARGUMENTO DA IMPRECISÃO

O Velho Testamento é um livro judeu, escrito por judeus e influenciado pelo espírito judeu, em cujo sangue perpassa a índole mais vingativa da raça humana, e foi por isso que a etnia judaica foi a escolhida para ser o “saco de pancadas” de Deus, e exemplo para as outras raças. Todos nós estamos carecas de saber que, o melhor método de ensino é o exemplo prático, e isto se verifica sem exceção em todos os lares e escolas, onde, de um mal praticado por um filho ou aluno, só se tirará algum bem (ou bom proveito) se ele puder ser usado como exemplo ou ilustração para os outros filhos e alunos. Ou seja: além da maldade do mal, ele será inútil se não puder, pelo menos, servir de lição para evitar a sua repetição por outras pessoas, e a lição é a única coisa boa que o mal possui. Só os imaturos não usam os erros do passado para se corrigir e se tornar uma pessoa melhor.

Os judeus foram o exemplo da maldade humana, e Deus os usou para mostrar como a perversidade de um povo (ou melhor, de uma pessoa) pode levar a outras crueldades piores, gerando uma cadeia de contágio capaz de degenerar a todos e pôr em risco até a sobrevivência da sociedade. Se os males praticados pelos judeus não fossem jamais punidos, esta impunidade transformaria o mundo num inferno sem fim, levando à extinção da espécie que os ateus terminariam por atribuir a uma vingança de Deus.

E não pára aí. Um dos piores erros humanos, particularmente cometidos pelos judeus levitas (fariseus e saduceus, no Novo Testamento), é a questão da conversa fiada, ou da mentira, ou da imprecisão da notícia, motivada por interesses escusos. Exatamente por seu caráter rebelde e vingativo (que eles nem se esforçam para esconder), os judeus semearam inimigos mortais ao longo de sua história, e não é à-toa que eles foram os responsáveis diretos pela crucificação de Jesus. Para manter a aparência de “eleição divina” por seu monoteísmo heróico, eles precisaram condenar TODAS as outras religiões do mundo como heresias e inimizades a Deus, e para isso criaram todo o esquema de entronização e divinização do Judaísmo, passando esta mensagem para os povos vizinhos. Com esse esquema montado, era necessário gerar “temor santo” nas almas não-judias, pregando um Deus-que-se-vinga-dos-inimigos, capaz de atrair todos os que queriam ver seus inimigos vingados, bem como deixando nos inimigos o pavor de cair nas mãos daquele Deus-revanchista. Esta dupla estratégia tanto conquistava mais povos ao Judaísmo, como gerava mais ódio aos/nos inimigos de outras religiões, cujas rebeliões e batalhas precisavam ser vencidas por um Deus-de-braço-forte, gerando “hegemonia teológica” para o Judaísmo.

Neste clima da estratégia de conquista e no esquema de aterrorizar os inimigos, não é de se admirar que os escribas judaicos tivessem feito, eles mesmos, determinados acréscimos aos fatos verificados nas inúmeras batalhas étnico-religiosas que eles travaram na antiguidade, botando mais sangue em ferimentos superficiais e mais vítimas em contagens mínimas de mortos. Com isso, as suas toscas vitórias em batalhas comuns da época, ganhavam o peso de um estrondoso derramamento de sangue e de uma quantidade incontável de cadáveres, o que ao final tanto ajudaria a afastar os inimigos quanto a fortalecer a fé judaica (tanto dos judeus piedosos civis quanto dos soldados hebreus em combate).

Não estou com isso dizendo que Deus não contribuiu para levar Israel a inúmeras vitórias e que Javeh não interfere a favor dos seus filhos. O que estou dizendo é que boa parte das guerras épicas e das carnificinas abomináveis descritas no Velho Testamento (sobretudo quando a descrição tenta expressar – forjar – a própria voz de Deus mandando matar criancinhas e mulheres grávidas) podem ser atribuídas à pena dos escribas, que podem tê-lo feito seguindo ordens de seus chefes levitas ou militares. Seguramente Deus não mandaria matar mulheres grávidas e criancinhas, principalmente se elas não estavam na guerra e eram, assim, “inocentes” integrantes de povos cujos exércitos lutavam pelo poder ou pela terra; até porque tais mortes nada acrescentariam de útil, seja para as vitórias judaicas ou para as possíveis lições teológicas de Deus.

Com efeito, um Deus que tivesse sido no passado o principal responsável pela mortandade e pela barbárie, jamais conseguiria uma boa imagem de Deus-misericordioso na pessoa de Cristo, e todo o discurso de Jesus acerca do amor ao próximo ficaria comprometido, para todo o sempre. Assim, pois, temos que insistir não apenas no caráter magnânimo de Deus, como na sua infinita presciência, que inevitavelmente preveria o dano irreparável no seu marketing evangelístico, bem como na Sua própria auto-imagem, se Jesus tivesse que explicar as inúmeras carnificinas que seu “pai-amoroso” autorizou no Velho Testamento.

Finalmente, ao chamar este de “Argumento da Imprecisão”, em relação à possibilidade de os judeus haverem registrado os fatos com os acréscimos particulares dos seus interesses proselitistas, alguém poderia alegar que se Deus é onipotente, por que não deixou um registro perfeito, onde todos os dados fossem precisos e verificáveis?. O problema é que um registro perfeito teria que ser sobre-humano, e assim a própria natureza do registro comprometeria a crença-cega que Deus precisa para colher a confiança necessária, única virtude que não pode ser delegada nem temerária, porquanto não existe uma meia-confiança ou uma mini-confiança. Ou se confia ou não se confia. Se a confiança era a pedra-de-toque ou a chave para alavancar nossas almas ao patamar dos anjos (e assim sermos salvos), então os registros toscos da humanidade produziriam uma fé muito mais louvável e valiosa, já que ultrapassou a barreira da insegurança das descrições e transcrições humanas. É isso.

