Se todas as alegações da Igreja Católica podem ser tomadas como falsas ou frágeis argumentos doutrinários, a reivindicação de unicidade e exclusividade compensam tudo o mais que não deu certo
Na Era das Comunicações, ouve-se de tudo e sabe-se tudo acerca de quase tudo, e o que não se sabe está guardado a sete chaves “nos porões da segurança nacional das superpotências”, que filtram ou sonegam informações com a justificativa de proteger a Humanidade inteira (embora isso seja, até certo ponto, uma falácia típica do pensamento militar!) de outrem ou de si mesma, conquanto não evoluiu o suficiente para dispensar o aparato policial que “controla” multidões em pânico. Todavia no âmbito das religiões, sabe-se de fato tudo, apesar da virtual ignorância que a teologia comum impõe à mente humana, incapaz de conhecer alguma coisa mais substanciosa da Divindade.
Visto o panorama terrestre desta forma, isto é, com uma interminável rede de informação a espalhar dados para todos os lados e ao mesmo tempo com uma ignorância até certo ponto involuntária da parte das consciências interessadas em conhecer, o tema da multiplicidade religiosa pós-Reforma ganha cores bastante expressivas, mesmo que observadas por observadores ligeiros. Com efeito, o argumento do início da Reforma Protestante, embora centrado sob a alegação válida do absurdo da venda de indulgências, não foi capaz de, mesmo séculos depois, demolir ou desmerecer a interpretação tradicional da História da Salvação perpetuada ao longo dos séculos, uma vez que a Razão da igreja única é suficiente para arrefecer todas as iniciativas “renovacionistas-separatistas”.
Noutras palavras, os prejuízos provocados pela eclosão pandêmica de interpretações (mesmo fundamentadas na liberdade de pensamento), genitora ou geradora da enxurrada de denominações de nossos dias, superam em grau máximo de gravidade os supostos prejuízos da manutenção de uma hermenêutica única, centrada sobre um colégio apostólico a serviço de um Papa, tenham estes menor ou maior grau de espiritualidade e afinidade com a vontade de Deus.
A centralização de decisões e o comando único sempre foram os grandes baluartes das vitórias alcançadas por nações agredidas ao longo da História, e também foram o grande segredo de vitória das nações que invadiram outras, seja em legítima defesa de interesses próprios ou de terceiros, desde que o mundo é mundo. Ainda hoje, as organizações mais bem sucedidas e os maiores avanços em matéria de tecnologia e inovação, estão diretamente relacionados à verticalidade da hierarquia, provando que colocar muitas mentes para trabalhar a serviço de uma só é sempre mais produtivo do que esperar que muitas mentes sem comando produzam coisas que não colidam em sua execução final.
Os primeiros cristãos, desde que Cristo chamou e comissionou os apóstolos, viram muito bem isso. Aliás, Cristo mesmo os ensinou isso. Era um grupinho que nascia e tinha um líder, Ele mesmo, o qual iria embora e não podia deixar o Grupo sem comando. Até porque deixar um grupo eternamente sob comando de Deus, DENTRO de um planeta tridimensional com necessidades materiais extremas, seria uma missão ingrata e até certo ponto inútil, porquanto o amor dado exclusivamente ao Deus-conosco (o Deus presente em carne e osso), ou ao ser sem defeito, a perfeição, apenas disfarçaria e até estimularia o narcisismo-egoísmo da espécie humana corrompida no início de sua trajetória, levando à desconfiança social e subseqüente desamor ao próximo. Se era preciso amar a Deus DE TODAS AS FORMAS, inclusive ao Deus-no-próximo, não seria produtiva e muito menos didática a permanência do Deus-encarnado entre nós como único líder de confiança, e por isso Jesus saiu LOGO de cena, exercendo sua liderança corpórea apenas por 3 anos! E mais: sabendo Ele deste plano desde o início, tratou logo de deixar a proeminência de um líder humano 100% qualificado (quem somos nós para duvidar disso) e entregou a ele aquilo que chamou de “as chaves do Reino”, formando ali o embrião da futura igreja que seria o único farol forte a iluminar o mundo de trevas que o porvir reservava.
