Fã de carteirinha de Lewis, Rilson Joás escreve: C. S. Lewis é definitivamente meu autor favorito. Conheci ele quando um dos amigos de meu pai lhe emprestou o DVD de ‘As crônicas de Nárnia: O leão, a feiticeira e o guarda-roupa’ (e sou grato por isso até hoje). Não vou fingir que entendi todo o simbolismo cristão na época (nem pretendo dizer que entendo tudo hoje). Mas lembro que aquele filme me fascinou de uma forma que nenhum outro havia conseguido antes, e poucos conseguiram depois. E quando conheci a parte alegórica da história fiquei ainda mais impressionado com o cuidado de Lewis no desenvolvimento daquele mundo.
Tive a honra, posteriormente, de ter acesso a dezenas de escritos de Lewis. Mas, ainda que cada um trouxesse algo diferente do outro, ‘Cristianismo puro e simples’ segue sendo o meu livro favorito de C. S. Lewis. E a explicação é simples: Lewis tinha domínio sobre vários assuntos, mas de alguma forma conseguiu incluir grande parte dos seus temas de interesse nesta série de programas de rádio, que viraram o livro que temos em mãos hoje.
Para celebrar esse meu favoritismo com essa obra, escolhi 5 frases dela que mais me impactaram e que espero que sejam de algum proveito também para vocês.
“Todos queremos progresso, mas se você está no caminho errado, progresso significa dar uma reviravolta, retornando ao caminho certo; neste caso, o homem que mais cedo retorna é o que mais progride.”
Explico: Se você quer chegar de um ponto A a um ponto B, sempre haverá a maravilhosa possibilidade do progresso e a aterrorizante possibilidade de não saber por onde ir. Em nossa época, temos vários grupos políticos e sociais que advogam para si mesmo a fama de progressistas, mas que, ironicamente, afirmam que a verdade é relativa e que todos os caminhos chegam a B. Mas, como vai haver progresso se não existe uma estrada certa? No fim, é um ‘progresso’ para perdição. É melhor retornar ao caminho certo, só assim haverá um progresso de verdade.
“Meu argumento contra Deus era o de que o universo parecia injusto e cruel. No entanto, de onde eu tirava essa ideia de justo e injusto? Um homem não diz que uma linha é torta se não souber o que é uma linha reta. Com o que eu comparava o universo quando o chamava de injusto?”
Se há um ‘caminho certo’ de A até B, então, como achar ele e qual a sua origem? Lewis vai dedicar a primeira parte inteira do livro a este problema, até chegar no próprio Deus, fonte de toda bondade, verdade e beleza.
Por experiência própria, Lewis tinha alguma ideia do que era justiça, mas em Deus, ele conheceu o Justo Juiz. Ele tinha alguma ideia do que era bondade, mas em Deus, conheceu o Bom Pastor. Ele tinha alguma ideia do que era crueldade, mas em Deus, conheceu Aquele que se fez Servo Sofredor para fundar um Reino de alegria e paz, onde nenhuma crueldade poderia entrar. Lewis percebeu que sem Deus todas as explicações sobre a existência da bondade e da maldade são incompletas. “Quando Cristo foi crucificado, ele morreu por você, individualmente, como se você fosse o único homem na terra”.
“Imagine-se como uma casa, uma casa viva. Deus chega para reformar e reconstruir essa casa. No começo, talvez você consiga entender o que ele está fazendo. Ele desentope os ralos, conserta as goteiras do telhado, etc: você sabia que esses consertos eram necessários e por isso não se surpreende. Mas de repente ele começa a derrubar as paredes da casa; isso lhe causa uma dor terrível e aparentemente não tem sentido. O que ele pretende fazer? A explicação é que ele está construindo uma casa muito diferente da que você queria ser. Está construindo uma nova ala aqui, acrescentando um novo pavimento ali, erguendo torres, abrindo pátios. Você pensava que seria transformado num simpático chalezinho, mas ele está construindo um palácio no qual ele pretende habitar em pessoa.”
Deus está além do tempo e possui controle de tudo. E, ainda que tenhamos dificuldade de compreender o que ele está fazendo agora, seu propósito final é exposto nas Escrituras de forma clara: (re)formar ou redesenhar criaturas que ao final se pareçam com Ele, tornando-os “pequenos cristos”.
“Quanto mais tiramos do caminho aquilo que agora chamamos de ‘nós mesmos’ e deixamos que ele tome conta de nós, tanto mais nos tornamos aquilo que realmente somos. Ele é tão grande que milhões e milhões de ‘pequenos cristos’, todos diferentes, não serão suficientes para expressá-lo plenamente. Nesse sentido, nossos verdadeiros seres estão todos nele, esperando por nós. De nada vale procurar ‘ser eu mesmo’ sem ele”.
Nossa era tem nos pressionado frequentemente a sermos ‘nós mesmos’, mas o que isso quer dizer? Pela forma em que nossa sociedade coloca essa expressão, parece que devemos ‘ser nós mesmos’ ao deixarmos nossos desejos à solta e fazer o que nos der na telha, sem se importar muito com as consequências. Para Lewis, isso é apenas outra forma de escravidão e não vai nos fazer mais como nós deveríamos ser; na verdade, nos fará mais ‘iguais’ como os outros. Apenas ao estar em Cristo seremos mais como nós mesmos, porque só nEle cumpriremos o nosso propósito desde a eternidade: refletir fielmente a imagem de Deus, que fez cada um individualmente, e em quem cresceremos em amor e glória, para todo o sempre.
‘Cristianismo puro e simples’ , ou, como gosto de chamar pela segunda Edição da ABU, CRISTIANISMO AUTÊNTICO, é um livro que guarda muito mais pérolas como estas, algumas estonteantes até para cristãos, e é certamente um clássico para se guardar debaixo do travesseiro e reler regularmente.