Aí estão, portanto, os dois argumentos mais imediatos para dar resposta à justa reivindicação dos ateus acerca da “maldade de Deus”, e os crentes fariam bem em estudar melhor as teologias do Mérito e da Retribuição, não deixando de lado as oportuníssimas explicações de CS Lewis para todo o corpo de doutrina cristão. Não estou apostando, aqui, que tais respostas são suficientes para esmaecer e muito menos erradicar o ceticismo dos ateus, e o próprio Lewis os respeitava justamente quando se aferravam a bons argumentos lógicos. Pelo contrário, duvido até que no meio dos meus próprios correligionários não haja muitos que se sintam confortáveis no discurso ateísta (Lc 18,8). Portanto, e desgraçadamente, se a pregação cristã não contemplar as inquietações e dúvidas levantadas pelo materialismo pós-moderno, penso que toda a Homilética atual fracassará.

Publicado em Arte de Desaprender | 2 comentários

O macabro está à espreita

Em 11/11/11, um comentário casual sobre um crime que abalou a todos e não sejá jamais esquecido, por sua sinistra relação com o “misterium peccatu”…

Ele já foi publicado com o título

O pavor sem limites mostra sua face

Uma ocorrência aparentemente banal no cotidiano tresloucado das grandes metrópoles, termina por revelar um quadro assustador da realidade dos próximos séculos, que lembra a chegada do menino “Damien Thorn”, do filme de 1976, “A Profecia”.

Na esteira do que comentamos em nosso artigo “O pavor sem fim da Bruxa de Blair” (Google), uma nova face do horror exibe-se eloqüentemente nesse recente episódio de “tiroteio escolar” (veja a matéria completa NESTE LINK), no qual um garoto feriu uma professora e depois se matou. E aqui, a sua nova face diabólica manifesta-se exatamente por deixar um rastro apelativo de incerteza e espanto geral, no sentido de ter sido produzido por um aluno exemplar (nas palavras da própria vítima e de todos os seus colegas de colégio) e sem qualquer histórico escolar ou familiar de violência, surto psicótico ou mesmo depressão, geralmente traços típicos nesse tipo de massacre. Assim, o que estremece a paz de qualquer um e põe nas mãos da Ciência (Pedagogia e Psicologia) um abacaxi difícil de descascar, senão impossível, é justamente ter sido uma ocorrência sui generis, sem antecedentes, ou seja, algo que aparentemente condena todo mundo à possibilidade de vivenciar coisa semelhante em sua casa ou escola, ou pior, de qualquer um de nós poder “surtar” e chegar ao comportamento daquele garoto, suicidando-se ao final. É como se toda a cena mundial e todas as estrelas tivessem parado e passado a observar a cada um de nós, esperando a resposta mais decisiva de todas, aquela que inaugurará o apocalipse social do planeta: “você é surtável? Você tem algo em si que pode levá-lo a um desequilíbrio tal que espante até a si mesmo?”…

Assim é que o episódio do menino de São Caetano do Sul, que inclusive era evangélico e filho de evangélicos, vem atordoar profundamente o coração desta geração perversa e corrupta, como a descreve precisamente o Evangelho. Ele obriga a uma reflexão profunda acompanhada de uma auto-análise, expondo, em letras garrafais, a inquietante pergunta: “Quem é você? Quem é o seu próximo? O que significa ser uma pessoa NORMAL? Como se pode confiar no próximo, se nem você merece confiança? Como pode haver um mínimo de paz e segurança num planeta que abandonou Deus?”…

Que este episódio sirva, pelo menos, de lição para quebrar a presunção humana, forçando à humildade dos fatos mais gritantes, a saber, que qualquer um pode matar alguém ou a si mesmo, dando razão ao Evangelho que aponta a cada um de nós, sem distinção, como autores finais da morte do próprio Deus, encarnado em Jesus. CS Lewis tratou desta questão dando como exemplo o fato de que, assim como cada um de nós esteve presente à tresloucada decisão de Adão e Eva (compartilhando deles os pecados que cada um tem e mantém por meio de seus vícios), nós também estávamos presentes não apenas nos soldados romanos que mataram o Nazareno, mas até na multidão que gritou “Crucifica-o! Crucifica-o! Crucifica-o!”. E não deveria ser diferente, se Deus quisesse quebrar a soberba humana que, olhando para os dois ladrões ao lado de Jesus, pensava arrogantemente: “pelo menos eu não roubo nem mato como esses dois”. Está desfeito o equívoco. Durma-se com um barulho desses…

Publicado em Arte de Desaprender | Deixar um comentário

Alimentação sadia independe de seus alimentos

Uma velha proposta medicinal dos evangelhos contém o conselho mais seguro para uma vida saudável, em cuja dieta não há restrição alguma e está ao alcance de todas as classes sociais.

A resposta de Jesus para qualquer pessoa que curasse era sempre “a tua fé te salvou”. Ele nunca disse “eu te curei”. Assim, aqui reside um segredo crucial para a vida humana sadia neste planeta. Vamos analisar tudo o que se refere àquilo que poderíamos chamar de “A Fórmula Medicinal de Jesus”. Observe o leitor qual o valor relativo dos alimentos proposto por Jesus, e como a ausência de preocupação era a pedra-de-toque para a saúde do corpo, com o qual o Nazareno mui pouco se importava* (João 6,63 – depois Lc 12,22 e 29-31, tudo na Bíblia CNBB 2008). Note também que a ausência de preocupação era o grande desejo de Paulo (I Co 7,32a).