E mais: é admirável e sintomático como esta consciência (tudo o que estes últimos parágrafos disseram) estava tão presente no meio de toda a cristandade que perdurou por quase 1.500 anos de história, só vindo a balouçar quando a raiz de todos os males (o dinheiro) enfim frutificou DENTRO da Santa Sé para inspirar oposições racionais ao estado de coisas da época, e assim o próprio Deus – vendo e também prevendo o descaminho de sua própria Igreja (como outrora desencaminhou-se o Judaísmo) – suscitou um homem lúcido e fervoroso, cujo zelo pela Casa de Deus lhe consumiu como ao Senhor no episódio dos açoites no templo.
Incapaz de aceitar a venda de indulgências (dentre outras corrupções e imoralidades que sua futura igreja lhe devolveria em dobro) por ser ela um absurdo capaz de quebrar até o Livre-arbítrio, aquele líder parece não ter tido outra alternativa senão fundar uma nova igreja, naquilo que ficou conhecido como “Reforma”, que séculos depois carece de si mesma.
E é assim que a história vai se desenrolando (ou se enrolando cada vez mais) no intrincado quebra-cabeças da restauração da alma humana, que deu significado à missão de religar as criaturas ao seu Criador, na dificílima incumbência das religiões.
Martinho Lutero, portanto, não foi o único e nem jamais será o último, a incorrer no erro bem-intencionado de SUGERIR um outro líder perante uma liderança corrupta, conquanto ninguém está obrigado a seguir líder algum, sobretudo um cujos pecados tenham chegado ao ponto da compra de votos ou da venda de indulgências. Esta é a regra áurea da história da administração dos seguidores de Deus, com a diferença de que na política secular todos podem votar contra o líder, e na política espiritual, quando o líder se corrompe, todos deveriam ORAR por ele, conscientes de que a sua exoneração provocará prejuízo muito maior do que qualquer de suas “idéias loucas”.
E é isso o que se vê hoje em dia. Recapitulemos. A idéia era de uma igreja única, com um líder escolhido por Deus e sem pecado, ou sem pecados graves a atrapalhar a sua administração. Se estes pecados graves aparecessem, a idéia era o afastamento por uma nova eleição divina, MAS SOMENTE APÓS todas as etapas de conversa e aconselhamento com outras pessoas e com a igreja inteira, tal como mostrado em Mateus 18,15-17. Afora isso, o uso de qualquer outra estratégia descambaria no caos da pandemia denominacional, com o novo líder sugerido sendo incapaz de conter a avalancha de novas interpretações e lideranças, fazendo o Cristianismo naufragar na abundância diabólica das seitas.
E o prejuízo? O prejuízo incalculável é o fato de o precioso planeta Terra, único lugar onde as criaturas humanas têm habitação “segura” (bem entendido), tornou-se um caos generalizado com a desastrosa decisão de abandonar a Deus tomada por seus primeiros pais, e pior, tornar-se-ia finalmente um inferno absoluto se a única religião (re-ligação) verdadeira para Deus se tornasse “falseada” ou ficasse confusa entre tantas “religiões”, embaçando ou encobrindo o único caminho seguro para a casa do Pai que um dia abandonamos. Aí está o baita prejuízo exposto! Assim, perder-se no labirinto da imoralidade e da criminalidade constitui o inferno final no caminho das almas, sem dúvida. Ninguém negará isto. Mas perder-se PORQUE o único caminho do labirinto se tornou confuso ou ludibriado por outros “n” caminhos (cada um apresentando uma pseudo-salvação vistosa), aí sim está uma perdição medonha, pois necessitará de uma salvação que não apenas corrija os desvios morais, mas ainda terá que explicar qual das inúmeras alternativas conduz para a verdadeira santidade! Isto diz tudo.
