A história registra muitos casos de protestantes que se converteram ao Catolicismo Romano. Isto é fato. Porém a grande maioria dos convertidos reluta e se mantém arredio à ideia de possuir estátuas de santos, devido ao grave dano psíquico produzido pela lavagem cerebral dos “evangélicos”.
É claro que mencionar a conversão de católicos para o meio protestante é chover no molhado, pois se bem me lembro as estatísticas apontam muito mais este fenômeno do que o contrário, quando “evangélicos” se convertem ao Catolicismo ou mesmo quando retornam à sua antiga igreja-mãe. E apresso-me para acudir esta afirmação, pois aqui os protestantes irão pensar que estou elogiando o movimento egresso dos reformadores! Ledo engano! Estou dizendo que há mais conversões de católicos ao protestantismo não em razão de seu melhor discurso ou doutrina, mas justamente porque, encontrando almas superficiais em qualquer sistema, qualquer doutrinazinha de vento entra fácil, e é esta dualidade “mente superficial X doutrina simplória” que as estatísticas indicam, porque a Doutrina de Deus (a Verdade Final) é profunda demais e complicada demais para atrair alminhas fúteis e alienadas, que mal conseguiram aprender a ler.
Eis porque a igreja dita “evangélica” possui muito mais testemunhos de conversão de católicos do que o contrário, e isto deveria envergonhá-los tanto quanto a nós nos honra, pois quem quer que entre e se mantenha no Catolicismo Romano tem a cabeça muito melhor e mais densa, ao ponto de ter conseguido equacionar aquela parafernália de meandros ora elevados ora profundos que constituem a sã doutrina, tal como explicada pelo Sagrado Magistério e resumidamente divulgada no Novo Catecismo da ICAR.
Pior, os ditos “convertidos” (tão superficiais ao ponto de pensar que uma mera declaração de fé em Cristo converte alguém!) passam a incorporar imediatamente as figuras – de linguagem – e as viseiras hermenêuticas de uma única compreensão da divindade, como se o fato de Deus ser único reduzisse de alguma forma a sua santa complexidade, ou como se a destruição de um planeta inteiro (incluindo o Homem inteiro em corpo, mente e alma) significasse apenas uma vela que foi apagada pelo vento, bastando para isso Deus reacendê-la. Ora; nem uma coisa nem outra! Um planeta não se destroi com um mero sopro, pois os ventos não alcançam os abismos dimensionais e muito menos as influências gravitacionais das emanações de quem lhe segura em órbita, e por isso uma hecatombe planetária precisa de uma permissão especial de Deus para ocorrer, após a liberação dos anjos ceifeiros do cosmos. Da mesma forma, a teia infinitesimal de pecados em que o enrolado coração humano caiu não pode ser desenrolada sem um esforço voluntário da alma na direção oposta, o que significa mudar a vida toda, de tal sorte que hábitos seculares sejam sustados, gostos abandonados, esforços direcionados, lavagens permitidas até à alma, enfim, uma verdadeira cirurgia cósmica de alta complexidade! E tudo isso com a plena e alegre permissão de cada alma, que geralmente adora sua vida anterior, ama seu modo de ser e gosta demais dos hábitos que adquiriu, acomodando-se no prazer decorrente do uso de sua liberdade pessoal.
Como Deus poderá “mexer” nessa alma? Aliás, como essa alma mexerá em si? Sim, Deus já fez tudo o que precisava e podia fazer na cruz: a parte DELE Ele já cumpriu por inteiro! Porém a parte dele cobre apenas o caminho de volta para o Paraíso: não os vícios mantidos e carregados com tanto prazer! Como Deus poderá lavar vícios que as almas amam sem que elas mesmas permitam a lavagem? Eis aí o problema da mensagem protestante: eles apresentam uma solução bonita (seria linda se fosse 100% verdadeira) mas incapaz de alcançar toda a complexidade da perdição das almas! É lindo dizer que a fé em Jesus salva, mas como salvará sem a voluntária conversão diária e eterna, e sem que as almas estejam constantemente a abrir mão de seus vícios e prazeres secretos? Aqui morre a história das estatísticas a favor da conversão de católicos às igrejas protestantes, e morre a veracidade da interpretação bíblica do protestantismo, afogada em sua mera saliva virótica.