Por exemplo. Ao dizer “não é o que entra pela boca que contamina o homem” (Mt 15,11), Jesus estava, na medida das possibilidades de um texto tão curto sobre uma matéria de tão pouca importância (diante da salvação da alma a saúde do corpo nada significa), conduzindo seus ouvintes a uma vida tranqüila, ou absolutamente despreocupada em relação à alimentação, como que antevendo a época atual onde 99% das preocupações estão relacionadas à saúde do corpo e à “nutrição saudável”. Não sendo o que entra pela boca o que contamina o corpo (“não é seu alimento que lhe adoece”), então não se deve dedicar a ele nenhuma preocupação além do mínimo necessário (tomar banho, escovar os dentes, calçar os pés, pentear-se, etc.) a uma vida social agradável, e não por causa de alguma doença oportunista. É a convivência familiar e social que deve ser lembrada quando lavamos as mãos ou escovamos os dentes, e não uma doença produzida por aquilo que julgamos sujo ou contaminado. Era assim que Jesus pensava, e este fato pode ser deduzido da resposta que Ele deu aos presentes quando os fariseus o acusaram de comer com as mãos sujas: “hipócritas! O vosso interior está cheio de dolo e imundície e vós me julgais por comer com as mãos por lavar? Ora, limpais primeiro o vosso interior e depois podereis enxergar alguma coisa” (em tradução livre).

Comer de tudo – não confundir com comer muito – sem se preocupar em como os alimentos vão atuar no organismo, era uma das regras mais essenciais da “fórmula de Jesus”, e foi por isso que Ele disse que o perigo não está no que entra, mas no que sai da boca. Pois o que sai da boca vem do coração, e é isso o que contamina as almas. É com a boca que os homens influenciam uns aos outros e espalham o medo das doenças que certamente nunca terão. Quando Paulo explicou que ele plantou, Apollo regou e Cefas colheu, deixou claro que Deus é que era o importante, pois é dEle que vem o crescimento; e aqui o exemplo também se adapta à questão da culinária e da nutrição. O caso se daria assim: “sua mãe comprou, a cozinheira preparou, a garçonete serviu e você comeu, mas Deus é quem cuida para que aquele alimento produza em você o crescimento e a saúde necessários para o cumprimento de seu tempo de vida e missão na Terra”.

Mas vejamos o conselho de Paulo nas próprias palavras dele: “Mas o Espírito expressamente diz que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios;/ Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência; /Proibindo o casamento e ordenando a abstinência de alimentos, os quais Deus criou para os fiéis e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças;/ Porque toda a criação de Deus é boa, e não há nada que rejeitar se for recebido com ações de graças;/ Porque pela palavra de Deus e pela oração é santificada” (I Tm 4,1-5). Atente o leitor para o que está em negrito. O que Paulo escreveu se atualiza assim: “A mídia de hoje vive alardeando alimentos que você não pode comer, mas eles foram criados por Deus para nutrição de seus filhos fiéis, que deles fazem uso orando antes e depois de ingeri-los; porque tudo o que Deus criou é bom, e não há nada ruim se for ingerido com oração, pois a Palavra de Deus e a oração são poderosas para santificar aquilo que não faria bem sem a bênção de Deus”. Aqui está o sentido pleno e perfeito do que Paulo explicava a Timóteo. Que lições tiramos daí?

Muitas. A primeira é que se você der muita atenção à mídia – que aqui equivale a “doutrinas de demônios” – você nem vai comer o que deveria comer, e nem vai fazer jejum quando deveria fazer. Aliás, veja que iniciar um jejum consciente e com fé é completamente diferente de não comer comidas condenadas pela Medicina, e esta agora virou-se praticamente contra o jejum!… Tudo é puro para os puros, e Paulo estava convicto de que NADA é de si mesmo impuro, e tudo o que provém de fé é abençoado por Deus (Rm 14,14, mas leia o capítulo todo).

Assim chegamos ao ponto nevrálgico deste argumento. E as Escrituras Sagradas o resumiram assim: “O justo viverá da fé”. A fé foi criada por Deus (Ele é o autor e consumador dela) para a vida abundante, a satisfação e a salvação dos fiéis, e não para inchar as estatísticas eclesiais!. Se a fé for/fosse incorporada à rotina mental e diária dos cristãos, estes poderiam até mesmo desligar-se dos conselhos “de saúde” veiculados pela mídia (deveriam ouvir apenas o seu médico particular, e somente quando sentissem algum sintoma persistente) e “seguir o rumo da venta”, alimentando-se de todas as comidas que chegassem à frente de seus olhos (Rm 14,2). Porquanto a fé seria parte do alimento, ou a CHAVE PROTETORA DO ORGANISMO, blindando tudo para evitar contaminações ou indigestões. Não é à-toa que o evangelista Marcos disse que os crentes poderiam até “ser picados por serpentes que o veneno não os prejudicaria” (Mc 16,17-18), desde que eles, conscientes disso, não desafiassem o perigo para provar a verdade.

