Como base para todas as teologias válidas aceitas por esta Escola, a visão bíblica de CS Lewis constitui o fundamento e o farol de nossa pregação em todas as mídias, como forma de introduzir e manter o pensamento lewisiano vivo e ativo no mundo.
Uma história impressionante se descortina perante nossos olhos inquietos, após mais de 40 anos de investigação das obras – e por que não dizer? – da mente de CS Lewis, “mago” autor genial nascido na Irlanda, dois anos antes do Século XX. O próprio trabalho incansável de investigar e divulgar, aqui subentendido, termina por deixar aquela história impressionante no meio de um tema considerado reprisado à exaustão, o que poderá influir na boa vontade de releitura das realidades investigadas por Lewis e objeto de nossa fascinação há décadas. Assim sendo, enxergamos nossos “recursos literários” como talvez insuficientes para gerar o entusiasmo necessário com o paulatino e temerário descortinamento da Verdade, pelo que não nos surpreenderemos se poucos lewisianos se aventurarem a entrar empolgados, mais uma vez conosco, nos transcendentes caminhos da genialidade de CS Lewis.
A História começa na investigação de um trecho da Primeira Carta do apóstolo Paulo aos Coríntios, naquela famosa passagem onde ele fala da “mente de Cristo” (I Co 2,15-16). E então, já de saída, um sinal inquietante transparece aos nossos olhos, e ele pode ser descrito assim: “A comunidade cristã, ou toda a cristandade, queda-se pasma e insegura diante da verdade ali exposta por Paulo, e com razão, sobretudo após ouvi-lo perguntar: ‘tornei-me vosso inimigo por vos dizer a verdade?’ (Gl 4,16), e com razão, repito, por causa do aprofundamento teológico ensejado pela teologia lewisiana acerca do orgulho como o maior de todos os pecados”.
Ora, segundo Lewis, se um cristão admite ser o orgulho o maior de todos os pecados, muita coisa na Teologia Cristã terá que ser revista, e essa revisão poderá precipitar, goela a dentro, muita coisa que o orgulho injetou em nós, numa injeção aplicada pelos demônios mais orgulhosos do inferno (não assista agora para não se distrair, mas ESTE vídeo dará uma ideia resumida de algumas coisas que esta verdade poderá mudar). Porquanto a verdade daquela revelação de Lewis acerca do orgulho tem que ser universalizada, pois Jack jamais a escreveu para um grupo de pessoas em particular, embora ele tenha dito, no início do livro (‘Cristianismo Autêntico’ ou “Mere Christianity”), que não estava escrevendo para quem não acreditasse que o Filho da Virgem é Deus. Isto nos obriga a pontuar que também estamos escrevendo AGORA para o mesmo público enfocado por Lewis, pois de nada adiantaria expor tais coisas a descrentes, e às vezes nem para “crentes”.
Uma vez universalizada a noção de que o orgulho é o maior de todos os pecados e a humildade a maior de todas as virtudes, CS Lewis deixou toda a cristandade “em suspense”, por assim dizer, porque, a rigor, ninguém consegue olhar para a própria alma e não ver orgulho ali, e pior, se não ver, é porque possui muito mais orgulho do que os outros! Enfim, Lewis “igualizou” todo mundo no pecado (Gl 3,22a), e esta é apenas UMA das verdades resultantes de sua teologia, que para nós é a Teologia Cristã, a qual Lewis confessou com as seguintes palavras: “Digo-vos O QUE É o Cristianismo! Não o inventei”.
O problema é que colocar as coisas assim – como Lewis o fez – e analisá-las assim, como estamos fazendo agora crendo na autoridade de Lewis, não é para qualquer espírito humano, mesmo dentre os melhores cristãos da atualidade. Porquanto qualquer pensamento que encare de frente a sua própria falência não se porá de pé perante ninguém, e com razão tenderá ao esquecimento e ao desprezo, e por isso a aceitação incondicional do pensamento de Lewis constitui em si um verdadeiro milagre, uma vez que esta ilação em particular se volta contra ele mesmo, exceto se alguma outra revelação brilhante se interpuser, e é aqui que entra o trabalho minucioso e esmerado de seus inúmeros investigadores independentes. Quer dizer, aceitar o pensamento de Lewis como Verdade divina nos coloca, em primeiro lugar, como alvo detonado pela verdade por ele deduzida, e neste instante nos chega a lembrança de que a alma humana não é chegada à verdade, justamente naquele ponto em que ela lhe aponta o dedo indicador, de uma mão com furo no centro e sangue jorrando!
