Pensamento preciso de Jung explica a perdição tal como Lewis

Alicerçado em sua experiência teórica e prática clínica, além de deduzida de sua inteligência ímpar, Carl Gustav Jung chegou ao máximo da iluminação numa frase que bem poderia ter saído da mente de CS Lewis

Introdução

A profundidade até onde desceu a mente de Jung, ou antes, a altura até onde se elevou, com toda certeza retumbou nos mais altos céus dos sete céus de que falava o apóstolo Paulo, para dizer o mínimo. Tão precisa e tão acurada dedução, numa conclusão típica da maturidade espiritual mais qualificada, só poderia vir de um homem dedicado ao estudo profundo da mente humana, com uma mente tão forte e vitoriosa que foi capaz de vencer o longo tempo em que foi “discípulo” de Freud e ouviu tantas “loucuras” de cérebros aferrados ao ateísmo e ao hedonismo.

Aliás, existe mesmo esta estranha história neste planeta: cérebros que foram submetidos às mais negativas experiências manipulatórias, em comparação com cérebros nunca dantes “treinados” no bom combate direto com o inimigo, terminam produzindo mais frutos para Deus, a trinta, a sessenta e a cem por um! Isto nos obriga à conclusão de que os mártires cristãos, e todos aqueles que sofreram horrores, seja neste mundo ou no mundo porvir, serão sem dúvida as almas que o Livro do Apocalipse aponta como “aqueles que lavaram as suas vestiduras no sangue do Cordeiro”, como exemplos vivos da mais fina flor da “elite celestial”, por assim dizer.

Jung certamente não foi um mero psicólogo (no sentido de estudioso da mente) e muito menos um psiquiatra comum, no sentido de um simples médico de cérebros. Porquanto é de muitas décadas a desconfiança de que, dadas as inúmeras provas colhidas no cotidiano dos consultórios, quem quer que trabalhe com a loucura alheia não pode escapar dos riscos de ultrapassar a finíssima teia que separa a sanidade da insanidade, e é por isso que tantos psiquiatras acabam suas vidas em suicídios, tratamentos psiquiátricos ou manicômios!

Neste caso, somos levados por Deus a acreditar que, além de todas as realidades temporais, somente o próprio Criador poderia ter ajudado Jung a ter ido tão fundo e não ter perdido os “neurônios da sanidade”, e mais ainda, a ter extraído de suas vivências e raciocínios, a pérola preciosa que vamos estudar agora. Que Deus nos permita também ver tão longe. Vejamos.

Veja o leitor como a certeza da existência da Evolução estava presente na consciência de Jung, mesmo numa época em que a Teoria de Darwin mal tinha sido levada a sério, nem mesmo por biólogos e antropólogos. Entretanto, sem a visão clara da Evolução, o leitor não entenderá de modo algum este Artigo, e muito menos Jung.

Dividiremos a frase de Jung em partes, assim indicadas:

(1ª) Não há despertar de consciência sem dor.

(2ª) As pessoas farão de tudo, chegando aos limites do absurdo, para evitar enfrentar a sua própria alma.

(3ª) Ninguém se torna iluminado por imaginar figuras de luz.

(4ª) Mas sim por tornar consciente a escuridão.

Não há despertar de consciência sem dor

Jung reconhece um fato irretorquível da realidade pós Queda: a Dor é a mestra e a médica fundamental para auxiliar na Evolução Espiritual, e quem quer que viva fugindo dela estará pondo em risco sua permanência no Reino de Deus e sua segurança emocional nesta vida. A Dor é a melhor amiga e a irmã gêmea da fortaleza, virtude elevadíssima dos grandes santos, e garante a higidez do corpo e da mente, conquanto tenha sido enfrentada com coragem e dedicação a Deus.

Jung também vê aqui a missão e o projeto divino da Evolução humana, como fatores determinantes da escalada espiritual que “equalizará” nosso espírito ao espírito dos anjos de Deus, numa sinfonia inexprimível que perdurará para todo o sempre. Despertar a consciência é finalmente desvencilhar-se de todos os grilhões que acorrentavam nossos tornozelos à imundície e à imoralidade das vidas sem Deus, fazendo nossos olhos espirituais enxergarem não apenas o Caminho da Luz, mas também as veredas derivadas e as seduções malignas deixadas ali, sensuais e perfumadas.

A consciência desperta, dizia Costa Matos, é a única qualidade possível ao homem capaz de fazê-lo responsabilizar-se por todas as missões de um “adulto socorrista”, mas também pelas tarefas típicas das crianças, brincando na humildade que não teme envergonhar-se com elas perante adultos. A consciência desperta é o único instrumento que pode fazer um homem aprender e apreender a realidade de seus erros, bem como de levá-lo a tratá-los como pecados graves, na gravidade de todas as ofensas a Deus.