É claro que a regra da fé para a saúde perfeita é uma ferramenta periclitante, pelo seu caráter “sine qua”, ou sem retorno, obrigando à manutenção de um ânimo firme na decisão de ruptura com os padrões vigentes, de uma sociedade marionete da mídia e uma mídia vendida aos poderes econômicos que regem o mundo. Estes poderes que manipulam a mídia acabaram tornando todos os indivíduos (inclusive os médicos) inseguros em matéria de saúde, até porque a própria propaganda é enganosa, com pesquisas contraditórias e conselhos temerários, gerando insegurança e estresse. Sem uma mente amadurecida e uma consciência equilibrada “in medio virtus”, a possibilidade de um desastre é muito grande, embora a contrapartida de seguir os “modismos salutares” da sociedade de consumo seja tão arriscada quanto. Eis porque nos animamos a sugerir a velha regra bíblica para o mundo, embora acreditemos que ela alcançará, no máximo, alguns crentes mais atentos ou alguns recém-convertidos animados pela força do primeiro amor (Ap 2,4).

Deus queira que não. Eles sabem que a fé os redimiu, e seu Salvador cansou – aliás, não se cansava – de repetir “a tua fé te salvou”. Sabem que a “cirurgia da salvação” é uma via de mão dupla, com o Senhor “varrendo todo o Caminho” para o homem andar, cabendo a este tão somente decidir entregar-se de vez à obediência do Senhor, com a qual viveria, renasceria e subiria à Igreja Gloriosa, lá onde veremos pessoalmente o bem que a fé operou em nós.

______________________________________________________________

(*) Isto poderia periclitar o entendimento de “Não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo?” (I Co 6,19), e por isso deve-se compreender que esta expressão paulina não se refere ao corpo de carne, e sim ao corpo astral, i.e, ao espírito do homem, que tem corpo mental e emocional).

Publicado em Arte de Desaprender | Deixar um comentário

A importância vital da humilhação

A exemplo da vida dos grandes mártires, toda a cristandade deveria encarar com alegria as bênçãos advindas do fato de alguém ser julgado digno de sofrer por Jesus, submetendo-se a um destino que Ele mesmo enfrentou

Um impressionante trecho de uma carta paulina nos diz, em poucas palavras, o que deveria ser a grande lição para cada ser humano neste planeta, a exemplo do que ocorreu com o próprio Jesus, único a quem a regra se aplica sem merecimento algum de qualquer situação de dor ou “vexação”. Paulo escreveu, na epístola aos Filipenses, capítulo 3, versículos 20-21, a seguinte sentença:

“Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem de até subordinar a si todas as coisas”. O trecho terrível aqui comentado será “o qual transformará o nosso corpo de humilhação”. Procure o leitor deixar vivo na mente a noção de “corpo de humilhação” para facilitar o entendimento claro deste artigo.

Com efeito, nada pode ser mais arrasante e quebrador de presunção do que saber que só uma autêntica humilhação poderá fazer bem o trabalho de Deus em nós, e que só a humilhação pode ser o antídoto perfeito para a soberba humana. Eis porque Paulo escreveu usando a expressão “corpo de humilhação”, ou indicando que nossa carne está posta justamente para sofrer todos os mecanismos de “rebaixamento” necessários à quebra do orgulho humano, a vaidade das vaidades de que falava o sábio Salomão.

Assim pois é que a longa e dolorosa história do sofrimento humano ganha um novo sentido, já que nada, absolutamente NADA, tem força suficiente para deixar o ego humano no seu devido lugar, ou no patamar do qual nunca deveria ter saído, a saber, um degrau abaixo do menor querubim e um degrau acima do maior macaco. O sentimento puro do seu lugar na criação, que os animais terrestres (melhor exemplo seriam os narnianos) tão bem ocupam na cadeia bio-hierárquica, foi golpeado de morte na desastrosa decisão de viver sem o comando de Deus, no que ficou conhecido como a Queda do Homem, que apenas caiu no conceito de Deus mas cresceu a seus próprios olhos, julgando-se então senhor da criação, com autoridade para governar a si mesmo sem qualquer participação divina.

O orgulho nasceu ali. E cresceu e virou soberba, cuja origem estava naquele que lhe levou a cair, bilhões de anos antes, na queda dos anjos. E foi crescendo, crescendo, até tomar todos os espaços do coração humano, tornando-o o lado mais negro e perigoso da alma, e fonte de todos os pecados da Humanidade (Mateus 15,18-19).

Como recuperar então a alma humana, por quem Cristo morreu? Como chegar a ser alguém para quem essa alma desse a atenção devida ao amor verdadeiro? (Aliás, a desatenção da alma para com Deus chegou a tal ponto que mal notou os sofrimentos de Cristo, mesmo após assistir a um filme como “Paixão de Cristo”, dirigido por Mel Gibson). Parece que só há ou só havia uma resposta a esta pergunta, e Lewis foi quem nos deu a honra de conhecê-la, explicando que em última análise, o mal só se enxerga como mal quando se torna vitimado por ele mesmo. Eis porque o mal não foi abolido do mundo, ou seja, por causa de seu caráter pedagógico.

É claro que os “bons” gritarão agora e dirão: mas por que então o mal não atinge só aos maus? A única resposta é: “e quem é o bom?” (Rm 3,10-12)… Ou quem, no exclusivo conceito de Deus, pode ser chamado de bom ou justo, quando mal conseguimos refrear nossa ira quando somos ofendidos ou agredidos? Se ser bom é ser igual a Jesus, quem pode se dizer igual a Ele? Quem será cuspido e não cuspirá? Quem será esmurrado e não esmurrará? Quem terá sua mãe xingada e não xingará a mãe do xingador?… Assim, é aqui que o parafuso estrompa a porca.

