SEMANA LEWIS 2023: As aparentes contradições entre a Justiça e a Misericórdia de Deus

Que misericórdia há em algumas expressões de Jesus?

A rigorosa ordenança bíblica acerca da nossa misericórdia para com o próximo parece contrariada com e por expressões de Jesus que nada têm de misericordiosas. Se isto for verdade, o que Jesus chamava de “Misericórdia”?A inteligência para o culto racional é o maior dom que Deus nos deu, mesmo em comparação com o dom da salvação, pois sem aquela este nem faria sentido. Isto posto, as descobertas da inteligência humana, sobretudo aquelas oriundas da dedução lógica permitida por Deus, extraídas de dentro da Bíblia Sagrada, têm necessariamente a primazia em qualquer raciocínio que se preze, e é neste espírito que estamos escrevendo este artigo.

A observação acurada do texto bíblico, escusadas as deficiências comuns da linguagem humana e os possíveis “defeitos” de cada tradução ao longo dos séculos, pode nos levar a descobertas estarrecedoras, ou no mínimo impressionantes, e expor com luz solar toda a ignorância do bicho-homem perante os chamados “mistérios” da existência. Conquanto isto esteja sendo dito para permitir a plena liberdade de expressão, este articulista propõe que a conclusão aqui divulgada não seja aceita por nenhuma outra mente lúcida, exceto se esta se der ao trabalho de pesquisar o mesmo tema com o mesmo esmero, e ainda assumir uma postura “discreta” ao abrir dos olhos, como seria mais lógico em relação à reverência para com o Sagrado.

O tema proposto já choca no título, que jamais pude confirmar se era o ideal ou se era um mero erro de “desajuste interior” nas crenças pessoais deste autor, e por isso o título deste artigo já poderia produzir os efeitos indesejados que tentei evitar, ou afastar olhares que desejei aproximar. E pior, ele precisa ser iniciado por uma pergunta igualmente complicada, a saber: “teria a Humanidade entendido corretamente o sentido último da expressão ‘Misericórdia Divina’? Ou: quem agregou ‘pieguismo’ ao conceito que havia na cabeça de Jesus?”…

Mas o choque maior, a rigor, está no fato de que toda a cristandade parece ter sido ludibriada pelas ideias levianas do ‘semipacifismo’ de que falava CS Lewis, impondo aos cristãos uma “atenção vaidosa” ao tema e o rigor da compulsória “Lei do Perdão Cego”, que nos obriga a tratar todo mundo com todo carinho que nosso coração sofra para alcançar. É uma regra intransigente e implacável, que requer de um coração humano a pureza do divino, quando nem o próprio Deus, na pessoa do Filho do Homem, conseguiu cumprir à risca todo o tormento de uma disposição impraticável, 24 horas por dia, em dias vividos entre humanos! (O StudioJVS publicou um vídeo intitulado “Por que Jesus se retirava para orar sozinho?”, que trata justamente da missão divina da convivência humana, a qual também foi duríssima para Jesus). É por tudo isso que acreditamos tratar-se de algum possível erro na compreensão da Misericórdia, porque a mente humana pós-Queda também aderiu à tendência ao “vitimismo” e à autocomiseração, prejudicando a clareza da visão diante de realidades dolorosas.

E podemos ir mais longe neste raciocínio. Senão vejamos: a rigor, não existe misericórdia infinita, mesmo aquela que habita O Coração Infinito!… Porquanto a eclosão do pecado, aquele original nascido no coração de Lúcifer, provocou uma situação 100% indesejável para Deus, a saber, “a obrigatoriedade da MISERICÓRDIA SELETIVA”, uma vez que o Sagrado Coração tem que ser – e necessariamente é – 100% intolerante a qualquer pecado, e por isso estamos diante de um erro técnico de interpretação do sentido do perdão, ou seja, que a Humanidade entendeu errado a santidade de Deus e assumiu a crença fraudulenta de uma anistia irrestrita para tudo, como se os olhos perfeitos do Criador ficassem cegos às nossas desobediências e rebeldias premeditadas!

Ipso facto, do ponto de vista técnico, nem haveria misericórdia com a tolerância ao pecado, e portanto a intolerância é um atributo da Misericórdia Divina, ou é um elemento sine qua, ou sem o qual não há Justiça! Logo, a Misericórdia, ANTES de constituir um coração perdoador, é um juízo preciso ou perfeito de Justiça, e sem esta o resultado final de tudo seria o caos, a anarquia, o inferno!