A consciência dos santos pode ter sido despertada por obra e graça de Deus, desde o ventre materno e sem dor, como ocorreu com João Batista. Porém, na maioria dos casos e para a maioria de nós mortais, somente a dor nos faz atinar para o quanto ofendemos a Deus e o quanto nos tornamos imerecedores de qualquer perdão. A dor “medicinal”, pois, é o megafone de Deus para acordar um mundo surdo, sem a qual a Humanidade caminharia para a dor inútil, infernal e demoníaca.

As pessoas farão de tudo, até o absurdo, para evitar enfrentar a sua própria alma

Enfrentar a própria alma. Se o leitor souber bem o que de fato se trata, ou se estiver familiarizado com isso, talvez não precisemos trabalhar nos sentidos subliminares desta expressão. Porquanto é voz geral, neste século de perversões (em oposição a tudo o que a sabedoria milenar defende), que cada ser humano está em perfeito controle de sua psique, e que seguir atrás de suas inclinações naturais é o ponto forte da jornada humana, mesmo que na prática o resultado é a escalada da violência e da depravação sexual.

Na realidade tem ocorrido exatamente o contrário: nunca a Humanidade esteve tão perdida em si mesma quanto agora, mesmo em comparação com a sociedade que levou Deus a destruir Sodoma e Gomorra! Nunca tivemos tão pouco controle da natureza, seja a externa ou a interna, estando cada um de nós a mercê de toda sorte de doenças e desgraças, como numa guerra fratricida invisível.

Pior, a doença se aprofundou de tal modo que mesmo o cidadão decente, o senhor grisalho da high society, está sempre fugindo de si mesmo, e suas noites de sono vez por outra se movem entre o pânico e o susto, para não dizer coisa pior. O excessivo apego das mulheres à vaidade, sobretudo à beleza do rosto (cabelos, lábios, sobrancelhas, etc.), pode indicar o quanto uma maquiagem imposta pelo subconsciente se traduz em horas e horas dentro de um salão de beleza.

Porquanto na visão de Jung (diga-se de passagem, uma visão aqui acentuadamente cristã), enfrentar a própria alma significa “encontra-se com Deus”, ou com a face exigente do Senhor, aquele mesmo que Jesus “traduziu como severo” na parábola dos talentos, diante do empregado que não fez o seu tesouro render o merecido nos bancos e agentes financeiros. É aquele Senhor dono de tudo que não aceitará impurezas no seu Reino, porque sem santificação ninguém poderá vê-LO!

Ninguém se torna iluminado por imaginar figuras de luz…

Esta “sacada” de Jung foi fenomenal! Atinge o coração do orgulho humano e põe a pique toda presunção de se vê especial pela mera visão interior da imaginação, que a sabedoria popular batizou de “achismo”. De fato, e aqui está a genialidade de Jung, imaginar figuras de luz é utilíssimo e até mais do que necessário, sobretudo num mundo descrente e rodeado de materialistas pós doutorados! Chego mesmo a crer que e fé em Deus é impossível sem uma imaginação positiva e objetiva de seres de luz, tal como o Dr. CS Lewis tanto defendia e realizava em suas extraordinárias “ficções” (que de ficções não tinham nada), apontando para outras dimensões só acessíveis à mente pela lógica e pela fé “no impossível”.

Neste caso, há que se encontrar outro meio pelo qual uma mente se torna iluminada, conquanto essa declaração do mestre Jung reconhece a existência dos iluminados (os que sabem usar a boa imaginação logo logo se lembrarão dos “illuminatis”!), almas cuja evolução alcançou o patamar superior atribuído aos santos de Deus, seres cuja mente pode dizer a uma montanha “atira-te ao mar” e ela assim o fará.

Neste caso, a iluminação para Deus pode estar longe do significado dado a ela por espíritas e esotéricos em geral, e é a santificação da personalidade que tipifica o iluminado do Senhor, o ente de luz que habita ao mesmo tempo o mais profundo do ser e o mais alto dos céus. E é também a santidade que “recupera” os poderes extraordinários perdidos com a desobediência de Adão, e não o mero exercício mental reiteradas vezes repetido em laboratório, com câmeras, spiricons, contadores Geiger, kirlianógrafos e outras parafernálias utilizadas, tanto por doutores céticos quanto por “ghost hunters”. E nem é bom comparar as duas coisas, pois os que usam a parafernália mal conseguem levitar um talher de prata, enquanto um santo levita um planeta inteiro! “Isto fecha o circuito”…

Mas sim por tornar consciente a escuridão.

E em seguida, no mesmo raciocínio, Jung dá a resposta teológica perfeita, muito mais científica do que imaginativa, por assim dizer. É a palavra de um sábio autêntico, cheio da admiração de que falavam os primeiros filósofos gregos, a contemplar a Verdade Divina que perpassa uma e outra, a Fé e a Ciência, e desnuda o labirinto do saber cósmico subsistente entre a “Creação” e a Evolução, ou tanto numa como noutra, para desespero dos “doutores” deste mundo que nunca conheceram as coisas que o Infinito só revela aos pequeninos (Mateus 11,25).