Porquanto não é possível retornar ao estado de pureza original de Adão e Eva sem uma lavagem completa da alma, cuja imundície alcançou todos os poros e entranhas, a ponto de nenhuma mente humana ser capaz de identificar (se não nos outros, muito menos em si) onde está o pecado, e por isso teima em se ver “boa”, ou merecedora de melhores atenções de Deus. Logo, é necessário mais alguma coisa, além do sacrifício vicário de Jesus na cruz: é necessário a irrestrita adesão do homem às fórmulas salvadoras das Escrituras Sagradas, que indicam quais devem ser os comportamentos do homem para limpar-se a si mesmo, seguindo voluntariamente as exigências morais da Palavra de Deus (ou seja, imitando Jesus Cristo).

É claro que o homem não pode limpar-se, completamente, naquilo que Deus entende por perfeição (Mt 5,48). Ele pode limpar-se até onde alcança a sua visão humana, e somente quando tiver fé e força de vontade suficiente para vencer as tentações. Neste caso, só com a ajuda do próprio Deus, por seu Espírito Santo, o homem pode melhorar – apenas melhorar – no conceito divino, pois a perfeição jamais será alcançada na Terra (Fp 3,12-14).

Com efeito, quais processos de limpeza Deus pode usar para ajudar o homem a limpar-se? É aqui que entra a humilhação. Ora. Se o maior pecado é a blasfêmia da soberba de se julgar igual a Deus, o que poderia quebrar tamanho orgulho no coração surdo dos filhos de Adão? Somente um processo semelhante ao que experimentou Cristo (este sem jamais merecê-lo). É preciso então o Homem sofrer, ou enfrentar o sofrimento com resignação e alegria – por incrível que pareça –, feito um verdadeiro louco, que ri da própria desgraça e sabe o bem que ela está fazendo à sua alma. Não é à toa que os povos mais sofridos do mundo (como os filipinos, os africanos e os hindus) são também os mais espiritualizados, embora não necessariamente cristãos, no processo de martelamento do espírito que levou os judeus do Velho Testamento a alcançarem o posto de “povo eleito”. Não é à toa que não haverá nenhum mártir no inferno, pois seu sofrimento já lhes operou a limpeza necessária.

Não estou aqui dizendo que a fé em Cristo não é necessária. Estou dizendo que Deus chamará dos mais diversos povos e pelos mais diversos mecanismos, todos aqueles cuja humildade já alcançou o ponto de auto-anulação voluntária, na resignação sem revolta daqueles que souberam das dores de Jesus e se espantaram de não as sofrer também. É aquilo que o Novo Testamento chama de “a alegria de ser julgado digno de sofrer por Jesus”. Porém não sei e ninguém pode saber QUAIS critérios de avaliação Deus usa para determinar quais almas precisarão quais dores; e, assim como Ele uma vez deu mais a quem tinha mais e deu menos a quem tinha menos (cada um precisava de uma medida que só o Pai conhecia: Lc 19,26), é possível que haja almas que sofram menos que outras e vice-versa, e podemos estar certos de que o maior sofrimento de uma foi o tanto exato para recuperá-la, assim como o menor sofrimento da outra foi o ideal para restaurá-la (I Co 10,13). Porém, uma coisa é certa: ninguém será poupado do sofrimento, pois nem sequer os anjos e nem seu único Filho Deus poupou (2 Pe 2,4 e Rm 8,32).

Logo, é-nos forçoso reconhecer a importância vital da humilhação, pois somente uma alma humilde pode olhar para cima e enxergar a imensidão de Deus, pois as almas orgulhosas estão sempre olhando de cima para baixo, vendo as outras pessoas sempre piores do que elas. Assim sendo, se para fazer uma alma olhar para o alto com humildade for necessário toda a humilhação de Cristo, ninguém deve duvidar de que ela experimentará momentos de extrema humilhação, que talvez nenhum de nós saiba dizer a que isto se refere. Pode ser apenas a dor física (que também humilha bastante), pode ser uma traição conjugal, pode ser uma demissão num momento em que as finanças iam bem, pode ser uma rejeição amorosa, um lar desfeito, uma orfandade repentina, um acidente incapacitante, um filho predileto que cai nas drogas, enfim, até um exame tátil proctológico num sujeito que passou a vida inteira dizendo que jamais mostraria o ânus para outro homem. São inúmeros os meios que Deus tem para executar em nós a cirurgia absolutamente benéfica da humilhação, que o próprio Deus experimentou em Cristo.

Resta-nos um consolo: se Ele que não tem pecado algum teve que passar por tamanha “vergonha” (lembre que ser morto numa cruz era exatamente isso no tempo de Jesus), por que cargas d’água nós teríamos uma “dignidade tão intocável” que não mereceríamos um momento desses, em que todo o nosso orgulho cairia diante de uma “risada do Além”? Ora, nós passamos a vida inteira rindo dos outros (o Bullying está em toda parte) e agora chegou a nossa vez de provar se somos mesmo melhor que eles ou não. Engula sua presunção e ficará limpo.

Publicado em Arte de Desaprender | Deixar um comentário

Conversando sobre a atração da “Lei da Atração”

Uma nova onda que não tem nada de nova, vem entrando nos ouvidos do mundo com a força de uma tsunami benfazeja, mas carrega em si um entulho que precisa urgentemente de remoção