Isto posto, somente desta forma ficam claras as palavras da Bíblia, e aqui me refiro exclusivamente ao Novo Testamento, pois o Antigo traz tantas passagens onde a Misericórdia pode ser questionada que nem é preciso citá-lo aqui (são sem número as citações onde o Senhor dos Exércitos, “por amor a Israel”, ordena que seus inimigos sejam “despedaçados” impiedosamente, incluindo até mulheres e crianças nos despojos das ditas “guerras santas”). Logo, é o óbvio ululante ater-se ao Novo Testamento, quando o Salvador diz: “Ouvistes o que foi dito: ‘amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo’; Eu, porém, vos digo: ‘Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem’!”. Aqui está o ponto crítico: amar os inimigos e orar por eles NÃO SIGNIFICA tolerância e muito menos simpatia para com os seus pecados! E esta realidade, da intolerância e da antipatia, ficou visível até mesmo na conduta do Nazareno!

A própria saúde mental, na forma como a Escritura desnuda o combate ao Mal, ficaria duvidosa ou comprometida, se alguém tivesse a mais diminuta tolerância à maldade ou mesmo tratasse o indivíduo maligno sem uma expressão severa, pois a mente sadia sabe que não pode dar a mínima brecha para a maldade (Ef 4,27), uma vez que esta pode penetrar tanto violenta quanto sorrateiramente nos corações livres (inocentes ou desavisados), e por isso tantas “almas boas” ficaram, ao final, igualadas aos piores demônios, e estes também foram sutilmente contaminados pela falácia da pseudo liberdade inventada pelo ‘Mal-original’, aquele nascido no coração de Lúcifer.

Assim sendo, e sendo o Nazareno o mais perfeito exemplo de saúde mental perfeita, seria Ele também o maior exemplo de intolerância ao Mal, e sua frontal inimizade à maldade seria o maior e mais decisivo farol a iluminar o único caminho possível de um universo perfeito. Concordantes neste ponto, cheguemos a alguns exemplos práticos da intolerância e até da antipatia de Jesus ao pecado, para atender aos leitores cristãos que coerentemente necessitam de uma comprovação bíblica para discursos “incomuns”. Senão vejamos.

(1) Na chamada “Parábola dos Talentos”, podemos inferir que aquilo que, sem dúvida, poderíamos chamar de “mera timidez” (ou o medo de um investimento bancário – o medo de investir seu único dinheirinho nos bancos ou nas instituições financeiras de um país corrupto – um medo que todos nós temos!) termina condenada ao castigo eterno, aparentemente sem piedade alguma! Um rapaz tímido ou medroso teme entregar seus parcos recursos aos banqueiros e é impiedosamente censurado por Jesus e, além de ser condenado a uma pena extrema, ainda vê seu pobre dinheirinho ser dado ao espertalhão valente que confiou cegamente no Sistema Financeiro e aplicou todo o seu dinheiro nas bolsas ou no Tesouro Direto! Tss-tss! Mas o leitor deve reler o trecho para ver com os próprios olhos que ele pode, de fato, ser interpretado assim (Mateus 25,14-30).

(2) Esta mesma ideia é transmitida por Lucas com uma palavra ainda mais dura ao final, como o leitor pode conferir em Lc 19,11-27: veja que, o versículo 27, tomado isoladamente, aponta um grau de intolerância inconcebível para a ideia equivocada da misericórdia infinita, isto mesmo após os personagens apelarem e questionarem, com ponderação: “Senhor, ele já tem dez!” (Lc 19,25). O verso 27 é chocante, e lembra o discurso de um ditador sanguinário, absolutamente descaridoso e impiedoso com seus opositores. Veja que em Lc 19,21-22, Jesus acata e até reforça direitinho a fama de “homem rigoroso” (ou severo) diante dos discípulos, pois ali devemos entender que ser rigoroso é o mesmo que ser “intolerante ao pecado”.(3) Até uma mulher de tremenda fé experimentou a misericórdia ‘seletiva’ de Jesus, quando, querendo salvar uma filha possessa, ouviu o Nazareno a rebatê-la com uma conversa “meio racista” (ou ‘preconceituosa’, segundo a pós-modernidade), quase que comparando-a a cães esfomeados que irritam por chorar demais. A mulher, com tremenda nobreza e bravura, O respondeu de tal modo que Ele mudou o seu pensamento acerca dela e a escutou pausadamente, passando a elogiar a sua tremenda fé combativa e corajosa! (Mateus 15,21-28). Pior: a pobre mulher nada mais queria que salvar sua filha, e por não ser judia, merecia “esperar” até que os judeus – que O rejeitaram conforme João 1,11 – fossem todos salvos! Pode?