A Verdade que nos chega então (aqui somos obrigados a dizer “a Verdade lewisiana”, temendo que ela não seja vista como verdade bíblica) nos obriga a voltarmos os olhos para nós mesmos e enxergarmos nossa própria falência (Lewis diz que estes são os nossos melhores momentos!), e só depois disso, e muito mais, depois de todas as lavagens interiores pela água e pelo Espírito (I Pe 3,21; I Co 6,11; Ef 5,26b), é que poderíamos ser, de algum modo muito tímido, ou pouco consistente, uma tênue luz a brilhar nas trevas da realidade pecaminosa do mundo em geral, ao ponto de enxergarmos outro milagre nas palavras de Jesus, quando Ele disse, “consentindo em paterna concessão de risco”, que os cristãos seriam assim como uma “luz no mundo” (Mt 5,14), após muitas bem-aventuranças também milagrosas declaradas pelo seu amor “cego”, agora até maternal, para com uma raça que não O enganava de jeito nenhum (Jo 2,24-25).
Assim sendo, uma pergunta obrigatória nos chega aos bofetões: “Como pregar a verdade perante o orgulho de todos, quando o nosso próprio orgulho é visível e inimigo de todos?”… Será que o próprio Lewis a teria respondido? E quem é minimamente humilde para recebê-la e tirar a trave do próprio olho, enxergando o cisco no olho alheio à luz de Mt 7,3-5? E quem ousaria pensar que só tem um cisco? Quem AGORA não correria para gritar “eu tenho uma trave pesadíssima!”? Quem AGORA seria louco para dizer “tenho apenas um cisco”?…
Enfim, na certeza de que CS Lewis se auto acusaria de prontidão diante disso tudo, nossa reflexão sobre a Mente de Cristo dentro da mente humana se reveste de uma estrambótica e rocambolesca complicação, porquanto NINGUÉM haverá de aceitar que a Mente de Cristo funcionaria num coração presunçoso, mesmo sendo o cristão do porte de um CS Lewis! Poder-se-ia até perguntar “que diabos pensou Paulo quando disse ‘nós temos a mente de Cristo’, quando ele mesmo olhava para si e via que cometia pecados que contrariavam a sua própria vontade santificadora?” (Rm 7,19-20)… Então, se em Paulo esta confiança estaria periclitada por sua própria confissão de falência, como confiar que Lewis teria a mente de Cristo para trazer-nos “revelações divinamente inspiradas” para ampliar os fundamentos teológicos cristãos? Eis que aqui o leitor pode ver o tamanho da dificuldade que se apresenta para este comentarista, infinitamente inferior a Lewis e a Paulo (numa confissão que qualquer orgulhoso tomará como orgulho meu).
Enfim, tomamos a liberdade de prosseguir nesta ousadia, contra tudo e contra todos, na plena consciência de que foi contra tudo e contra todos que a própria Escritura foi escrita, pelo menos por aqueles autores canônicos que estavam bem conscientes da realidade do orgulho como dominante e predominante EM TODOS os corações humanos (Jr 17,9 e Sl 19,12-13). Ou seja, que se fôssemos seguir à risca as impossibilidades interpostas pelo orgulho no coração humano, nem mesmo existiria a Bíblia entre nós, pois todo homem é soberbo e mentiroso (Rm 3,4a), um verdadeiro Pinóquio, e não merece qualquer confiança.
Isto me obriga a pedir que este argumento seja, mesmo após todas essas considerações 100% verdadeiras, recebido por todos os meus leitores, mesmo tendo que engolir as origens duvidosas de minhas elucubrações, e à luz da falência múltipla da Humanidade inteira, na qual o leitor se inclui. É o mesmo que raciocinar assim: “se um pregador não sabe se sua pregação é divina, e eu também não sei se meus ouvidos o ouvirão bem pela mente de Cristo que eu também suponho possuir, então que nós nos demos essa liberdade recíproca de arriscar trazer alguma luz às trevas do mundo, e não serei eu quem irá assoprar para apagar mais uma velinha que um outro cristão está tentando acender”.