ESTOU VEZ POR OUTRA SENDO “INSTRUÍDO” por esta mesma informação, que me pede para crer na força da “Atração”, que nada mais é que a nova coqueluche dos novos gurus americanos, reunidos no livro-filme “O SEGREDO”, de quem já consegui me livrar (para um bom juízo do mesmo, seria bom ver alguma coisa dele neste link 1 e também neste link 2). Todavia, o meu próprio e bom Deus, “que segue fielmente passo a passo os meus passos”, tem me munido dos mais variados argumentos contra esta nova onda, que quer sutil e sublinarmente substituir todo o poder e abrangência da fé em Cristo por uma entronização da fé individual (que também é importantíssima – daí o perigo) que opera a auto-cura e outros milagres válidos, mas deixa o sutil veneno da RELATIVIZAÇÃO da fé em Cristo, que é o único FAROL SEGURO a iluminar o caminho final da salvação. Com efeito, crer que “nossa própria mente ATRAI coisas boas e coisas ruins na medida em que se devota a elas” é – como sempre acontece com verdades ensinadas por maus espíritos – em grande parte verdade, e por isso é perigosa ou precisa ser assumida com cuidado e equilíbrio, já que UMA ÚNICA verdade interior desta verdade domina todas as outras e se faz pedra-de-toque, com a qual as outras verdades precisam de ajuda para serem corretamente assimiladas. A verdade interior nela prioritária é o fato de que “Deus é o Senhor de tudo” e, sendo SENHOR, é Ele quem está no comando das coisas que nossos pensamentos deveriam presumivelmente atrair, e não nós [ou não que nós estejamos SOZINHOS navegando ao sabor das idas e vindas de nossos pensamentos, como se eles tivessem liberdade de interferir ou até interromper o modus operandi da vontade de Deus, que no final É QUEM IMPERA SEMPRE, como explicou São Paulo em Rm 9,11-21. A propósito, veja que neste texto, nos versos 11-13, Paulo chega a dizer que ocorreram coisas ANTES do nascimento que foram determinantes no futuro de dois gêmeos que viriam ao mundo, e tais coisas ocorreriam independente de seus bons ou maus pensamentos! Na continuação, Paulo diz coisas até espantosas para os crentes comuns, tais como: que Deus tem pena de quem quer, e não de quem pede! (verso 15); que a própria salvação não depende de quem quer, ou de quem corre, ou trabalha, ou de quem pensa isso ou aquilo, mas única e tão somente da vontade de Deus (verso 16); que o próprio Deus “endurece” os maus e amolece os bons e não os seus pensamentos (verso 18); que Deus tem todos os direitos de nos criar como quis e como quer e NADA resta a nós a não ser enquadrar-se na Sua Santa Vontade (verso 21). E veja: e nada disso indica que haja Predestinação, pelo contrário: que é a nossa liberdade de aninhar-se à vontade de Deus que dá ao Senhor TODA a liberdade de operar a Sua vontade, que inclui até a manipulação de nossos pensamentos, como disse Paulo em Filipenses 2,13)]. Então, graças ao Senhor Deus, eu estou seguro e tranquilo quanto a tudo isso. Amém.

Bem, meu querido amigo. Quando minha irmã Loló me enviou uma mensagem semelhante a esta da PPS da LEI HERMÉTICA (Lewis também rebateu certos hermetismos), eu fui obrigado a respondê-la com as seguintes palavras:

[Abre aspas] OKAY LOLÓ. Também gostei de te ver, por tua alegria contagiante e espírito desbravador, com o qual segues sozinha para ter uma vida financeiramente melhor, embora com todas as dificuldades inevitáveis do pedregoso caminho humano neste planeta. Creio que é útil te dizer que pouquíssimas coisas nos separam, e, a não ser pela tua verborragia interminável (e muitas vezes desesperadora – porque às vezes queremos falar e tu não deixas), quase nada mais há que reparar em nosso foro íntimo, nas compreensões que alcançamos desta vida. Então, o único dado que segue pouco ajustado – ou não desajustado – entre nós, é o fato de que conduziste tua vida para ser regida por ti mesmo (i.e, por aquilo que chamas ‘poder mental’) e eu conduzi a minha sob estrita obediência a Deus, de onde tudo provém e até a nossa capacidade de pensar (bem ou mal) vem dEle, tornando mera falácia os arroubos de “doutores” acerca de poder de atração, repulsão, etc. Nada disso leva a lugar nenhum, se nossas mentes não estiverem sob a regência do grande maestro cósmico. De nada me adianta dizer “amanhã estarei muito mais sadio ou mais feliz”, se meu coração não tiver feito as pazes com o Criador, de quem tudo depende. E eu até obtive uma prova recente disso, pois quando eu passei 5 anos desempregado, meu pessimismo me falava bem alto, dizendo: “um cara de 50 anos sem mestrado nunca mais vai arrumar emprego!”. Ora, se é verdade que ao pensarmos coisas ruins, somente coisas ruins aparecem, então obviamente eu jamais estaria empregado hoje! Não é verdade? Todavia, Deus age INDEPENDENTE de nossas crenças e pessimismos, e pode nos dar, dependendo exclusivamente da vontade dEle, coisas maravilhosas, mesmo quando acreditávamos que era o mal que viria sobre nós. Pronto. É isso. Acho que agora pude te falar tudo, ou pelo menos, aquilo que tua verborragia me impediu de dizer outras tantas vezes. Estamos em paz agora, e poderei rir com o teu riso. Receba um abraço carinhoso de teu mano velho… JV. [fecha aspas].

É isso. Sei que é uma resposta curta demais para um argumento tão poderoso (até porque contém verdades e é antiquíssimo!) e tão bem visto pela mídia moderna. E, como diz Lewis, “quase nada posso fazer” para impedir esta tsunami global. Só nos resta orar para que tal onda não ludibrie cristãos, sobretudo aquelas almas inocentes que estão, por bendita graça, se aproximando do aprisco do Cristianismo. Afinal, a onda é forte justamente por ser onda, como acontece com toda tentação. Nada é mais difícil do que desatrair a atração…

 

Publicado em Arte de Desaprender | Deixar um comentário

Seres que a poluição tecnológica afastou para algures

Fundamentado na única explicação lógica sobrevivente neste mundo materialista, o insólito “natural” continua a dar sinais de sua presença ao homem interiorano, quando este não tem medo de contar.