“Se a Igreja Católica não existisse, precisaria ser inventada a qualquer custo”. Eis a idéia que pega uma carona inversa na estupidez proposta do “ópio dos povos”, e com mil vantagens. Com efeito, poderíamos aqui elencar uma série quase infinita de defeitos registrados acerca dos erros e pecados históricos e atuais da Igreja, sem dúvida. O leitor pode crer que conhecemos dezenas deles ou mais (a canonização de “santos”, a infalibilidade papal, o celibato obrigatório, etc.) e não tiramos uma vírgula da revolta que a Igreja causou aos povos em muitos momentos da História, e talvez ainda hoje cause com a não-punição da pedofilia. “Mas porém todavia contudo, tem um porém aqui”, que se robustece a cada ano que passa: a evidência incontestável de que a Humanidade não se reencontrou com a pseudoliberdade assumida, e pior, a enxurrada de religiões não serviu de nada para promover a higidez moral que possibilita o retorno ao seio do Pai.A enxurrada, ao contrário, afundou ainda mais as almas na imoralidade, pois esta se alimenta da desesperança e da imoralidade dos outros, principalmente quando encontra exemplos de si mesma no meio das religiões, ou quando padres e pastores demonstram falsidade e mau-caratismo. Aliás, se o mundo inteiro se depravasse, mas continuasse enxergando um lugar onde seus integrantes (e sobretudo seus líderes) estivessem puros e firmes na sua santidade, isto não apenas poderia atrair almas pouco contaminadas ou noviças na depravação, como deixaria sempre uma luz de esperança no fim do túnel para quem já tivesse chegado ao fundo do poço, e ainda daria ao mundo um porto seguro para missões muito mais arrojadas de agentes de Deus (bem entendido).
Mas do jeito que está é que não dá! Depravação em toda parte, imoralidade associada à criminalidade, destruição da família, mentira e falsidade em todas as relações, e pior, tudo isso com a ausência de santidade dentro das igrejas, assim NADA SALVARÁ O MUNDO! Deus deve mesmo estar horrorizado, após longos séculos de dor e lágrimas.
Eis que agora, sem dúvida, Ele deve estar lutando para deixar CLARO E EVIDENTE que se uma providência não for tomada por aqueles de quem Ele esperaria uma atitude contrária, Sua única opção será o encerramento da História para instaurar o Juízo Final, do qual poucos escaparão ilesos. O inferno que tanta gente procurou implantar na Terra será finalmente entregue aos depravados, e a porta se fechará atrás deles.
O próprio Cristo espera então que, aqueles que se dizem seus seguidores, percebam o tamanho do prejuízo que a enxurrada de denominações religiosas provocou no mundo e também as vantagens salvíficas da obediência a um único código de conduta, através do qual o mundo, sem dúvida, ainda sucumbirá por sua entropia natural, mas pelo menos manterá a chama acesa a iluminar o bom caminho para qualquer viajante que se perder “sem querer”. Sem contar que a Alegria da união do Amor em Cristo pode contagiar a todos e fazer, de surpresa, o Céu descer até a Terra e iluminar tudo, apanhando todas as almas no caminho e envergonhando as rebeldes.
Você pergunta pela obediência e pelo código de conduta? Ah, esqueça estes detalhezinhos tolos que só fizeram dividir a cristandade! Para que pensar em púlpitos quando você já enxerga o seu trono? Ou por que lembrar do tempo em que ninguém era feliz de mão vazia, quando suas mãos já estão cheias? Ou como ser infeliz de novo, quando Deus está feliz com você? As igrejas? Ah, para que pensar nessas coisas pequenas, agora que você chegou à maior de todas? Não foi Ele quem disse que não ficaria pedra sobre pedra? Siga sem freio nessa santa paz.