Defendendo assim, tanto a creação quanto a evolução, a mente de Jung pôde esquadrinhar o grande labirinto e enxergar, tanto a inefável Luz, quanto a mórbida escuridão, que afunila e amofina as almas individualizadas para o mergulho no vazio.

Isto posto, é preciso sim tornar-se iluminado. Iluminado como Jesus era e é. E esta iluminação da santidade é que traz a consciência plena, de si, de Deus e do próximo, fazendo, como disse o mestre Padre Libânio (saudosa memória), o indivíduo ter A PRESENÇA DE SI MESMO A SI MESMO. Parece joguinho de palavras, não é? Mas pode ser a mais completa verdade da intimidade anímica do Ser Humano que Deus permitiu chegasse à nossa consciência! Porquanto, somente quando temos auto consciência (consciência de si mesmo a si mesmo) é que podemos enxergar qualquer coisa, qualquer coisa, animada ou inanimada, viva ou morta, diante de nossos olhos!

E então, quando não temos esta auto consciência perfeitamente purificada de pecados, podemos até ver alguma coisa, mas não veremos a escuridão lá fora, ali, além, acolá, mas sobretudo, não veremos a escuridão aqui dentro, e estaremos verdadeiramente inconscientes! E por isso o primeiro passo para a evolução consciencial é a santificação, pois é ela que vai tornando a realidade mais clara, antes que desemboque na translucidez ou mergulhe na transparência luminosa dos anjos de Deus. É este o processo que Jung chamou de tornar consciente a escuridão.

Porque somos todos escuridão, em comparação com os santos, ou pelo menos enquanto ainda no caminho da santificação. E sendo assim, nossa missão precípua é tornar consciente a nossa própria escuridão, e com isso auxiliar o Espírito de Deus em seu trabalho de santificação dos nossos pontos mais atrofiados e obscuros, lá naqueles pequenos esgotos da alma onde escondemos nossas imundices, querendo crer e crendo que são apenas sujeirinhas. Eis aí a explosiva iluminação de Jung, ou antes, a sua claridade ofuscante.

Conclusão

“Não há despertar de consciência sem dor. As pessoas farão de tudo, chegando aos limites do absurdo, para evitar enfrentar a sua própria alma. Ninguém se torna iluminado por imaginar figuras de luz, mas sim por tornar consciente a escuridão”. Tamanha iluminação deveria nos fazer conjugar o verbo “abalar”: eu me abalo, tu te abalas, nós nos abalamos”, etc., enquanto tivermos saúde ocular para olhar para dentro. Duvido que CS Lewis não recebeu esta frase de Jung e não estremeceu com ela, quando finalmente pôde respondê-la após seu “longo” tempo no processo de santificação, que varou toda a sua vida dentro e fora da carne (um processo que ele descreveu no livro “Cartas a Malcolm”, já comentado por esta Escola – Ver aba “Pesquise conosco”).

Quase podemos ver um resumo épico de toda a obra literária de Lewis nas quatro frases de Jung, o que não é exagero inferir, dada a importância que Lewis dava à conversão das almas antes da rejeição final ao Criador (coisa que inexoravelmente ocorrerá se todos nós dermos livre curso às nossas vontades e vícios, e coisa que nem a Medicina do Paraíso nos curará, se não tivermos permitido iniciar o processo de cura mais cedo!).

Que esta geração perversa e corrupta possa ter pelo menos a mínima oportunidade de “ouvir” essas 4 frases de Jung, talvez como último copo d’água no deserto espiritual onde atolaram. Porquanto temos a mais firme convicção de que a mera leitura delas é parte de um gigantesco, mesmo que sutil, esforço de Deus para não deixar suas criaturas desvanecerem na escuridão, sem sequer saber porquê ou onde erraram. Deus não age assim. Ele deixa ver a culpa. Ele ilumina esta via única, o único caminho possível para resgate de quem um dia se entregou à Maldade Viva.

E não é porque Deus fosse ou como se Ele fosse um tirano piegas, que só vem a nós com a mão cheia de exigências impraticáveis, como um velho ranzinza do tipo “estraga prazeres”. Não! Não e não! Nada pode estar mais longe da verdade, e Ele apela por um segundo de nossa atenção: não é nada disso. Na verdade se trata de que até para Ele, é impossível OBRIGAR alguém a gostar de SUA companhia, companhia nos dois sentidos (o pessoal e o corporativo). Pois o Paraíso é um lugar para seres LIVRES! Livres, leves e soltos! E neste caso, se uma alma NÃO GOSTAR de lá, o que Deus poderá fazer para GERAR este “gosto”??? Ou responda sobre alguém que convive com você: o que você pode fazer para que sua filha, irmã ou amiga goste de uma comida que ela detesta? Como fazer alguém que odeia álcool beber cerveja ou vodka? Eis aí o drama de Deus. É esta a ESCURIDÃO inconsciente de que falou Jung.

 

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