Por que tive que fazer uma introdução tão grande para falar de um milagre especial, chamado Eridam Junior? Porque as histórias de gente que aderiu ao catolicismo na esteira de pais que acostumaram suas crianças a ir à missa todos os domingos; ou de crianças que receberam freiras católicas como professoras de “moral e cívica” em casa; ou de gente que ouviu o padre Abib e decidiu fazer um curso de Espírito Santo no grupo Shalom; ou de gente que ouviu padre Fábio de Melo (que é quase protestante) ou outros padres “populistas” e se sentiu “chamado” para o seio de Maria, ah, essas histórias são tão comuns e prosaicas que “nem fedem nem cheiram”, ou nem significam evento algum, ou que pouca diferença fazem na gloriosa estatística dos verdadeiros santos católicos!
Eu mesmo retornei ao Catolicismo quase sem sair de lá, pois na longa volta que dei fui iluminado constantemente por gente como CS Lewis e GK Chesterton, o primeiro sendo um anglicano com fé em todas – TODAS – as doutrinas católicas, inclusive o Purgatório (que decide tudo), e o segundo sendo ele mesmo católico, e apresentando o Catolicismo do modo mais profundo e sutil de que se tem notícia no meio cristão, desde que católicos começaram a fazer a difícil defesa da fé cristã, muito antes do mundo ter se tornado cada vez mais dividido, confuso e superficial como o mundo pós-moderno.
Assim, tive que fazer a longa introdução porque a adesão (falarei de conversão depois) de uma alma como a de um certo Eridam Junior constituiu um tipo de ocorrência por demais bombástica, embora ele, com a humildade própria dos santos, nunca fez alarde de sua colossal transformação interior, e certamente morreria sem fazer, pois ele também aprendeu com Lewis que estas glórias pessoais não nos cabe fazer, pelo contrário, que somente na alteridade as podemos ouvir, quando vierem da boca de terceiros, se possível, da boca de ex-inimigos.
José Eridam Gonçalves Junior praticamente nasceu na igreja protestante, tendo sido educado e edificado no seio da igreja batista tradicional, da qual ouviu, como discípulo fiel, incontáveis lições da Escola Bíblica Dominical, não apenas sob a orientação vigilante de bons pastores, mas também sob os cuidados e interesses espirituais de sua família, igualmente protestante, e com a mesma trajetória de inculcação à superficialidade doutrinal, com a qual as crianças, adolescentes e jovens “evangélicos” são formados. E os olhos do Senhor estavam sobre ele (“ó pecador tens sorte bendita”, dizia um velho hino cantado em sua igreja) e por ele se debruçaram para levá-lo e elevá-lo a um outro olhar.
Numa certa altura de sua vida, lá pelos idos de 1979, sua igreja viu chegar um outro jovem, este já instruído por CS Lewis, que imediatamente procurou o pastor da igreja para reclamar o espaço que as outras igrejas o haviam negado, e aquele pastor, talvez ainda iludido pela possibilidade de encontrar ali um outro bom dizimista, abriu o espaço para o novo jovem ensinar em sua igreja, e este também se iludiu com a ilusão do pastor, e passou a abrir sua boca como o destilar dos favos, sem deixar escapar nenhuma gota do precioso vinho.