Logo, nesta hipótese, e somente nesta hipótese, prosseguirei até alcançar o título deste Artigo.
Nossa ideia pessoal é a de que a teologia lewisiana – aquilo que chamo de Lewisianismo – não nasceu em Lewis. Para nós, Lewis foi apenas um instrumento para a verdade chegar ao mundo, e esta, por suposta “coincidência” (por assim dizer), possui fisionomias e fisiologias encontradas na visão teológica de Lewis, que nem sequer as viu como lewisianas. Para Lewis, o que ele pregava era apenas o Cristianismo, e nada mais. Porém, após séculos de evolução do pensamento cristão e do paulatino descortinamento da verdade por parte de Deus (Mt 10,26b), do qual o próprio Lewis se beneficiou, o Cristianismo mostrou possuir uma “fisionomia e uma fisiologia lewisiana”, por assim dizer, e assim o que Lewis pregava, com sua precisão filosófica e filológica, era exatamente o que Deus explicaria ao mundo, se aqui estivesse presente em carne e osso e a falar como um de nós!
Por isso tudo é que podemos olhar agora esta mesma verdade pela ótica divina (usando a mesma empatia com Deus que Paulo usou para falar da mente de Cristo), e fazer o raciocínio em sinédoque, ou seja, do maior para o menor, ou do todo pela parte, já que Lewis não é ninguém na mecânica da Criação e muito menos na economia da salvação.
Isto posto, talvez agora as coisas percam sua involuntária camuflagem e a nuvem da ignorância humana se dissipe, se conseguirmos raciocinar assim: antes de Lewis existir (não nascer), a Verdade já tinha as características encontradas na teologia lewisiana, não porque Lewis já estivesse vivo ou tivesse “ensinado” Deus a fazer as coisas nos moldes dele, mas porque toda a Criação tinha os traços e as engrenagens do estilo divino que a mente de Cristo em Lewis captou depois de milênios da Criação, o que daria para o observador uma impressão de que Lewis “criou” um Cristianismo diferente, quando na verdade apenas tirou a nuvem de ignorância com que o “cristianismo-água-com-açúcar” lhe encobriu! É o mesmo que dizer que, aquilo que chamamos de Lewisianismo, era a fisionomia e a fisiologia do Reino Eterno de Deus, não porque Lewis o inventou, mas porque Deus deu a Lewis a mente de Cristo capaz de fazer transparecer entre nós o Reino de Deus com todas as cores e matizes de sua realidade escatológica. Então Lewisianismo seria apenas um “apelido tosco e precário” da fisiologia do Reino Eterno, porque nenhum outro pregador “sentiu e traduziu” aquele Reino com os sentimentos e lógicas de Lewis. Nárnia não seria lewisiana, e sim, divina, e ela só chegou a Lewis (por “coincidência”, por assim dizer) porque Deus lha revelou, e, ao descrevê-la em linguagem humana, o estilo lewisiano de escrever assumiu uma autoria que jamais foi invenção de Lewis!
Por outro lado, somente um cristão em pleno uso das faculdades mentais requeridas para tal “descrição/tradução” (a saber, a mente de Cristo em plena operação em Lewis, por obra e graça da vontade de Deus) poderia receber Nárnia dentro da mente e traduzi-la para a linguagem humana sem prejuízo das verdades ali contidas, e por isso Lewis precisou ser lapidado e dilapidado muito antes de escrever as Crônicas e todos os seus livros, e ouso dizer que ele foi preparado antes de nascer, sem qualquer conotação reencarnacionista (ele explicou a si mesmo quando, falando de outro personagem, disse que a missão dele já havia sido preparada muitos séculos atrás, quando a própria família de tal personagem foi batizada de “resgate”). Que o leitor não pense que este raciocínio está particularizando a inspiração divina de Lewis apenas para as “Crônicas de Nárnia”. Usei Nárnia apenas como um exemplo, porque é o momento literário de Lewis onde o próprio Reino Eterno transparece com as cores mais realísticas da escatologia cristã.