A única explicação lógica que este autor encontrou para entender os dois lados da questão (dados a seguir) se encontra no livro “Cartas a uma senhora americana”, do mestre irlandês CS Lewis. A questão se centra sobre os seguintes pontos: (1) Os seres mitológicos se foram; (2) O que os teria afastado?. Lewis explica sem medo e sem papas na língua, seguro de nada dever aos doutores da mediocridade científica, que tudo enxergam pelos estreitos limites da visão humana de cinco sentidos, a qual criou e entronizou a Ciência por eles limitada.

O livro comporta dois trechos especialmente esclarecedores para o leitor, no qual Jack diz à sua correspondente nos Estados Unidos:

Carta escrita em Magdalen College,   Oxford, em 9/out/1954, página 42:

[Abre aspas] “Prezada Mary,

Agradeço sua carta do dia 6, juntamente com o poema, que me agradou. Em muitas partes da Irlanda, as pessoas ainda acreditam em fadas – habitantes do Shidhe (pronuncia-se Shii) – e as temem. Fiquei hospedado num adorável chalé em Co. Louth, onde se dizia que a floresta era assombrada por um fantasma e por fadas. Mas eram elas que mantinham os habitantes locais afastados. O que nos mostra o seguinte ponto de vista: um fantasma é muito menos assustador que uma fada. Um homem de Donegal disse a um pároco conhecido meu que certa noite, quando voltava para casa pela praia, surgiu uma mulher, vinda do mar, com o rosto “pálido como ouro”. Já vi um sapato feito por um leprechaun*, que um médico ganhou de um paciente agradecido. O sapato tinha o comprimento e pouco mais que a largura de meu dedo indicador, era feito de couro e tinha a sola ligeiramente gasta. Mas tire da cabeça a idéia de criaturinhas cômicas e adoráveis. Eles são muito temidos e chamados “pessoas boas” não porque sejam bons, mas para aplacá-los. Nunca vi indícios de alguém (na Inglaterra ou na Irlanda) que acredite ou já acreditou nas criaturinhas encantadas de Shakespeare, que são pura invenção literária. Os leprechauns* são menores que os homens, mas a maioria das fadas é de nosso tamanho, algumas até maiores. [Fecha aspas].

Ao final de outra carta, a de Drumberg Hotel I, Inver Co. Donegal, de 8/set/56, Lewis oferece uma estranha nota de rodapé, na qual diz: “P.S.: Duvido que seja possível encontrar algum Leprechaun* na Irlanda atualmente. O Rádio os afugentou. (O editor explicou que “Leprechauns*” são Elfos típicos do folclore irlandês, os quais são sapateiros e que, se capturados, supostamente revelam o lugar onde existe um tesouro escondido).

Como o leitor pôde ver, Lewis não dava o menor sinal de descrer de certos detalhes do folclore ou das crendices populares, como se apostasse na certeza de que a Ciência moderna, além de não se dar ao trabalho de ir fundo nas crendices (a descrença prévia sempre impede a investigação imparcial e minudente dos detalhes ricos da fé), ela parte das pressuposições de cientistas materialistas, para quem o universo não passa de uma inflação de matéria nascida de um grão de poeira que explodiu – na verdade, estes cientistas precisam estudar mais a Teoria das Cordas e ouvir homens como Michio Kaku, Greg Braden, Deepack Chopra, Brian Greene e o próprio Einstein, que não duvidava da existência de um Criador.

Há umas duas ou três décadas atrás, a imprensa divulgava uma propaganda acerca dos avanços na área de eletrificação rural, a qual possuía um título semelhante a este: “Seres que a luz eliminou”, referindo-se ao fato de que a chegada da luz elétrica e dos postes de iluminação pública teria feito os matutos descobrirem que todos os seus “monstros” (lobisomens, sacis, mula-sem-cabeça, mãe-do-ouro, curupiras e outros) nada mais eram que “ignorâncias” ou interpretações equivocadas de sombras e outros fenômenos naturais prosaicos, e rindo de seus ancestrais que creram em vão em tantas coisas que simplesmente não existiam!

Ledo engano! O leitor viu a explicação curta e grossa de Lewis? Vou repeti-la aqui: “O RÁDIO OS AFUGENTOU”. Na realidade, os avanços tecnológicos, feitos sem nenhum critério de humanidade e consideração para com a saúde integral humana, e baseando-se apenas no lucro que iria ensejar a quem os vendesse, utilizaram recursos naturais desordenadamente, ou sem qualquer controle dos efeitos devastadores sobre a biosfera e a biodiversidade, prejudicando não apenas o Homem, mas todos os seres que necessitavam da saúde DO AMBIENTE para se manter nele. Com o ambiente fragilizado pelas patologias geradas pela agressão à Natureza, não era de admirar que muitas espécies morressem antes do Homem, dentre elas plantas, insetos, peixes, aves, pequenos e grandes animais e outros seres, os quais a Ciência ainda nem os havia catalogado! Ainda hoje a biologia e a zoologia vem descobrindo seres nunca antes achados nos anais das pesquisas científicas, sobretudo em florestas como as da Amazônia e da Oceania.

