Uma conversa muito antiga captada por uma antena cósmica com tradução instantânea, tratava da criação de CS Lewis (Uma obra ficcional em homenagem ao nosso mestre).
Luiz Eron (LE): Entenda, Aldo. Todas as iniciativas empreendidas para salvar a humanidade decaída se mostrarão, ao final, inúteis. Se anularmos a primeira tentativa poderemos ter êxito na segunda e com isso descansarmos com um mundo perfeito em fidelidade.
Crialdo Kingleo (CK): Mas seria ainda uma fidelidade imperfeita para a maledicência daqueles que outrora nos eram fiéis. Eles diriam que só quem experimentou o mal poderia ressuscitar melhor, mais forte e imune a uma nova investida.
LE: Mas isto dará um valor imerecido ao mal, que se tornará um acessório indispensável do bem na boca dos maledicentes.
CK: É o risco que temos que correr. Aliás, o risco que eu quero correr, em vista da única possibilidade de se esperar o amor perfeito no final. E quando me reunir com eles de novo, reparo sua noção de amor pelo terror de lembrar o risco que correram.
LE: Okay. Aceito. Como será o plano?
CK: Primeiro, fertilizamos Tellus como o fizemos com todos os outros planetas interiores. Prepare a sopa e derrame nos oceanos. Os raios farão o resto. Quando os elementos evoluírem e chegarem ao RNA, depois ao DNA e depois à primeira célula, adube a terra entre os vegetais. Quando a primeira carne nascer, forme os veios de nutrição orgânica até que os primeiros vertebrados se apoiem e se movam. Conduza-os em segurança sob as intempéries necessárias ao resfriamento de Tellus, bem como em crescimento, em fortalecimento e em diferenciação consciencial, até a sua perfeita distinção entre os primatas que o planeta produzirá. Não poupe tempo no processo, pois quanto mais tempo levar da sopa ao homem, mais forte como espécie se fará.
LE: Não haverá necessidade de preparar os futuros responsáveis pelas ações antiparadigmais?
CK: Eles já foram incorporados à culinária da sopa.
LE: Todos eles?
CK: Sim. São chamados nazireus. O significado final e verdadeiro desta palavra não deve ser, em hipótese alguma, conhecido dos primatas, exceto dos tais.
LE: Se as coisas derem errado, os que os tais nazireus farão?
CK: O primeiro terá uma missão tão anterior à dos humanos que quase não será avistado em Tellus, exceto por seus parentes e alguns próximos. Como tratará apenas de salvar os engels menores fora do tempo, ele estará muito cedo comigo e pouco se ouvirá dele em Tellus. Chamar-se-á Enoque. Todos os que voltarem a mim após Enoque, é a ele que deverão render graças. Ele será coroado entre nós com o título de Enoque, o Destemido.
LE: Quem será o segundo?
CK: Seu filho, Noé. Ele salvará os únicos primatas falantes do dilúvio global, promovido para lavar a terra de todas as sujeiras humanas até então acumuladas. Como Enoque, também terá pouco brilho para os conceitos humanos, mas sua palavra se ouvirá nos 4 cantos e, como acontecerá com o último profeta, ninguém lhe dará ouvidos.
LE: Quem será o terceiro?
CK: Será um homem tão elevado que operará, em sua vida, um milagre tão grande que será capaz de dar seu único filho como oferta pelos pecados, tal como eu darei o meu. Mas eu não deixarei o menino morrer, tanto para evitar sangue em suas mãos, como porque já estará a sua fé provada para toda a Humanidade. Ele ficará conhecido como pai de todas as almas fiéis ao meu Filho. A salvação ficará escancarada por meio dele, e por isso seu nome indicará o caminho da salvação.
LE: Refere-se a Abraão?
CK: Refiro-me à sua fé que indicará o Caminho.
LE: Quem será o quarto?
CK: Aquele que será salvo das águas. Ele estará um dia comigo em Tellus e por isso terá o meu brilho no olhar. Receberá de mim poder tal que por suas mãos eu abrirei até o Mar Vermelho. Só temo que por ele se crie uma interpretação distorcida das minhas leis, e por ela se estabeleça um código de conduta ritualística que ao final condene até meu Filho por comer sem lavar as mãos. De qualquer forma, o mundo estará melhor depois dele.
LE: Entendi. E quem será o quinto?
CK: Não esqueça de meu servo Melquisedeque, cujas qualidades serviram de molde para a estrutura ontológica de meu Filho Amado, como único pastor de todo o rebanho. Ele foi o maior nazireu da história bíblica, não pela missão desempenhada, mas pelas qualidades crísticas que tinha.
LE: E o sexto?
CK: Será aquele que ficará a vida inteira fazendo sermão aos peixes no deserto, e que meu Filho chamará de “caniço agitado pelo vento”. Mas os peixes de Israel o ouvirão, e também os gentios. Ele terá uma prole tão grande quanto a de Abraão, de tal sorte que ninguém poderá contá-la. Sua mãe relatará sua conversão uterina, na aproximação de minha filha Maria grávida. Lembre que aquele que esteve comigo em Patmos também era nazireu.
LE: E então, finalmente, quem será o sétimo?
CK: Será aquele cuja consciência será de tal modo aberta que só lhe ficarão ocultas as verdades que eu não revelar. Todas as demais, que estão ocultas para todo o restante da Humanidade, ficarão vivas e óbvias aos seus olhos, e ele converterá a muitos com o sinal dos nazireus. Almas vitimadas com as mais densas trevas encontrarão nas suas palavras o alívio da salvação, e até ateus se converterão ao esquadrinhá-lo. Ele revelará ainda o último nazireu (contado entre os sete celestiais), o qual realizará obra maior do que a de meu Filho em quantidade numérica de almas salvas diretamente por ele, e ainda esmagará a cabeça da serpente. O sétimo, então, que um dia participará até de uma guerra mundial, terá o seu louvor pela apresentação ao mundo do último nazireu, o salvador de Vênus. É isso.
LE: Estou pasmo, pai. Jamais um eldil torto aceitará esta acepção dos nazireus, enquanto durar o pecado em seu coração angélico. Mas eu aceito, e de bom grado. Será o maior e melhor exercício de humildade jamais dado a anjos, mesmo quando incumbidos de conduzir animais e insetos. Esta dádiva será meu eterno agradecimento à Tua bondade.