Ipso facto, como poderíamos entender a ideia de que a mente de Cristo em CS Lewis criou o Lewisianismo? Na verdade, não criou nada, pois Cristo apenas “contou” (revelou) a Lewis o que havia e como funcionava o Reino Eterno, e Lewis, como magistral escritor, passou a escrever sobre aquilo, tal como os profetas do Velho Testamento diziam “Veio a mim a Palavra do Senhor dizendo…”. Isto nos leva a descobrir que o título “Lewisianismo” atribuído a todo o pensamento de Lewis não é perfeito para indicar QUAL ou QUAIS revelações Cristo fez a Lewis, e penso que usamos Lewisianismo apenas para não dizer “Cristianismo”, por razões óbvias: quem de nós iria dar algum valor transcendente à mente de Lewis se nós disséssemos que ele apenas pregou o Cristianismo? Ou quem de nós não acharia que a pregação de Lewis não passa de mais uma pregação cristã, igual a qualquer outra no meio da cristandade? Aqui está o “X” da questão.
Muito mais difícil é explicar como o Criador teve a mente lewisiana para conceber Lewis. Aqui o conceito é que toda a atmosfera e todos os ventos do Reino Eterno “bafejaram” na direção da sagacidade de Lewis (ou da mente que Deus deu a Lewis), e por isso ele deve ter sido um menino que viveu e vivenciou aquilo que entendemos como “mistérios cotidianos”, mas vivendo-os com os olhos de um “narniano” que nem ele sabia que tinha! Então, ao dizer que Deus teve a mente lewisiana, e por isso concebeu Lewis, não estamos de modo algum pensando que Lewis “antecedeu” ou influenciou Deus de alguma forma, e por isso o futuro nascimento de Lewis apenas coroaria a vontade de Deus de que alguém no mundo um dia pudesse falar do Reino Eterno, com cores mais vivas, e sem as amarras reducionistas da mente humana comum, mesmo quando convertida ao Cristianismo. Assim, quando Deus criou Lewis (para mim isso ocorreu muito antes do nascimento físico para todos nós, e sem nenhuma conotação reencarnacionista), qualquer que fosse o bebê a nascer naquela circunstância em que Deus quis coroar a Sua vontade de revelar o Reino Eterno aos homens, tal criança nasceria como “lewisiana”, ou pensaria como Lewis, já que era o pensamento do Criador que ela iria ter e revelar, o qual batizamos de lewisiano por ter sido apresentado por Lewis, e não porque o pensamento de Deus foi concebido por Lewis, ou porque Lewis tivesse inventado o Céu, ou tivesse pintado o próprio Reino Eterno com as cores vivas de sua posterior “invenção” chamada Nárnia.
Enfim, agora eu suponho que alguma luz foi acesa neste ponto, e penso que não há mais como explicar algo que vá além dessas linhas, tanto por culpa das limitações da linguagem humana para tratar do transcendente, quanto pelas limitações deste comentarista. Apenas subi no bonde por bondade de seu Condutor, que aceitou dar carona a um narniano maltrapilho, que julgou por bem ter chegado a hora de explicitar ou explicar aquilo que Lewis certamente reconduziria a uma nova revisão, sentindo o dever – outrora proibido (Jo 16,12) – de abrir as portas do Céu para uma Humanidade tão aflita com os terríveis rumores de nossos dias. Se fiz bem, no sentido técnico, não sei. Não tenho nem 1% das habilidades literárias de meu mestre. Mas dormirei tranquilo por crer que fiz bem no sentido espiritual, uma vez que eu também adoraria me encontrar com Lewis e ouvi-lo contar aquilo que seus livros não puderam revelar aos leitores de sua época. Pelo menos acreditei estar hoje mais perto do dia das revelações, seguindo a parte final do versículo Hb 10:25, ou do Livro das Revelações de João. Me perdoem se esta ousadia feriu ou apavorou alguém, como um dia me fez estremecer.
2 respostas a Semana Lewis 2016: “Como a mente de Cristo em CS Lewis criou o Lewisianismo”