Lewis alega que outros seres também foram afetados. Mas como eram animais inteligentes e intercambiantes entre este mundo e outro (através de portais não descobertos entre a dimensão terreal e a eternal), fugiram da biosfera terrestre pelo risco que corriam de ser acometidos de moléstias advindas das ondas de rádio, TV, parabólica, microondas e toda a parafernália tecnológica de ondas, que afetam tudo ao redor, inclusive o cérebro humano (aliás, as desgraças que agridem o cérebro ainda estão por ser divulgadas – temo que a Ciência jamais as divulgue, pois a divulgação contrariaria os interesses dos patrões venais que a patrocinam! – e não será de admirar que daqui há algumas décadas, se nada for feito em contrário, todos os usuários de telefones celulares estarão mentalmente lesados, para não dizer coisa pior!).

Recentemente, o StudioJVS divulgou uma entrevista com um camponês do interior do Brasil, na qual o encontro com estranhos seres ficou patente nas declarações do Sr. José Maria, o qual não teve medo de ser ridicularizado ou menosprezado pela sociedade, até porque toda a sua gente tem testemunhado coisas semelhantes e estão pouco se lixando para o homem cosmopolita, orgulhoso de sua estreita “ciência-de-encher-bolsos-e-negócios-escusos”, lá de onde o povão jamais extrairá o bem comum ou uma benfeitoria popular. Se o leitor quiser conferir a seriedade e a confiabilidade da entrevista aqui citada, por favor queira clicar NESTE link e assisti-la em três partes.

Resta perguntar o que aconteceria a toda essa gente rica, enclausurada em selvas de pedra desumanas e ouvinte de “mestres-cabeças-de-vento”, se um belo dia todas as fontes de energia do planeta falhassem e a escuridão dominasse tudo de novo (?)… O que se passaria na cabeça dessa burguesia alienada? Certamente só desespero e pavor, para muitos, se é que conseguiriam ver alguma coisa com suas lanternas de LED! Mas a maioria, sem dúvida, entraria em depressão, pois a escuridão exterior apenas iria invadir o espaço que já havia tomado, há séculos, desde que a Revolução Industrial desespiritualizou a biosfera e propôs o universo absurdo do materialismo. Se com todas as cidades iluminadas de néon e fluorescências a mentalidade era depressiva, o quão não será quando todas as vitrines se apagarem?…

Publicado em Arte de Desaprender | Deixar um comentário

A pergunta que ninguém fez a CS Lewis

Com sua prodigiosa incursão pelo estranho mundo da ficção, CS Lewis teve que responder à mesma pergunta lógica: “De onde o senhor extraiu a inspiração para certo detalhe dessa história?”. Isto só não aconteceu com uma história. CS Lewis escreveu várias histórias que redundaram em livros do gênero ficção, e para todas elas ele teve que responder a alunos, leitores, pesquisadores e curiosos, que invariavelmente queriam saber de onde o mestre extraiu determinados detalhes de suas narrativas. Assim sendo, em seu livro  “Cartas do Inferno”, Lewis buscou inspiração em Milton, Goethe, McKenna, Traherne e até num antigo escritor pré-medieval que parece ter escrito cartas de Lúcifer. Em seu livro “O Grande Abismo” (livro por nós comentado), Lewis se inspirou em George MacDonald. Em seus livros das “Crônicas de Nárnia”, Lewis explicou que vislumbrou Nárnia em um quadro de animais desenhado numa tampa de biscoitos infantis, na qual uma cena com diversos animais falantes foi pintada, de maneira “tocante e realista”, coadunando-se com seu pensamento acerca do Reino de Deus… (…); e, ainda nas Crônicas, teria tido vários sonhos vívidos com um enorme leão bondoso que trazia a mensagem de Deus e era o próprio Deus em suas aventuras oníricas.

Todavia e com efeito, houve uma “inspiração” lewisiana que ninguém questionou e que foi, estranhamente, a única cuja informação teria se originado “in loco”, ou seja, no próprio ambiente em que a história foi narrada. Trata-se da ‘ficção’ intitulada “Longe do Planeta Silencioso”, na qual um homem é arrancado de sua rotina diária por homens maus que o seqüestraram para o entregar a um monstro extraterrestre, que ao final se mostra como não sendo monstro algum, pelo contrário, revela-se um amigo que sua alma há muito esperava e que afinal o salvou.

Entretanto, o lugar para onde ele foi levado é mostrado com detalhes não apenas minuciosos, mas absolutamente coerentes com aquilo que a Ciência demonstra ser plausível com a realidade local, num relato do qual Lewis jamais explicou a sua origem, pelo menos tão prosaicamente como o fez com as demais “ficções” supracitadas.

Portanto, se a narrativa de “Longe do Planeta Silencioso” não foi explicada como as outras, se seu ambiente revelado não é negado pela Ciência e se tudo que é mostrado ali é logicamente plausível, então a única explicação que resta é a de que Lewis teria sido, de fato, instruído por anjos, que o teriam visitado ou levado a um lugar onde a verdade foi exposta. Fora esta hipótese dos anjos, a única alternativa faltante seria a de que Lewis recebeu as informações diretamente do personagem central da narrativa, o qual teria sido real e nada fictício. Esta sim, é a grande sacada para os leitores de Jack.

A ‘dica da sorte” é pedir a cada um que vá investigar a intrincada série de mistérios que envolve o ambiente onde se deu a narrativa, estudando tudo o que a ciência sabe e não sabe a respeito, cuidando para que se algum segredo cósmico for descoberto, não seja contado pra ninguém, sob pena de o leitor correr riscos desnecessários e, como os peixes, “morrer pela boca”. [A nossa biblioteca EAT publicou uma história instigante a respeito, capaz de impressionar o leitor de Lewis, e ela pode ser acessada neste link].

Publicado em Arte de Desaprender | Deixar um comentário