Até que um dia o pastor leu um trecho de CS Lewis que o espantou, e com ele passou a acreditar que aquele jovem tinha interpretado Lewis “lewisianamente”, e assim poderia ensinar “heresias” na sua igreja. Após o baque e a saída compulsória de mais uma igreja em sua vida, o jovem viu Eridam Junior acompanhá-lo ao seu grupo doméstico de estudos, e ali se manter, embora nunca jamais abandonando de vez a sua denominação, enquanto membro de outra igreja batista que tinha um pastor mais “desligado de heresias”. A rigor, poder-se-ia dizer que a saída da primeira igreja, por parte de Eridam, teria sido apenas uma mudança de igreja, e não uma mudança de doutrina. E este quadro perdurou muitos e muitos anos, até os últimos anos da primeira década do Século XXI.
Note que os livros e os ensinos de Lewis da parte do outro jovem continuavam ocorrendo, e o grupo havia se mudado para a residência de um “pastor retirado”, na qual funcionou até meados de 2013 (se bem me lembro). Sinais de mudanças haviam em toda parte. O pastor continuava pastor, mais ou menos como um ex-padre continua padre. Um outro membro do grupo, de boa compleição física, já havia mudado o suficiente para retirar-se sozinho de nossa companhia, encontrando no grupo sinais de outra “heresia”, defendendo sua saída com respostas protestantes (estranhamente).
Desfeito o grupo, qual não foi minha surpresa ao constatar que, Eridam Junior, além de operar mudanças tais de conversões constantes encontradas na vida de todos os grandes santos, havia finalmente conseguido abrir os olhos para a luz inefável de Maria Santíssima, e agora já defendia com alegria, unhas e dentes, sua nova visão do Cristianismo, confessando-se católico apostólico romano em prosa e verso, e em confessionário. Agora uma nova voz de Deus, certeira e poderosa pela boca de uma conversão genuína, se fazia ouvir nos bairros distantes, em igrejas de santos vivos e esculpidos, e se possível pregando a velhos irmãos iludidos pela superficialidade da fé que um dia também o iludiu.
Ali estava uma conversão “explosiva”, ou absolutamente vistosa como rabo de pavão, brilhando na ribalta como brilham os eldila revelados pelo Dr. ER. Era uma alma 100% protestante que chegava, e não que voltava, pois nunca havia sido católico! Por isso mesmo, o Catolicismo para ela deveria ser, pela lógica, 100% inusitado, 100% novo, surpreendente, como diria Lewis ao analisar um fato real. Foi um milagre que nunca ocorreu comigo, pois eu nunca fui 100% protestante, porque “na primeira de copas”, ou cerca de 10 anos antes de “me entregar” à igreja batista, Deus já havia me entregado CS Lewis, e foi Lewis quem me deixou entrever, durante todo o tempo, os mistérios lógicos da doutrina católica e as superficialidades da doutrina protestante. Quando eu passei a frequentar a igreja católica, a igreja já estava dentro de mim há mais de 40 anos! Eridam não tinha a igreja católica dentro dele: ele a abraçou tão firmemente como um filho perdido abraça a sua mãe!
É claro que esta carta aberta é um resumo de todos os fatos, um resumo pobre e dilapidado por uma memória falha, e que precisaria de uma ajuda dele mesmo, Eridam, para ter mais exatidão nas suas lembranças e alegações. Mas não faz mal. Estou feliz por tê-los exposto, antes de me encontrar com ele na Glória (como diriam os protestantes), ou em Nárnia (como diria Lewis), ou no seio de Maria, como diria a Santa Sé. O milagre chamado Eridam Junior possui a grandeza de um coral de anjos celestiais, que trouxeram aos escritores canônicos a notícia de que aquela única alma promoveu mais alegria no Céu do que 99 outras que “nunca haviam pecado”, ou de outras que o medo impediu de brilhar. Quando criança ouvi dizer que voltar à Santa Madre Eclésia era o mesmo que voltar à casa paterna, e por isso posso chamar Eridam de o filho pródigo, sem medo algum de ofendê-lo. Que Deus o guarde até aquele glorioso Dia, quando esta história ganhará a exatidão que merece.
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