(4) A própria “ira explosiva” de Jesus diante de uma plantinha que não deu fruto no tempo certo é sintomática, e mostra o quão difícil foi, até para Ele, a convivência com o mal no mundo, nas suas diversas formas de manifestação, inclusive a da timidez e a da preguiça. Tudo indica que Ele, sentindo fome, pensou colher um fruto para saciar-se e ao chegar perto da árvore, viu que ela não tinha fruto algum, a não ser folhas e mais folhas. Irado com a “preguiça” da planta (que nada produziu até ali ou no tempo próprio), amaldiçoou-a tão drasticamente que ela secou tão ligeiro que os discípulos se espantaram! (Mateus 21,18-21). Pior, se os discípulos também tivessem uma fé grande como a de Jesus, poderiam eles fazer o mesmo com as “plantas” (pessoas) que não deram frutos? Sim: não tardaria para que fizessem isso com aquela gente chata que irrita até o Bom Samaritano! Cruz credo!

Enfim, estes exemplos bastam. Está claro que é preciso urgentemente reinterpretar a Misericórdia de Deus, e assumir que ela está longe de ser algo parecido com a bajulação e a “vista grossa” para pecados, e, a menos que tenhamos aprendido a que espécie de misericórdia estamos sendo chamados a praticar, não seremos alvo da Misericórdia seletiva do Senhor. Neste caso, se o próprio Filho de Deus comportou-se como “se deixando insuflar pela ira contra os pecadores” – ira 100% justa – e esta ira é condição intrínseca do coração perfeito (que não aceita a mínima maldade), então como deve se comportar o verdadeiro cristão diante do “pecado-alheio-sem-arrependimento”?

Uma passagem bíblica explica isso de modo bem claro: Leia o que diz o Salmo 119,53: “Fui tomado de ira tremenda por causa dos ímpios que rejeitam a tua lei”, e esta ira jamais poderia ser condenada por Deus, porquanto o próprio Cristo a expressou e a viveu, em atos e palavras. Talvez o nosso “trabalho” seja mais difícil por causa da rebeldia de nossa alma, que perdeu o controle do espírito e navega ao sabor das paixões (sem contar filosofias malditas que perambulam sobre a terra, e nas quais se vê um falso “amor ao próximo”, amor que nada mais é que tolerância à imoralidade e à libidinagem, como parece ser o caso das ideias socialistas e marxistas que influenciaram religiosos como Leonardo Boff e Frei Beto).

Pior: a Bíblia chama o demônio de “acusador”, e pergunta até: “quem intentará acusação contra os eleitos de Deus?”, dizendo que ele nos acusa de dia e de noite (Apoc. 12,10). Ora, certamente não há nenhuma acusação mais cruel e insistente em nossa consciência do que aquela que nos sussurra dizendo que não estamos sendo misericordiosos para com um Fulano ou Beltrano, e que se não formos misericordiosos com eles Deus não será misericordioso conosco! O problema é que Fulano e Beltrano são pecadores renitentes, ou impenitentes, e estes tais nem Cristo os tolerou! Então, como devemos nos comportar num mundo onde a santidade desapareceu? Isto põe em cheque todos os demagogos e populistas do nosso tempo, inclusive o Papa Francisco, que leva o pontificado à base de uma “misericórdia cega”, que “põe pra dentro todo mundo”, incluindo até blasfemadores de Deus, como os socialistas, comunistas e progressistas.

Enfim, os cristãos verdadeiros, os seguidores do Cristianismo Autêntico de CS Lewis, não perdem nada por esperar e por agir conforme a Misericórdia Seletiva de Cristo, com o cuidado de se afastar de quem não quer nada com a santidade (I Ts 5,22 e Judas 23) e com o cuidado de nem deixar entrar em sua casa quem não esteja de acordo com a sã doutrina! (II João 10-11). E esta é a maior e mais clara pedra de toque, pois sem ela o Caminho da salvação se embaça ou se embaraça, e acarreta o risco de nós mesmos perdermos o rumo! Ora, o rumo do Paraíso é a santidade! Ela é a grande Luz dos justos, e nosso Salvador a manifestou em si – e apontou para ela – de modo tão ferrenho que deixou os falsos profetas a naufragar na própria saliva de sua bajulação. Que os cristãos aprendam com o “pente fino do Jesus severo” e se lembrem que a porta é estreita!

Esta entrada foi publicada em Arte de Desaprender. Adicione o link permanente aos seus favoritos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *